28.12.09

Nos Bastidores da Ópera



É uma proposta para as terças-feiras de Janeiro de 2010, sempre às 18h30, na Culturgest. Trata-se de um novo ciclo de conferências por Paolo Pinamonti.

5 de Janeiro
Canto, afecto, personagem

12 de Janeiro
A Literaturoper, quando desaparece o libretista

19 de Janeiro
O ‘teatro de encenação’, existe ou não uma tradição na encenação da ópera lírica?

26 de Janeiro
Teatro de repertório, teatro a stagione, festival: qual o futuro do teatro lírico?

Jeremias Fisher


01-01-2010 a 04-01-2010 
 
JEREMIAS FISHER - A HISTÓRIA DO MENINO PEIXE | Ópera de câmara com música de Isabel Aboulker  
 

“Esta história é para as crianças solitárias. Ou que se tornarão um dia.”
É esta a dedicatória que Mohamed Rouabhi escreve na sua peça Jeremy Fisher.
Uma forma comovedora de introduzir a história deste menino, filho de uma família de pescadores que nasce sob o signo de Peixes e que de metamorfose em metamorfose se vai transformando num menino peixe, até chegar a hora de ir finalmente viver para o oceano.

É preciso muito amor e inteligência, por parte dos pais, para o aceitarem como ele é – diferente de todos os outros meninos –, e ainda mais para aceitarem que o têm de deixar partir, porque se não o fizerem Jeremias não poderá viver nem ser feliz. Uma metáfora para a transformação que todos nós sofremos ao longo do crescimento, em que deixamos de ser crianças dependentes dos nossos pais, para sermos adultos que precisam de partir para a sua própria vida. Uma ópera de uma simplicidade, poesia e profundidade arrebatadoras.

Intérpretes
Judith CATARINA MOLDER
Tom LUÍS RODRIGUES
Médico ARMANDO POSSANTE

PREÇOS
Dias úteis  3€
Fim-de-semana e feriados 5€  
Levai os petizes ao CCB. Toda a informação aqui.

12.11.09

Encenadores perturbados pela matéria épica*

Elisabete Matos estreou-se há dias como Cassandre na ópera "Les Troyens", de Berlioz, no Palau de les Arts Reina Sofía, em Valência. O maestro destes Troianos é Valery Gergiev e a encenação é de Carlus Padrissa (La Fura dels Baus). Hoje, 12 de Novembro, terá lugar a última récita.

©Tato Baeza / Palau de les Arts Reina Sofía
O Dissoluto Punito chamou a atenção para uma crítica do El País que menciona alguns aspectos negativos da encenação e enaltece a direcção de orquestra, a prestação da cantora Daniela Barcellona e a estupenda Casandra de Elisabete Matos. Entre várias outras críticas que encontrei, achei também interessante uma do The New York Times que diz o seguinte:


The most compelling of the three leading principals is Elisabete Matos, whose delivery of the prophetess Cassandra’s vain pronouncements had real urgency and was supported by radiant tone. I wish, however, that she had remained in the dignified flowing black dress she wore during Act 1 (costumes by Chu Uroz) instead of changing into pants with soccer-style kneepads for her scene with the Trojan women.


Adenda: Ler Bernardo Mariano no DN.



*Título roubado ao Raul.

3.11.09

O Ágrafo


Mais ou menos a um terço do seu caminho, o período começou a esboroar-se, a escapar ao meu sentido. Era um período longo, que se prestava a desmandos. Como se o tamanho fosse desculpa. Retomei-o do início várias vezes para obter sempre, no mesmo ponto, o mesmo resultado. E esse ponto era aquela contracção, uma contracção que desarranjava o período. Uma contracção que me desarranjava e transportava o mundo para a turbulência da sua infância. (...)


O ágrafo do Eduardo está de volta.

22.10.09

"Götterdämmerung" - Crepúsculo dos Deuses em São Carlos

Por falta de tempo, ou de disposição, ainda não tinha escrito sobre o final da tetralogia "O Anel do Nibelungo" no Teatro de São Carlos. Rapidamente e em forma quase telegráfica, eis a minha opinião sobre este "Crepúsculo dos Deuses":

Da encenação de Graham Vick
  • A sensação que fica é a de que o senhor não gosta de Wagner e, por isso, sempre que a orquestra toca um interlúdio (a Viagem de Siegfried no Reno, a Marcha Fúnebre de Siegfried), aparece uma movimentação de figurantes barulhentos com a única função de distrair o espectador, não vá ele aborrecer-se.
  • O final engendrado pelo encenador deturpa completamente a visão que o compositor e libretista Richard Wagner nos queria transmitir: após a imolação de Brünnhilde e o incêndio de Walhall, com o decorrente fim dos deuses, Gutrune mata Hagen e suicida-se (!). Para quem foi, ou for, a São Carlos, aqui fica o aviso: a história não acaba assim. Com a sua ganância pelo poder do anel, Hagen segue as Filhas do Reno, que o recuperaram das cinzas de Brünnhilde, e é arrastado por elas para as profundezas do rio. É também óbvio que Wagner nunca imaginou que o mundo dos deuses pudesse acabar com um par a dançar uma valsa. Fará sentido?
Do maestro e da orquestra
  • Na récita a que assisti (15 de Outubro), foi a orquestra o que mais me impressionou. Parece-me que o maestro Letonja e a própria orquestra têm vindo a assimilar a música de Wagner e estiveram muito bem, principalmente a partir da morte de Siegfried e até à cena final. Um ou outro deslize não comprometeram a récita.
Dos cantores
  • Susan Bullock, embora com algumas dificuldades ao longo da récita (a voz denotou alguma estridência), compôs muito bem a sua dificílima cena final.
  • Stefan Vinke tem uma voz fortíssima mas não é agradável e falta-lhe o lirismo necessário ao dueto do prólogo. No entanto, esteve melhor que em "Siegfried", onde o seu papel é muito mais exigente.
  • Sónia Alcobaça poderá ainda não ter a voz totalmente madura para o papel de Gutrune e, dependendo do local onde se está sentado no teatro, é mais ou menos abafada pela orquestra (um problema que se generaliza aos restantes cantores, devido à deslocalização do palco para a plateia - uma ideia interessante de Vick, mas que provou ter um efeito nefasto logo no início de "O Ouro do Reno", a menos que o espectador privilegie o efeito teatral e se esteja nas tintas para as notas que Wagner passou décadas a escrever).
  • Julia Oesch é a valquíria Waltraute, irmã de Brünnhilde, com quem canta uma cena fundamental para o desenrolar da acção e da música. Graham Vick lembrou-se agora que podia utilizar bailarinos no papel de cavalos e ela entra em cena montada nos ombros de um rapaz. O efeito é interessante, ela é jovem, loura, magra, tem aquilo a que sói chamar-se uma cinturinha de vespa, e deve ter sido essa a razão que levou à sua escolha para o papel. Não vejo outra, uma vez que ela mal se ouvia.
  • Johann Werner Prein continua a ser um Alberich competentíssimo.
  • De Michael Vier (Gunther) e de James Moellenhoff (Hagen), nada a acrescentar.
  • Nornas e Filhas do Reno, enfim.

Susan Bullock (Brünnhilde)

Grane (o cavalo de Brünnhilde)

Sónia Alcobaça (Gutrune)

Alberich (Johann Werner Prein)
e o filho Hagen (James Moellenhoff)

(Imagens da página do Teatro Nacional de São Carlos no Facebook)

Adenda 1: Segundo informa a Renascença, a récita de dia 27 de Outubro será transmitida também via Internet, com legendagem em Português, em www.saocarlos.pt.

Adenda 2: Um dos figurantes caiu no fosso num dos momentos em que o chão se abre para entrarem ou saírem pessoas e objectos. Espero que não tenha ficado muito magoado.

14.10.09

Crepúsculo al fresco

Já decorreram duas récitas de "Götterdämmerung" no Teatro de São Carlos e vêm aí mais cinco. A segunda foi transmitida em directo pela Antena 2, no passado dia 12, e quem quiser ver que desfecho engendrou Graham Vick para a saga do Anel pode também assistir às récitas de 24 e 27 de Outubro em grande ecrã no Largo de São Carlos. O calendário completo da Ópera ao Largo está aqui. A apresentação integral da tetralogia em São Carlos foi já anunciada para 2011.

(Imagem da newsletter do TNSC)

O Ornitologia entrevistou o encenador Graham Vick (ouvir aqui).

