4.9.07

Astrid Varnay Canta Wagner




















No dia 4 de Setembro de 2006, Astrid Varnay morria, aos 88 anos de idade. Dela dizia Wieland Wagner, neto do compositor, a propósito das encenações despojadas que produzia em Bayreuth nos anos '50: "Para que quero uma árvore no palco, se tenho Astrid Varnay?"
A sua estreia profissional deu-se em 1941, quando substituiu Lotte Lehmann no papel de Sieglinde (Die Walküre, de Wagner), na Metropolitan Opera de Nova Iorque. Seis dias depois, era Helen Traubel quem estava doente, sendo substituída por Varnay no papel de Brünnhilde. A partir daí, transformou-se numa das principais intérpretes wagnerianas: cantou Isolde, Kundry (Parsifal), Ortrud (Lohengrin), mas também a Elektra de Srauss. Pelo poder de enfeitiçar o público com a sua presença vocal, figura no panteão das grandes cantoras, perto de Kirsten Flagstad e Birgit Nilsson.

O "Despertar de Brünnhilde"*:

               

Estamos perto do final do III acto de Siegfried. Siegfried atravessou as chamas que envolvem o rochedo onde Brünnhilde dorme, desde o beijo da despedida de seu pai, o deus Wotan (no final de A Valquíria, aqui e ali). O jovem herói nunca vira uma mulher antes e fica fascinado com aquela beleza. Pensa tratar-se de um guerreiro. Beija-o na tentativa de o acordar e só então percebe, assustado, que afinal não é um homem. Brünnhilde acorda...

BRÜNNHILDE
Heil dir, Sonne!
Heil dir, Licht!
Heil dir, leuchtender Tag!
Lang war mein Schlaf;
ich bin erwacht.
Wer ist der Held, der mich erweckt'?

Salve, Sol!
Salve, Luz!
Salve, dia glorioso!
O meu sono foi longo;
acordei.
Quem é o herói que me acordou?
SIEGFRIED
(von ihrem Blicke und ihrer Stimme
feierlich ergriffen, steht wie festgebannt)
Durch das Feuer drang ich,
das den Fels umbrann;
ich erbrach dir den festen Helm:
Siegfried bin ich, der dich erweckt'.

(impressionado com o olhar e a voz de Brünnhilde,
fica petrificado)

Penetrei o fogo
que arde em torno do rochedo;
livrei-te do sólido elmo:
O meu nome é Siegfried. Fui eu quem te acordou.
BRÜNNHILDE
(hoch aufgerichtet sitzend)
Heil euch, Götter!
Heil dir, Welt!
Heil dir, prangende Erde!
Zu End' ist nun mein Schlaf;
erwacht, seh' ich:
Siegfried ist es, der mich erweckt!

(sentando-se)
Salve, Deuses!
Salve, Mundo!
Salve, Terra brilhante!
O meu sono chegou ao fim;
acordada, vejo:
Foi Siegfried quem me acordou!
SIEGFRIED
(in erhabenste Verzückung ausbrechend)
O Heil der Mutter, die mich gebar;
Heil der Erde, die mich genährt!
Daß ich das Aug' erschaut,
das jetzt mir Seligem lacht!

(irrompendo num arrebatamento sublime)
Salve, ó Mãe, que me deu à luz!
Salve, ó Terra, que me alimentou!
Para eu ver, feliz,
estes olhos que me riem!
BRÜNNHILDE
(mit größter Bewegtheit)
O Heil der Mutter, die dich gebar!
Heil der Erde, die dich genährt!
Nur dein Blick durfte mich schau'n,
erwachen durft' ich nur dir!

(com grande comoção)
Salve, ó Mãe, que te deu à luz!
Salve, ó Terra, que te alimentou!
Só o teu olhar me poderia ver,
Só para ti poderia acordar!
(Beide bleiben voll strahlenden Entzückens
in ihren gegenseitigen Anblick verloren)
O Siegfried! Siegfried! Seliger Held!
Du Wecker des Lebens, siegendes Licht!
O wüßtest du, Lust der Welt,
wie ich dich je geliebt!
Du warst mein Sinnen,
mein Sorgen du!
Dich Zarten nährt' ich,
noch eh' du gezeugt;
noch eh' du geboren,
barg dich mein Schild:
so lang' lieb' ich dich, Siegfried!

(ambos ficam num encanto resplandecente,
perdidos no olhar um do outro)

Ó Siegfried! Siegfried! Herói bem-aventurado!
Tu acordas a vida, luz vitoriosa!
Se tu soubesses, alegria do mundo,
como eu sempre te amei!
Tu eras o meu pensamento,
a minha inquietação eras tu!
Cuidei de ti,
antes de o sentires.
Antes de nasceres,
protegeu-te o meu escudo.
Amo-te há todo este tempo, Siegfried!

*Brünnhildes Erwachen, com Wolfgang Windgassen, tenor, e a Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera, dirigida por Hermann Weigert, em 1954.