Como Isolde, na encenação de Patrice Chéreau para o Teatro alla Scala (a imagem já não sei de onde veio) |
Numa entrevista publicada há já alguns meses, Waltraud Meier disse o que tinha de ser dito.
Excertos escolhidos, abreviados e em tradução rápida e livre:
Die Welt: Possui uma presença cénica e doseia os gestos de tal modo que, muitas vezes, um simples olhar diz muito mais que um movimento largo.
Waltraud Meier: Isso vem-me do pensamento. O pensamento comanda o corpo. É um processo consciente, uma observação. Os Americanos chamam-lhe "awareness". E depende sempre da situação: o que recebo dos colegas, do cenário, do maestro, das luzes, do guarda-roupa, etc. Trata-se de repensar o texto e dizê-lo fresco. Fico muitas vezes surpreendida pelo modo como o ponho em prática.
(...)
Aprendi muito com grandes encenadores como Klaus-Michael Grüber. Uma revelação foi não antecipar as emoções (...). Há uma outra escola, segundo a qual devemos antecipá-las, de que me afastei porque o espectador precisa de tempo para perceber. Veja-se o exemplo das longas frases de Wagner: só no final, quando chega o verbo, é que se entende o significado da frase. É incompreensível que reajamos cedo de mais a certas palavras-chave.
(...)
DW: É a melhor encenadora de si própria?
WM: Não. De modo nenhum. Fico apenas triste quando não tenho quem me ajude. Gosto muito de trabalhar com Patrice Chéreau. Com ele surge uma arte intemporal, porque ele parte do texto e da psicologia das personagens - para mim, o essencial.
DW: Após épocas tão diferentes como as dos castrati, das divas, dos compositores, dos maestros, reclama-se agora contra o Regietheater ("teatro de encenador"). Em que ponto está a Ópera actualmente?
WM: Quando me falam hoje de Regietheater apanho uma fúria. Sou do tempo do Regietheater, que nasceu há uns trinta ou trinta e cinco anos com pessoas como Götz Friedrich e outros. Isso era Regietheater! O que vemos actualmente nos palcos não merece esse nome. Já há pouquíssima gente com a preparação suficiente para esse trabalho. Encenar é mais que ter umas quantas fantasias sobre uma peça. É analisar a música, compreender a filosofia, investigar a psicologia. Uma mão-cheia de imagens espectaculares para enfeitiçar não me chega. Esta arbitrariedade pós-moderna desperta no público apenas tédio. O que vemos actualmente nos palcos são clichés novos a substituírem clichés antigos.
DW: Do que sente mais a falta na Ópera, actualmente?
WM: Da seriedade, da profundidade. E de sensações fortes. Pense no grandioso Anel do Nibelungo de Harry Kupfer em Bayreuth, com as suas imagens intensas, em que os elementos da obra de arte total estão interligados. Hoje, pelo contrário, muito do que se faz é apenas banal, superficial, kitsch moderno.
(...)
DW: Em que mudou a audição musical?
WM: As pessoas que nos ouvem já só raramente cantam ou tocam um instrumento. Ajuda muito saber como se produz um som, daí ser tão importante a educação musical. Repare: de que falam as pessoas depois da Ópera? Apenas do que viram. Já quase não falam do que ouviram. Esta sobrevalorização do elemento visual é incrivelmente patética!
(...)
Waltraud Meier: Isso vem-me do pensamento. O pensamento comanda o corpo. É um processo consciente, uma observação. Os Americanos chamam-lhe "awareness". E depende sempre da situação: o que recebo dos colegas, do cenário, do maestro, das luzes, do guarda-roupa, etc. Trata-se de repensar o texto e dizê-lo fresco. Fico muitas vezes surpreendida pelo modo como o ponho em prática.
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Aprendi muito com grandes encenadores como Klaus-Michael Grüber. Uma revelação foi não antecipar as emoções (...). Há uma outra escola, segundo a qual devemos antecipá-las, de que me afastei porque o espectador precisa de tempo para perceber. Veja-se o exemplo das longas frases de Wagner: só no final, quando chega o verbo, é que se entende o significado da frase. É incompreensível que reajamos cedo de mais a certas palavras-chave.
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DW: É a melhor encenadora de si própria?
WM: Não. De modo nenhum. Fico apenas triste quando não tenho quem me ajude. Gosto muito de trabalhar com Patrice Chéreau. Com ele surge uma arte intemporal, porque ele parte do texto e da psicologia das personagens - para mim, o essencial.
DW: Após épocas tão diferentes como as dos castrati, das divas, dos compositores, dos maestros, reclama-se agora contra o Regietheater ("teatro de encenador"). Em que ponto está a Ópera actualmente?
WM: Quando me falam hoje de Regietheater apanho uma fúria. Sou do tempo do Regietheater, que nasceu há uns trinta ou trinta e cinco anos com pessoas como Götz Friedrich e outros. Isso era Regietheater! O que vemos actualmente nos palcos não merece esse nome. Já há pouquíssima gente com a preparação suficiente para esse trabalho. Encenar é mais que ter umas quantas fantasias sobre uma peça. É analisar a música, compreender a filosofia, investigar a psicologia. Uma mão-cheia de imagens espectaculares para enfeitiçar não me chega. Esta arbitrariedade pós-moderna desperta no público apenas tédio. O que vemos actualmente nos palcos são clichés novos a substituírem clichés antigos.
DW: Do que sente mais a falta na Ópera, actualmente?
WM: Da seriedade, da profundidade. E de sensações fortes. Pense no grandioso Anel do Nibelungo de Harry Kupfer em Bayreuth, com as suas imagens intensas, em que os elementos da obra de arte total estão interligados. Hoje, pelo contrário, muito do que se faz é apenas banal, superficial, kitsch moderno.
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DW: Em que mudou a audição musical?
WM: As pessoas que nos ouvem já só raramente cantam ou tocam um instrumento. Ajuda muito saber como se produz um som, daí ser tão importante a educação musical. Repare: de que falam as pessoas depois da Ópera? Apenas do que viram. Já quase não falam do que ouviram. Esta sobrevalorização do elemento visual é incrivelmente patética!
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Waltraud Meier como Kundry, na encenação de "Parsifal" por Harry Kupfer: