A "Juanita Castro" valeu-lhe uma menção especial da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro. E dizia ele que "Juanita Castro é um espectáculo que poderia não ser feito". Eu bem vos avisei.
Miguel Loureiro
Ao longo do seu percurso como actor e encenador, sobretudo nos projectos que promoveu, Miguel Loureiro desenhou um território único, revelador de um imaginário exuberante mas depurado, sustentado por uma sólida e erudita linha de interrogações sobre o teatro e a performance. Em 2008, depois do estival Strange Fruit, a sua encenação de Juanita Castro, de Ronald Tavel (estreado como filme pela mão de Andy Warhol, em 1965), surgiu como uma inesperada pedra no charco no panorama performativo português. Reunindo actores e afectos em torno de um projecto sem outros recursos que os de uma logística básica e camaradagem profissional, Juanita não só firmou um extraordinário sinal da vitalidade do fazer teatral, tantas vezes abafado por ambições desmedidas ou fórmulas gastas, mas também constituiu uma brilhante e oportuna interpelação da história da performance e, consequentemente, do seu lugar nela. Por isto, este projecto mereceu uma menção especial do júri que assim se declara em total desacordo com a afirmação do encenador na folha de sala "Juanita Castro é um espectáculo que poderia não ser feito". Ainda bem que o fez.