Lembra o João Ildefonso que Caballé nasceu há oitenta anos (e dois dias). A sua proposta é que ouçamos este excerto de "Norma", como ela a cantou no Teatro de São Carlos em 1972. Visca, Montse. Parabéns.
O supremo corolário de um circunscrito conjunto de apresentações do soprano catalão em São Carlos, iniciado na década precedente com Don Giovanni (1960), Ifigénia em Tauride (1961) e Ariadne auf Naxos (1961).
Ladeavam Caballé, na produção em destaque, Viorica Cortez, Robleto Merolla e Agostino Ferrin, sob a égide de Nicola Rescigno.
Ouvi há poucos dias na Antena2 que os cortes orçamentais este ano no S. Carlos foram de 70%. Como é que se pode programar uma temporada? Por outro lado, porque há quem tente?
Mas a programar-se uma temporada, sendo o dinheiro pouco, porquê investir em novas produções manhosas que hão-de comer logo uma grande fatia do pequeno bolo?
Não estava na récita do São Carlos, mas estava dois ou três dias depois no Coliseu para ouví-la. No fim do espectáculo consegui dela a fotografia autografada que ainda hoje possuo. Quando me aproximei dela, com mais outros admiradores, disse-nos logo com cara muito séria que estava muito cansada. Nesta récita a prestação de Viorica Cortez foi excepcional à altura da Caballé. Neste trecho que eu considero o mais belo da ópera italiana, a Caballé é na ária propriamente dita insuperável. O resto, recitativo e cavatina e toda a ópera é, como todos sabemos um domínio da Callas. Mas, para mim, a seguir à Callas a melhor Norma que existe totalmente gravada é Montessat Caballé.
A quem interessar, comprei o dvd da Força do Destino do Scalla de meados dos anos 70 e estou muitíssimo satisfeito. A produção é muito bela, A Caballé está em excelente forma e ao contrario do que pensava vai-lhe muito bem o papel, quanto ao Carreras nunca me tinha entusiasmado tanto, o resto do elenco é excelente e conta com o Capucilli e o Ghiaurov. A qualidade do som e imagem é muito aceitável.
Vi a Caballé ainda uma segunda vez em Maio de 1989 cantando Vivaldi e outros compositores do Barroco Italiano. Acompanhava-a uma orquestra de câmara. Cantou explendidamente. João Ildefonso,tenho de comprar esse dvd, ainda por cima é uma das óperas de Verdi de que mais gosto. Não me admira que vá bem, pois a Leonora é um papel que assenta como uma luva na voz da Caballé. Eu há uns meses comprei a versão em dvd com a Nina Stemma e é mais ou menos. Para os apreciadores há que ter a versão Tebaldi, Corelli, Bastianini, Cristoff, Dominguez, Capecchi de Nápoles (1958)que datadíssima nos cenários ("Who cares?" quando o canto é sublime). Não há adjectivos para a representação.
é curioso constatar que as versões preferenciais da ópera em suporte vídeo, aludidas nos comentários precedentes, constituem-se, temporalmente, as mais distantes (1958 e 1978) em cotejo com as demais. Um sinal inequívoco das severas constrições que perpassam o actual panorama dramático-vocal no que à Lírica verdiana se reporta.
A título de curiosidade. Li recentemente uma entrevista em que a cantora refere que lhe é muito fácil cantar o reportório Italiano.... Pessoalmente não me parece muito preparada!
Nada bem. A Nilsson aparentemente dizia que não havia problema em cantar a Isolda desde que se tivesse um par de sapatos confortável e que cantar a Turandot equivalia a um dia de férias. Mas do ponto de vista musical não há falha que se lhe possa apontar o que confere legitimidade e validade, pelo menos dum ponto de vista pessoal, aos seus comentários propositadamente irreverentes.
Não considero a Turandot uma papel típico do repertório italiano. A Nilsson deu provas de ser uma cantora "italiana" na Lady Macbeth, Aida, Amélia e Tosca. Não conheço a Minnie dela, mas também não me faz falta para formar esta ideia. Sei que existe um "Pace, pace..." dela e até talvez tenha ouvido, mas não sei se alguma vez cantou a Força do Destino
creio que tão pertinente constatação radicará, em determinada medida, na significativa escassez de sopranos dramáticos italianos no período imediatamente sequente à Segunda Grande Guerra, fenómeno magnificado pela estatuto referencial logrado por intérpretes de latitudes diversas do papel-titular.
O supremo corolário de um circunscrito conjunto de apresentações do soprano catalão em São Carlos, iniciado na década precedente com Don Giovanni (1960), Ifigénia em Tauride (1961) e Ariadne auf Naxos (1961).
ResponderEliminarLadeavam Caballé, na produção em destaque, Viorica Cortez, Robleto Merolla e Agostino Ferrin, sob a égide de Nicola Rescigno.
Obrigado pelo complemento informativo, Hugo.
Eliminar1972 !
