30.9.08

Notung! Notung!

É logo à tarde, pelas 18h30, que estreia "Siegfried" em São Carlos. O papel do tenor é um dos mais difíceis do reportório, exigindo uma enorme força e capacidade de resistência devido à sua extensão e à tessitura ([...]throughout the entirety of Wagner's Ring, the music written for the role of Siegfried ranges from C#3 to C5, but the tessitura is described as high because the tenor phrases are most often in the range of C4 to A4.).
Stefan Vinke vai ser o nosso Siegfried.

Foto de ensaio na newsletter do Teatro de São Carlos


O Heldentenor (tenor heróico) Lauritz Melchior canta aqui um excerto do I acto: Notung! Notung! Siegfried pega nos pedaços da espada do seu pai, Siegmund, e forja "Notung", a nova espada com que matará o dragão Fafner, guardião do anel, e quebrará a lança de Wotan. O Homem novo liberta-se do antigo poder dos deuses e da ordem estabelecida.

(Onegin65)

Notung! Notung! Neidliches Schwert!
Was mußtest du zerspringen?
Zu Spreu nun schuf ich die scharfe Pracht,
im Tiegel brat' ich die Späne.
Hoho! Hoho! Hohei! Hohei! Hoho!
Blase, Balg! Blase die Glut!
Wild im Walde wuchs ein Baum,
den hab' ich im Forst gefällt:
die braune Esche brannt' ich zur Kohl',
auf dem Herd nun liegt sie gehäuft.
Hoho! Hoho! Hohei! Hohei! Hoho!
Blase, Balg! Blase die Glut!
Des Baumes Kohle, wie brennt sie kühn;
wie glüht sie hell und hehr!
In springenden Funken sprühet sie auf:
Hohei! Hohei! Hohei!
Zerschmilzt mir des Stahles Spreu.
Hoho! Hoho! Hohei! Hohei! Hoho!
Blase, Balg! Blase die Glut!
(...)
Notung! Notung! Espada desejada!
Por que te partiste?
Reduzi a tua forte lâmina a farripas,
neste cadinho aqueço a tua limalha.
Hoho! Hoho! Hohei! Hohei! Hoho!
Sopra fole! Sopra o lume!
Uma árvore selvagem crescia na floresta.
Fui eu quem a abateu:
o seu tronco reduzi ao carvão
que agora está sobre este fogão.
Hoho! Hoho! Hohei! Hohei! Hoho!
Sopra fole! Sopra o lume!
O carvão dessa árvore como arde bem,
que lume espevitado e forte!
Crepitam alegres fagulhas:
Hohei! Hohei! Hohei!
Façam fundir-se toda essa limalha.
Hoho! Hoho! Hohei! Hohei! Hoho!
Sopra fole! Sopra o lume!
(...)

(Tradução do libreto por João Paulo Santos, para efeitos de legendagem e publicação no programa)


Siegfried forja a espada
Schloss Neuschwanstein

Entrevista do encenador Graham Vick ao Diário de Notícias.

26.9.08

ÓPERA AO LARGO - ópera em grande ecrã


Lê-se no sítio do Teatro Nacional de São Carlos que haverá duas transmissões em directo da ópera "Siegfried" em grande ecrã, no Largo de São Carlos. As duas primeiras óperas da tetralogia "O Anel do Nibelungo" serão também projectadas. Portanto, quem não viu "O Ouro do Reno" e "A Valquíria" na encenação de Graham Vick pode aproveitar esta oportunidade. A entrada é livre e o calendário é o seguinte:


Dia 9 de Outubro


13:00h - Making of Das Rheingold
17:30h - Making of Das Rheingold
18:30h - Siegfried - Transmissão em directo (com legendas)

Dia 10 de Outubro

13:00h - Making of Das Rheingold
17:30h - Making of Das Rheingold
20:00h - Projecção da produção Die Walküre na íntegra

Dia 11 de Outubro

15:00h - Making of Das Rheingold
16:00h - Projecção da produção Das Rheingold na íntegra

Dia 12 de Outubro

15:00h - Making of Das Rheingold
16:00h - Siegfried - Transmissão em directo (com legendas)

16.9.08

Santa Isabel

A rainha Santa Isabel era sobrinha-neta de uma outra santa que também transformou pão em rosas: Isabel (Elisabete) da Hungria, ou da Turíngia. O pai da nossa rainha, Pedro III de Aragão, era filho de Jaime I de Aragão e de Violante da Hungria, irmã da santa que vem hoje ao caso.
Na ópera "Tannhäuser", de Richard Wagner, a personagem de Elisabeth é inspirada na jovem princesa húngara, que foi levada aos quatro anos de idade para a corte da Turíngia para casar com o filho do Landgraf (título correspondente a "conde" no Sacro Império Romano-Germânico). Elisabete enviuvou cedo e recusou todos os pretendentes que se propuseram casar com ela. Morreu com vinte e quatro anos e foi canonizada em 1235.