6.10.09

Amália

Por alguma razão obscura nunca consigo lembrar-me do nome da avenida que percorre o alto do Parque Eduardo VII, logo eu, que gosto tanto de cerejeiras. Ainda há dias estava lá, parado, a admirar a vista sobre Lisboa, a luz outonal esplendorosa, quando alguém me perguntou como se chamava a dita artéria.
- Não sei. Isto é o Parque Eduardo VII, ali é o Jardim Amália Rodrigues, a avenida, sinceramente, não sei.

Hoje Lisboa está vestida de cinzento carregado. Animemos.


5.10.09

Portuguesa


Robert Delaunay, 1916, Museo Thyssen-Bornemisza

99 Anos

Os meus amigos monárquicos concordarão que nem tudo é mau nesta república. Há mesmo uma coisa fantástica: de cinco em cinco anos podemos escolher um presidente novo.

Campino - Golegã

3.10.09

Anne Sofie von Otter - Rosamunde

Anne Sofie von Otter cantou ontem na Gulbenkian, para quem pôde lá estar, um programa baseado no disco Terezín · Theresienstadt, do qual constam canções de autores judeus que viveram nesse campo de concentração: Pavel Haas, Hans Krása, Erwin Schulhoff, Ilse Weber, Viktor Ullmann e outros. Experimente ouvir um pouco de Ich wandre durch Theresienstadt, de Ilse Weber.

No Câmara Clara do passado Domingo, enquanto os Portugueses faziam zapping entre os vários canais, escutando os vários painéis de comentadores e tentando saber qual das projecções viria a aproximar-se mais do resultado final, Paula Moura Pinheiro, Richard Zimler e João Paulo Esteves da Silva tinham uma interessante conversa sobre a criação artística em Terezín. O programa está disponível aqui.

Entretanto a Lua está cheia e brilha sobre a montanha: Der Vollmond strahlt auf Bergeshöh'n, de Schubert (música de cena para a peça "Rosamunde").

(Meyerbeer1)

25.9.09

Melodia Interrompida

"Interrupted Melody" é um filme de 1955 que narra a vida da cantora australiana Marjorie Lawrence, a primeira Brünnhilde1 a lançar-se com o seu cavalo Grane para as chamas na cena final de "Götterdämmerung", tal como Wagner escreveu no libreto. Foi no Met de Nova Iorque, em 1936.

(Martha Crawford-Cantarini dobrando Eleanor Parker)


A partir de 1941, a poliomielite obrigou-a a interromper a sua carreira, mas Marjorie Lawrence ainda regressaria aos palcos, interpretando as personagens de Venus, Isolde e outras, sentada numa cadeira ou reclinada numa plataforma especialmente desenhada para ela pelo marido.



Eleanor Parker interpretou a personagem da cantora e obteve uma nomeação para o Óscar de melhor actriz. Para "Interrupted Melody", foi Eileen Farrell quem deu a voz a Marjorie Lawrence. Consta que ela criticou no filme a falta de rigor e fidelidade à sua vida. Eu nunca o vi.
E o trailer:




24.9.09

A Tosca do Met


George Gagnidze, como Scarpia, e Karita Mattila, como Tosca

O Ópera e Demais Interesses já tinha falado da abertura da temporada do Met, com Karita Mattila e Marcello Álvarez nos papeis de Floria Tosca e Mario Cavaradossi. Consta que o público não gostou da encenação de Luc Bondy, certamente bem mais despojada de apetrechos decorativos que a  anterior "Tosca" de Franco Zeffirelli, e apupou. Permito-me imaginar o que aconteceria a Graham Vick, Calixto Bieito e afins, se eles apresentassem as suas produções em Nova Iorque.

[A propósito de Graham Vick, estreia já no próximo dia 9 de Outubro, no Teatro de São Carlos, o seu "Crepúsculo dos Deuses".]

Aqui em baixo, não se vê, mas ouve-se como foi o início do dueto de Tosca com Cavaradossi ainda há poucos dias no Met:
-Mario! Mario! Mario!
-Son qui.

(Operalou)

16.9.09

Dia de Callas


(ver aqui)

Maria Callas foi encontrada sem vida há 32 anos, no dia 16 de Setembro de 1977, no seu apartamento da Avenue Georges Mandel.

