14.4.10

Vale Tudo

Cardeal Bertone


Andou a ICAR toda a vida a querer fazer passar a ideia de que os seus sacerdotes eram assexuais, voluntariamente celibatários e castos por opção - discutir a sexualidade de um padre era como discutir a dos anjos -, para agora ter de assumir publicamente que eles afinal são homens, logo, iguais às outras pessoas. Sentem desejos, talvez paixão, inveja, ciúme, enfim, tudo o que é natural que se sinta sendo humano. Ou seja: eles, membros do clero, estão acima de todos nós, mas, se convier, para salvar a honra do convento, deixam de estar, transformando-se em pessoas iguais a toda a gente.

Até aí, estamos de acordo: eles são iguais a toda a gente e deveriam ter direito, também, à sua vida sexual. Já não me parece tão normal que altos funcionários da dita instituição venham agora dar tudo por tudo, numa tentativa desesperada de ficar bem na fotografia, comparando o incomparável (a carta de um amigo judeu do pregador oficial do papa veio mesmo a calhar, o pior foi a afronta ser tão grave que desencadeou a onda de protestos que se viu), associando o que não é associável (a França já condenou as palavras do cardeal Bertone) ou trasladando o peso do pecado, carregado desde Eva pelas mulheres, para as crianças (o bispo de Tenerife terá declarado que hay menores que desean el abuso e si te descuidas te provocan em 2007, mas as suas palavras vieram agora novamente à baila). Como escreveu Fernanda Câncio, anything goes.