O Torneio dos Cantores em Wartburg, de Joseph Aigner
(Schloss Neuschwanstein)

Diz a lenda que o Landgraf Hermann promoveu no castelo de Wartburg, por inícios do séc. XIII, um grande torneio de menestréis: o "Sängerkrieg". Na ópera, o Landgraf é tio de Elisabeth. Com liberdades poéticas, Wagner convidou também Tannhäuser para se juntar aos trovadores que participaram nesse festival da canção. Na versão wagneriana, bem diferente dos factos históricos, Tannhäuser decide deixar os amores carnais de Vénus e é convencido pelos amigos a entrar na competição: Elisabeth ama-o. Começa o II acto e ela saúda a sala onde terá lugar o concurso, feliz por saber que Tannhäuser está de volta.

Gundula Janowitz: Dich, teure Halle

(link-vaimusic)

Elisabeth:
Dich, teure Halle, grüß' ich wieder,
froh grüß' ich dich, geliebter Raum!
In dir erwachen seine Lieder,
und wecken mich aus düstrem Traum.
Da er aus dir geschieden,
wie öd' erschienst du mir!
Aus mir entfloh der Frieden,
die Freude zog aus dir.
Wie jetzt mein Busen hoch sich hebet,
so scheinst du jetzt mir stolz und hehr;
der dich und mich so neu belebet,
nicht länger weilt er ferne mehr.
Sei mir gegrüßt! sei mir gegrüßt!

15.9.08

Donas Elviras

Tamara de Lempicka, Auto-retrato com Bugatti verde (1925)

Será que alguém já entendeu o porquê da insistência no encerramento da Praça do Comércio ao trânsito todos os domingos? O Cais das Colunas ainda não está pronto — as obras devem continuar até Dezembro — e não há lá nada que seja chamariz para os lisboetas, que os empurre para um passeio agradável, ali, à beira-Tejo, nas tardes que são alternadamente de sol abrasador ou de ventania tempestuosa. Os automóveis colam-se uns aos outros nas ruas que se dirigem para o Terreiro do Paço e torna-se mais difícil atravessar a Baixa, entre o Cais do Sodré e Santa Apolónia, que numa sexta-feira em hora-de-ponta. Às quatro da tarde a praça está às pombas e os seis ou sete humanos que por lá passam vão abrigados sob as arcadas. A rua entre a praça e o Tejo não convida, nem há carros nem há gente, e as ruas da Baixa engarrafam-se enquanto o ar é aquecido pelos tubos de escape. Ao menos que fossem de Donas Elviras, como estas que estavam ontem em Cascais.








12.9.08

Chostakovitch - Quinteto para piano e cordas

No dia 22 de Julho, no Festival de Verbier de 2008, assistiu-se a um encontro de grandes músicos: Martha Argerich tocou Bach, depois Mozart a quatro mãos com Stephen Kovacevich e, para finalizar o programa, juntaram-se a ela Joshua Bell, Henning Kraggerud, Yuri Bashmet e Mischa Maisky. Os cinco deram uma interpretação fulgurante do quinteto para piano e cordas em sol menor op. 57, de Chostakovitch, com a "leoa" Argerich a impor a sua energia. O concerto ainda pode ser visto e ouvido aqui (fazer um clique em play) e o III andamento, oferecido como extra, está disponível no sítio da Deutsche Grammophon, nesta página (até ao fim de Setembro).

III andamento: Scherzo - Allegretto
Eis o programa:

RENCONTRES INÉDITES I
Bach
Partita N° 2 en ut mineur BWV 826
(Argerich)

[Beethoven
Deux bagatelles extraites des Six bagatelles pour piano op. 126
Sonate pour piano N° 31 en La bémol majeur op. 110
(Kovacevich)]

Mozart
Andante et cinq variations pour piano à quatre mains en Sol majeur K 501
(Argerich/Kovacevich)

Chostakovitch
Quintette pour piano et cordes en sol mineur op. 57
(Argerich/Bell/Kraggerud/Bashmet/Maisky)

9.9.08

Dias com flores

Parabéns ao Paulo Araújo. Em boa hora ele foi à Serra dos Candeeiros e viu este exemplar de Asphodelus aestivus que nos é mostrado como Botany Photo of the day. Para ver em tamanho grande, como a flor merece, e aprender um pouco mais sobre ela, basta fazer um clique sobre a imagem.

3.9.08

Siegfried - São Carlos

Siegfried, figurino de Carl Emil Doepler, ca. 1878 (daqui)

No próximo dia 30 de Setembro, com a estreia de "Siegfried", acabam as férias do Teatro de São Carlos. É a segunda jornada do Festival Cénico "Der Ring des Nibelungen", de Richard Wagner, a inaugurar a temporada lírica de 2008/2009. Teremos, pois, a continuação da saga encenada por Graham Vick.