15.9.09

O Jardim do Marquês

Os jardins do palácio do Marquês de Pombal1, em Oeiras, reúnem condições para estarem incluídos no clube dos mais interessantes jardins históricos da zona de Lisboa: um palácio de veraneio da segunda metade do século XVIII, construído pelo húngaro Carlos Mardel (um dos arquitectos do Aqueduto das Águas Livres e da Baixa Pombalina), e cerca de quatro hectares de área verde atravessados por um canal outrora navegável.
Tudo estaria bem se o jardim não aparentasse ser objecto de uma grande falta de cuidado: a vegetação bravia cobre o leito do canal; o Jardim da Água, com a Fonte das Quatro Estações, está seco; o Jardim das Plantas Aquáticas parece abandonado; contentores coloridos para separação do lixo, quais instalações artísticas, exibem-se no meio dos relvados ou em outros pontos estratégicos.

1 - Foi este palácio que albergou a colecção de arte de Calouste Gulbenkian antes da construção do Museu Gulbenkian.

Araucárias - Palácio Pombal - Oeiras
O Jardim das Flores e o Terraço das Araucárias

Ler mais:
Wikipédia
Câmara Municipal de Oeiras
Guia da Cidade

8.9.09

Árvores de Portugal


Árvores de Portugal é um novo blogue da associação com o mesmo nome, conta com a participação de vários autores e tem como objectivo a divulgação do nosso património arbóreo. Visite-o, se gosta de árvores, e saiba aqui como colaborar, enviando notícias ou partilhando fotografias. Eu também lá estou e em óptima companhia.

Em Casa de Jorge de Sena

(Este texto foi enviado por Jorge Rodrigues, co-autor do programa "Esferas" da CSB Rádio.)

EM CASA DE JORGE DE SENA

Em fins de Maio pedi a Mécia de Sena que me desse uma longa entrevista para, com a mesma, alicerçar a “Semana Jorge de Sena” que o programa ESFERAS da CSB Rádio vai transmitir a partir de 28 de Setembro. Depois do seu simpático assentimento tratei de tudo: viagem, leituras, e tudo aquilo que é necessário para uma viagem destas – inclusive, declarar à Emigração dos EUA que nunca fui comunista, terrorista, e outras calamidades tais. Por coincidência espantosa recebi, dias depois de tudo combinado, uma carta de Mécia de Sena informando-me que Portugal finalmente iria receber os restos mortais do escritor. O seu a seu dono: a ideia partiu do actual Ministro da Cultura.

Isso não me coibiu de partir, obviamente, e, assim, cheguei a Santa Barbara, Califórnia, perto de Los Angeles, e estou desde então hospedado naquela que foi a última morada do escritor, onde a viúva ainda habita. E em Santa Barbara, na sua Universidade, o último local onde leccionou, Jorge de Sena é uma figura mítica. Continua a ser!

Têm sido dias estranhos: por um lado, este período suscita a Mécia de Sena recordações, saudades, revolta pelo facto de só passados 30 anos estar a acontecer o regresso do escritor a Portugal; por outro, felicidade por isso finalmente se realizar. Claro que não vou aqui contar o que ela me tem dito (têm sido dias e dias de conversa, e isso ficará para o programa radiofónico), mas o que me é mais estranho é habitar o espaço do escritor: utilizar a mesa onde ele tomava as refeições, pegar nos livros dele, ter a sua biblioteca à minha disposição, manejar os seus objectos e papeis, ver as suas fotografias, ouvir os seus discos – sim, aqueles mesmo de que ele fala no seu livro “Arte de Música”! – e ter a sensação de que ele continua vivo, não em estatuto (obviamente que assim continuará), mas mesmo em carne e osso, como se ele fosse entrar por aquela porta agora mesmo.

A casa é uma biblioteca, com milhares e milhares, e milhares de volumes, e estou neste momento a escrever num dos quartos, aquele em que estão os livros de biografias e da literatura brasileira. Mécia de Sena deixou tudo organizado como estava (dos livros falo, e do seu local e arrumação), e, assim, há a secção de história, a secção de literatura francesa, a de literatura inglesa, e por aí fora. Mécia de Sena tem passado os últimos 30 anos a sistematicamente arrumar, catalogar, salvar tudo o que é documento e recordação. Portugal dever-lhe-á ter um acervo absolutamente impecável e organizado – estive, por exemplo, há pouco, com o programa de um “Don Carlo” que Sena ouviu em São Carlos, aquele com Christoff, Bergonzi, Cerquetti, Simionato... tremeram-me as mãos, mas é natural: imaginar que ele o segurou durante toda a récita, há já mais de 50 anos.