ResponderEliminarEramos nós, país, de uma miserável pobreza...
Parece estarmos a regressar a esses tempos, mas agora só com a pobreza.
EliminarOuvi há poucos dias na Antena2 que os cortes orçamentais este ano no S. Carlos foram de 70%. Como é que se pode programar uma temporada? Por outro lado, porque há quem tente?
EliminarMas a programar-se uma temporada, sendo o dinheiro pouco, porquê investir em novas produções manhosas que hão-de comer logo uma grande fatia do pequeno bolo?
EliminarNa mouche.
EliminarImportar produções modestas mas dignas - duas já chegavam, hélas.
Não era necessário importar, Mário. O Teatro tem produções recentes que podia reciclar.
EliminarExcelente proposta.
ResponderEliminarNão estava na récita do São Carlos, mas estava dois ou três dias depois no Coliseu para ouví-la. No fim do espectáculo consegui dela a fotografia autografada que ainda hoje possuo. Quando me aproximei dela, com mais outros admiradores, disse-nos logo com cara muito séria que estava muito cansada. Nesta récita a prestação de Viorica Cortez foi excepcional à altura da Caballé.
ResponderEliminarNeste trecho que eu considero o mais belo da ópera italiana, a Caballé é na ária propriamente dita insuperável. O resto, recitativo e cavatina e toda a ópera é, como todos sabemos um domínio da Callas. Mas, para mim, a seguir à Callas a melhor Norma que existe totalmente gravada é Montessat Caballé.
Grande Caballé. Infelizmente nunca ao vivo. Ou talvez felizmente devido ao facto de só ter começado a ir á ópera em meados dos anos 90.
ResponderEliminarA quem interessar, comprei o dvd da Força do Destino do Scalla de meados dos anos 70 e estou muitíssimo satisfeito. A produção é muito bela, A Caballé está em excelente forma e ao contrario do que pensava vai-lhe muito bem o papel, quanto ao Carreras nunca me tinha entusiasmado tanto, o resto do elenco é excelente e conta com o Capucilli e o Ghiaurov. A qualidade do som e imagem é muito aceitável.
ResponderEliminarVi a Caballé ainda uma segunda vez em Maio de 1989 cantando Vivaldi e outros compositores do Barroco Italiano. Acompanhava-a uma orquestra de câmara. Cantou explendidamente.
ResponderEliminarJoão Ildefonso,tenho de comprar esse dvd, ainda por cima é uma das óperas de Verdi de que mais gosto. Não me admira que vá bem, pois a Leonora é um papel que assenta como uma luva na voz da Caballé. Eu há uns meses comprei a versão em dvd com a Nina Stemma e é mais ou menos. Para os apreciadores há que ter a versão Tebaldi, Corelli, Bastianini, Cristoff, Dominguez, Capecchi de Nápoles (1958)que datadíssima nos cenários ("Who cares?" quando o canto é sublime). Não há adjectivos para a representação.
Essa versão de Nápoles é fundamental, Raul.
EliminarPossuo igualmente o registo que menciona, caro João Ildefonso. Paradigmático.
ResponderEliminarCaríssimo Raul,
ResponderEliminaré curioso constatar que as versões preferenciais da ópera em suporte vídeo, aludidas nos comentários precedentes, constituem-se, temporalmente, as mais distantes (1958 e 1978) em cotejo com as demais. Um sinal inequívoco das severas constrições que perpassam o actual panorama dramático-vocal no que à Lírica verdiana se reporta.
A título de curiosidade.
ResponderEliminarLi recentemente uma entrevista em que a cantora refere que lhe é muito fácil cantar o reportório Italiano.... Pessoalmente não me parece muito preparada!
http://www.youtube.com/watch?v=uLgkK6zvqrQ
Não se pode dizer que lhe tenha corrido muito bem.
EliminarNada bem.
ResponderEliminarA Nilsson aparentemente dizia que não havia problema em cantar a Isolda desde que se tivesse um par de sapatos confortável e que cantar a Turandot equivalia a um dia de férias. Mas do ponto de vista musical não há falha que se lhe possa apontar o que confere legitimidade e validade, pelo menos dum ponto de vista pessoal, aos seus comentários propositadamente irreverentes.
Não considero a Turandot uma papel típico do repertório italiano. A Nilsson deu provas de ser uma cantora "italiana" na Lady Macbeth, Aida, Amélia e Tosca. Não conheço a Minnie dela, mas também não me faz falta para formar esta ideia. Sei que existe um "Pace, pace..." dela e até talvez tenha ouvido, mas não sei se alguma vez cantou a Força do Destino
ResponderEliminarCaro Raul,
ResponderEliminarcreio que tão pertinente constatação radicará, em determinada medida, na significativa escassez de sopranos dramáticos italianos no período imediatamente sequente à Segunda Grande Guerra, fenómeno magnificado pela estatuto referencial logrado por intérpretes de latitudes diversas do papel-titular.