O calendário e a distribuição são como segue:

30. Setembro, 3. 6. 9. 15. Outubro às 18:30h
12. 18. Outubro 2008 às 16:00h

Direcção musical: Marko Letonja
Encenação: Graham Vick
Cenografia e figurinos: Timothy O'Brien
Desenho de Luz: Giuseppe Di Iorio

Orquestra Sinfónica Portuguesa
Nova produção
Teatro Nacional de São Carlos

Intérpretes

Siegfried: Stefan Vinke
Mime: Colin Judson
O Viajante: Samuel Youn
Alberich: Johann Werner Prein
Fafner: Dieter Schweikart
Erda: Gabriele May
Brünnhilde: Susan Bullock, Kirsi Tiihonen [15. Outubro]
Pássaro da floresta: Chelsey Schill

Prelúdio do III acto, seguido das palavras desesperadas do Viajante/Wotan, que chama por Erda adormecida. Erda é a que tudo sabe, a sábia do mundo primordial.

 

Antes, no II acto, Siegfried matou o dragão Fafner, bebeu o sangue que lhe queimava a mão e aprendeu a linguagem dos pássaros. Na floresta, um pássaro indicou-lhe o caminho para o rochedo de Brünnhilde. Agora, Wotan sabe que perdeu o controlo dos acontecimentos, mas Erda também não o poderá ajudar. Siegfried seguirá o seu caminho, atravessará as chamas mágicas que rodeiam o rochedo e acordará Brünnhilde com um beijo.


Wanderer:


Wache, Wala! Wala! Erwach'!
Aus langem Schlaf weck' ich dich Schlummernde auf.
Ich rufe dich auf: Herauf! Herauf!
Aus nebliger Gruft,
aus nächtigem Grunde herauf!
Erda! Erda! Ewiges Weib!
Aus heimischer Tiefe tauche zur Höh'!
Dein Wecklied sing' ich, daß du erwachest;
aus sinnendem Schlafe weck' ich dich auf.
Allwissende! Urweltweise!
Erda! Erda! Ewiges Weib!
Wache, erwache, du Wala! Erwache!
O Viajante:

Acorda, Wala! Wala, acorda!
Tu que dormias um longo sono, estou eu a despertar-te.
Por ti chamo: sobe! Sobe!
Abandona a tua gruta nebulosa,
deixa o abismo sombrio!
Erda! Erda! Mulher eterna!
Das profundezas onde vives, sobe até mim!
Canto a canção do teu acordar para te despertar;
arranco-te ao teu sono de meditação.
Omnisciente! Sabedoria primordial!
Erda! Erda! Mulher eterna!
Acorda, desperta, Wala! Acorda!

(Tradução do libreto por João Paulo Santos, para efeitos de legendagem e publicação no programa)


Sir Georg Solti, Orquestra Filarmónica de Viena,
Hans Hotter (Der Wanderer)

Sir Georg Solti:
Decca
www.georgsolti.com
Wikipedia

2.9.08

September - Gundula Janowitz


"Setembro", de "Quatro Últimas Canções" de Richard Strauss, na interpretação de Gundula Janowitz e Herbert von Karajan, com a Orquestra Filarmónica de Berlim.

September

Der Garten trauert,
Kühl sinkt in die Blumen der Regen.
Der Sommer schauert
still seinem Ende entgegen.

Golden tropft Blatt um Blatt
nieder vom hohen Akazienbaum.
Sommer lächelt erstaunt und matt
in den sterbenden Gartentraum.

Lange noch bei den Rosen
bleibt er stehen, sehnt sich nach Ruh.
Langsam tut er die (grossen)
müdgewordnen Augen zu.

Hermann Hesse


Setembro

O jardim está de luto,
A chuva fria penetra nas flores.
O Verão estremece calmamente
Aproximando-se do seu fim.

As folhas douradas caem uma a uma
Do alto da acácia.
O Verão sorri, surpreendido e cansado,
No sonho moribundo do jardim.

Detém-se ainda longamente junto às rosas,
Procurando o repouso.
Lentamente vai cerrando
Os seus (grandes) olhos fatigados.

(tradução de Rui Vieira Nery)


Deutsche Grammophon

1.9.08

Cavaleiros de Rodes


Em meados do séc. XI, em Jerusalém, foram construídos uma igreja, um convento e um hospital, com o objectivo primordial de cuidar dos peregrinos doentes (de qualquer crença ou raça). Assim nasceu a Ordem dos Cavaleiros do Hospital, também conhecidos como Cavaleiros de São João de Jerusalém. Mas, em tempo de guerra santa, os Hospitalários acumularam a função de protectores da fé e dos territórios conquistados pelos Cruzados, juntamente com os Templários. Após a queda de Jerusalém, a ordem foi obrigada a deixar a Terra Santa e acabou por se estabelecer na ilha de Rodes, em 1310.

Palácio do Grão-Mestre

Durante cerca de duzentos anos, os Cavaleiros de Rodes mantiveram aqui a sua sede e foram donos de uma poderosa frota marítima que lhes assegurava um importante papel na defesa do mundo cristão no Mediterrâneo oriental, até que o sultão Solimão o Magnífico montou cerco a Rodes e os obrigou a renderem-se e a procurarem um novo território.

Rua dos Cavaleiros