E há a Califórnia, há o sol, houve no passado dia 6 a tal lua que deixou a “noite inchada”, e há, da minha parte, uma intensa comoção. Isto é um texto à pressa; serve apenas para partilhar contigo, Paulo, a maravilha e a exaltação que têm sido para mim estes dias.

Recebe um abraço deste português “comovido a oeste”

Jorge

7.9.09

Só uma perguntinha

No local onde param os autocarros de turismo e se encontram as lojinhas de recordações e as esplanadas das roulottes, existem também duas ou três pequenas construções de pedra que conservam os detritos que os humanos deixam quando estão de visita à Torre de Belém. Em dias de grande afluência de público assiste-se frequentemente a este espectáculo: os contentores transformam-se em pirâmides transbordantes de latas, garrafas e sacos de plástico que os fortes ventos de fim de tarde levam esvoaçando até ao Tejo, como veríamos nesta imagem se ela fosse um filme.

Ora a perguntinha é: o que fazem ali aqueles contentorzinhos?


6.9.09

Gwyneth Jones - D'amor sull'ali rosee

Estava a ver uma entrevista de 1994 em que a magnífica Dame Gwyneth Jones conversava descontraidamente com o encenador August Everding sobre a sua carreira, maestros, encenadores, críticos e récitas. É em Alemão e não tem legendas, mas está ilustrada com alguns excertos preciosos de interpretações da cantora galesa.

E depois encontrei um vídeo que no-la mostra na sua estreia em Covent Garden, em 1964, como Leonora de "Il Trovatore", apanhada à pressa para substituir Leontyne Price. A encenação era de Visconti e Giulini dirigia a orquestra da Royal Opera House.

D'amor sull'ali rosee

(coloraturafan)

D'amor sull'ali rosee
Vanne, sospir dolente:
Del prigioniero misero
Conforta l'egra mente...
Com'aura di speranza
Aleggia in quella stanza:
Lo desta alle memorie,
Ai sogni dell'amor!
Ma deh! non dirgli, improvvido,
Le pene del mio cor!

3.9.09

O Parque de Águeda

O Parque Municipal de Alta Vila cresceu numa colina sobranceira ao rio Águeda e deve-se, segundo se lê numa placa à entrada do parque, ao espírito empreendedor do Dr. Eduardo Caldeira que, na segunda metade do século XIX, transformou um pequeno e escalvado planalto, localizado no centro de Águeda, num majestoso "oásis" povoado de árvores raras e exóticas e belos jardins com equipamentos de lazer. Mais tarde a quinta foi vendida e, posteriormente, adquirida pela Câmara Municipal de Águeda.
Lá podemos encontrar tílias grandiosas, um belo exemplar de cedro, palmeiras, o que me parece ser uma Thuja plicata1 e uma pequena floresta de bambus. Já o lago, os canteiros, os caminhos e as falsas ruínas de gosto romântico tardio mereciam estar mais bem cuidados. Nada a que não estejamos habituados, no entanto.

1 - Correcção: segundo Maria Carvalho, trata-se de um cipreste-do-Buçaco (Cupressus lusitanica).

Cedro
Cedro-do-Líbano

Thuja plicata?
Thuja plicata?
Cupressus lusitanica (segundo Maria Carvalho)

Bambus
Bambus
Bambuzal

26.8.09

Die Seeräuber-Jenny,

ou quando os electrodomésticos resolvem fazer greve e nos obrigam a lavar copos e pratos.

Em duas versões à escolha do cliente: por Lotte Lenya, mulher do compositor Kurt Weill, e por Gisela May, grande senhora do teatro alemão que ficará para sempre ligada à história do Berliner Ensemble e da interpretação das obras de Brecht e Weill.

(rongcentury)

(vaimusic)



Die Seeräuber-Jenny

Meine Herren, heute sehen Sie mich Gläser abwaschen
Und ich mache das Bett für jeden.
Und Sie geben mir einen Penny und ich bedanke mich schnell
Und Sie sehen meine Lumpen und dies lumpige Hotel
Und Sie wissen nicht, mit wem Sie reden.
Und Sie wissen nicht, mit wem Sie reden.
Aber eines Tags wird ein Geschrei sein am Hafen
Und man fragt: Was ist das für ein Geschrei?
Und man wird mich lächeln sehn bei meinen Gläsern
Und man fragt: Was lächelt die dabei?

Und ein Schiff mit acht Segeln
Und mit fünfzig Kanonen
Wird liegen am Kai.

Meine Herren, da wird wohl ihr Lachen aufhören
Denn die Mauern werden fallen hin
Und am dritten Tage ist die Stadt dem Erdboden gleich.
Nur ein lumpiges Hotel wird verschont von jedem Streich
Und man fragt: Wer wohnt Besonderer darin?
Und man fragt: Wer wohnt Besonderer darin?
Und in dieser Nacht wird ein Geschrei um das Hotel sein
Und man fragt: Warum wird das Hotel verschont?
Und man sieht mich treten aus der Tür gen Morgen
Und man sagt: Die hat darin gewohnt?

Und ein Schiff mit acht Segeln
Und mit fünfzig Kanonen
Wird beschiessen die Stadt.

Und es werden kommen hundert gen Mittag an Land
Und werden in den Schatten treten
Und fangen einen jeglichen vor jeglicher Tür
Und legen ihn in Ketten und bringen ihn mir
Und mich fragen: Welchen sollen wir töten?
Und mich fragen: Welchen sollen wir töten?
Und an diesem Mittag wird es still sein am Hafen
Wenn man fragt, wer wohl sterben muss.
Und da werden Sie mich sagen hören: Alle!
Und wenn dann der Kopf fällt, sage ich: Hoppla!

Und das Schiff mit acht Segeln
Und mit fünfzig Kanonen
Wird entschwinden mit mir.

Brecht/Weill, Die Dreigroschenoper

6.8.09

Lua Cheia

E a ninfa, apaixonada pelo príncipe que costuma banhar-se no lago onde ela vive, deseja tornar-se humana para poder abraçá-lo. São-lhe impostas duas cláusulas: nunca falará e, se o seu príncipe lhe for infiel, ela voltará para o mundo aquático e ele morrerá.
Rusalka será sempre uma inadaptada. No mundo dos homens, sofre pela sua condição primordial de sereia e não fala; retornando ao mundo dos seres aquáticos, ela já não é um deles, pois foi-lhe dada uma alma humana.

É com exigências deste teor e outras ainda mais bárbaras, determinadas pela implacável Natureza ou pela inexorabilidade dos homens, que ninfas e nós temos de viver.

(Foly90)


Měsíčku na nebi hlubokém,
světlo tvé daleko vidí,
po světě bloudíš širokém,
díváš se v příbytky lidí.
po světě bloudíš širokém,
díváš se v příbytky lidí.

Měsíčku, postůj chvíli,
řekni mi, řekni, kde je můj milý!
Měsíčku, postůj chvíli,
řekni mi, řekni, kde je můj milý!

Řekni mu, stříbrný měsíčku,
mé že jej objímá rámě,
aby si alespoň chviličku
vzpomenul ve snění na mne.
aby si alespoň chviličku
vzpomenul ve snění na mne.

Zasvěť mu do daleka, Zasvěť mu
řekni mu, řekni, kdo tu naň čeká!
Zasvěť mu do daleka, Zasvěť mu
řekni mu, řekni, kdo tu naň čeká!

O mně-li, duše lidská sní,

ať se tou vzpomínkou vzbudí;
měsíčku, nezhasni, nezhasni!
nezhasni, nezhasni!

Sem título - III

vila nova de cerveira

vila nova de cerveira
Sedum brevifolium? (arroz-dos-muros, arroz-dos-telhados) >
(Obrigado, Teresa. Entretanto, no Dias com árvores...)

5.8.09

Reis, Filhos


Onde a rua de Santa Catarina entronca com a rua 31 de Janeiro encontra-se uma antiga ourivesaria, transformada agora em loja de artigos de desporto. Vale a pena entrar, nem que se aprece um par de ténis, e olhar para cima. Depois, tome um café no Majestic e siga para a Lello.

Reis, Filhos

Reis, Filhos

Reis, Filhos

Reis, Filhos

3.8.09

À Música

Elisabeth Schwarzkopf
(9 de Dezembro de 1915 – 3 de Agosto de 2006)

(baritonoguapo)


An die Musik

Du holde Kunst, in wieviel grauen Stunden,
Wo mich des Lebens wilder Kreis umstrickt,
Hast du mein Herz zu warmer Lieb' entzunden,
Hast mich in eine bess're Welt entrückt!

Oft hat ein Seufzer, deiner Harf' entflossen,
Ein süßer, heiliger Akkord von dir
Den Himmel bess'rer Zeiten mir erschlossen,
Du holde Kunst, ich danke dir dafür!

Oh arte preciosa, em quantos momentos amargos,
Quando a selvagem roda da vida me apertava,
Acendeste no meu coração a chama do amor,
Me levaste para um mundo melhor!

Muitas vezes um suspiro, fluindo da tua harpa,
Um doce e sagrado acorde vindo de ti,
Me mostrou um céu de melhores tempos.
Arte abençoada, eu te agradeço.

Duas obras de Mozart descobertas

A Fundação Internacional Mozarteum declarou duas pequenas peças para piano que se encontram no Livro de Música de Nannerl (a irmã Maria Anna) como sendo composições originais de Mozart. Pensam os peritos que o jovem Wolfgang contaria à época uns sete ou oito anos de idade e ainda não dominava a escrita musical. Era o pai, Leopold Mozart, quem transcrevia as notas para a pauta enquanto o pequeno as tocava ao piano.
A Internationale Stiftung Mozarteum já nos deixa ouvir as gravações (um prelúdio e um andamento de concerto). Ide .

30.7.09

Suggia toca Haydn

Guilhermina Suggia morreu há 59 anos


Madame Suggia, por Augustus John (Tate Collection)

(...) Apesar da agudização da situação financeira, o regresso de Guilhermina foi adiado sucessivamente até à sua apresentação histórica no concerto comemorativo do aniversário da orquestra Gewandhaus em 26 de Fevereiro de 1903. Tinha apenas 17 anos. Nunca um intérprete tão jovem havia actuado com a orquestra, muito menos como solista e menos ainda do sexo feminino. O êxito foi total e, face aos pedidos do público, o maestro pediu-lhe que repetisse toda a actuação. Começava aqui o seu sucesso internacional.
(...)
(in Wikipedia)

Guilhermina Suggia interpreta o adagio do concerto para violoncelo em ré maior de Haydn, que gravou em 1928. O maestro é John Barbirolli e o disco é este.

Sem título - I

Campanula medium (Canterbury Bells)

23.7.09

Maria de Nisa

A Maria é uma jovem cegonha que perdeu os seus pais devido à secura alentejana. Consta que partiram para longe, talvez em busca de outras águas. A população de Nisa adoptou-a e alimenta-a e ela passeia bem disposta pelas ruas e praças da vila.

E a propósito de águas, no dia 1 de Agosto inaugura o novo complexo termal da Fadagosa de Nisa, onde Joana Vasconcelos exporá mais uma das suas Valquírias. Esta é inspirada no artesanato de Nisa e nos enxovais que tradicionalmente integravam os dotes das noivas nisenses.





15.7.09

Magdalena Kozená au Festival d'Aix-en-Provence

Entretanto, para quem não pôde dar um saltinho no dia 6 de Julho ao Théâtre du Jeu de Paume, em Aix-en-Provence, aqui fica o registo do concerto.

Magdalena Kozená e o agrupamento Private Musicke interpretam música italiana do séc. XVII, de Giulio Caccini, Sigismondo D'India, Giovanni Paolo Foscarini, Biaggio Marini, Michelangelo Rossi, Francesco Corbetta, Luis de Briceno, Corbetta, Gaspar Sanz, Giovanni Maria Trabacci, Claudio Monteverdi, Barbara Strozzi, Tarquinio Merula e Girolamo Kapsberger.

Lettere amorose



Mezzo soprano Magdalena Kozená
Private Musicke (direction et guitare baroque)
Pierre Pitzl
Private Musicke (guitare baroque)
Hugh Sandilands
Private Musicke (colacione)
Daniel Pilz
Private Musicke (harpe)
Reinhild Waldeck
Private Musicke (violone)
Richard Myron
Private Musicke (orgue)
Norbert Zeilberger
(Fonte)

A Nova Temporada

(Foto de Alfredo Rocha, no site do TNSC)

Parece que foi finalmente apresentada a programação para a temporada de 2009/2010. Contudo, o site do Teatro Nacional de São Carlos ainda espera actualização, razão pela qual se desconhecem os detalhes da dita. Sabe-se que o desfecho d'O Anel de Graham Vick chega em Outubro, com "O Crepúsculo dos Deuses" a inaugurar a estação que inclui nove óperas (repartidas por 65 récitas), 12 concertos sinfónicos, 12 espectáculos de bailado (cujos títulos serão apenas divulgados amanhã na conferência de imprensa da Companhia Nacional de Bailado) e 50 programas adicionais.

Então teremos também "Trouble in Tahiti", "L'Ocasione Fa il Ladro", "O Morcego" (com a participação de Maria Rueff [*]), "As Bodas de Figaro", "Eugene Onegin" e, do lado das óperas a bem dizer desconhecidas, uma barroca - "Niobe, Regina di Tebe", de Agostino Steffani - e uma portuguesa - "Dona Branca", de Alfredo Keil, baseada no poema de Almeida Garrett -. O artigo do Público dá mais algumas informações sobre a programação, mas muito poucas sobre os elencos. Adianta, sim, que eles estão muito satisfeitos com a "abertura do teatro à comunidade" e com a "democratização do acesso à cultura".

* Várias notícias mencionam a participação de Maria Rueff na opereta "O Morcego", mas não li nenhuma menção aos intérpretes dos principais papéis. Talvez isso seja um assunto de pouca importância. De igual modo, anuncia-se que Stefan Vinke será novamente Siegfried e Michael Sheler desempenhará o papel de Gunther, em "Götterdämmerung", mas continuamos a não saber se Susan Bullock volta como Brünnhilde.

ADENDA: O site do TNSC apareceu renovado e já disponibiliza a informação sobre os elencos. Susan Bullock deverá regressar como Brünnhilde.

9.7.09

D'amor sull'ali rosee



Vorrei donarti una rossa gerbera coi colori della passione
ed una rosa gialla densa di gelosia
ed una margherita pura come il tuo sorriso
ed un giacinto col profumo del sole
e avvolgerli tutti col colore del cielo.

Mara Zampieri, 1982


D'amor sull'ali rosee, de "Il Trovatore"
Mara Zampieri, Teatro Nacional de São Carlos, Abril de 1978

(Wolfcrag85)
D'amor sull'ali rosee
Vanne, sospir dolente:
Del prigioniero misero
Conforta l'egra mente...
Com'aura di speranza
Aleggia in quella stanza:
Lo desta alle memorie,
Ai sogni dell'amor!
Ma deh! non dirgli, improvvido,
Le pene del mio cor!

Quem esteve no Coliseu dos Recreios de Lisboa, terça-feira dia 11 de Abril de 1978, nunca esquecerá o que lá se passou. A seguir à ária do 4° Acto ("D'amor sull'ali rosee") explodiu uma ovação tal que a récita, pura e simplesmente, parou. Os gritos, as palmas - e que gritos, que palmas! Os minutos sucediam-se uns aos outros e a ovação não parava nem esmorecia de intensidade. De vez em quando, a Zampieri inclinava ligeiramente a cabeça, em gesto de agradecimento: era evidente que ela não queria sair da personagem. As palmas e os gritos redobravam. (*)

Frederico Lourenço, Amar Não Acaba

3.7.09

Maria João Pires recusa ser portuguesa

Leio no Público que Maria João Pires renuncia à nacionalidade portuguesa e espanto-me com os comentários dos leitores. Ou talvez não. Afinal deve ser essa a razão que a leva a tomar esta atitude. Se nos lembrarmos dos escritores, pintores e outros músicos que optaram por deixar este país, talvez percebamos que ele é demasiado pequeno para os maiores. Os sucessivos governos espelham a mesquinhez do povo que os elege.

(deutschegrammophon1)

1.7.09

Pina Bausch - III

Algumas passagens de Pina Bausch por Lisboa, numa fotogaleria do Público:

"Água", CCB, Janeiro de 2003 (Daniel Rocha)

"Nelken", Teatro São Luiz, Setembro de 2005 (Gonçalo Santos)

"Cafe Müller", Teatro São Luiz, Maio de 2008 (Paulo Pimenta)

Pina Bausch - II - As Cores dos Sons

Há quem atribua cores às pessoas, aos seus nomes, às vozes, aos sons. Há quem seja de tonalidade amarela e quem a tenha castanha, verde ou cinzenta.
Eu gosto de sons azzurro-chiarro.

(ESTETTE)

23.6.09

Cravos para Rosalía



Dianthus sp.


Galicia frorida,
cal ela ningunha,
de froles cuberta,
cuberta de espumas.

D'espumas qu'o mare
con pelras gomita,
de froles que nacen
ó pé das fontiñas.

Rosalía de Castro, Cantares Gallegos