O Dias com árvores não devia acabar nunca. O seu encerramento deixa-nos tristes, desnorteados, com uma sensação estranha no estômago, uma fome sem remédio. Todos os dias aprendíamos uma novidade com ele: mais uma flor azul, ou outra amarela, uma árvore de beleza rara.
Com ele percorremos dunas e jardins, montanhas, ruas, praças e cemitérios. Os olhos do Dias com árvores mostraram-nos como podemos, nós também, olhar para as plantas com olhos de as ver. Por tudo isto e muito mais, obrigado.
Há seis meses, Peter Pears e Benjamin Britten entraram aqui pela primeira vez. Começava o Inverno. Sou distraído e escapam-me com frequência os aniversários, mas o desNorte está sempre atento e alerta-nos para as efemérides mais importantes. Chegando com um dia de atraso, fica aqui também uma homenagem ao tenor Peter Pears (1910-1986), que nasceu a 22 de Junho.
A Decca editou recentemente uma série de DVDs chamada "The Britten-Pears Collection", e dois dos títulos apresentados são duas das óperas mais importantes de Britten: "Peter Grimes" e "Billy Budd". Em grande parte das suas obras vocais, Britten compôs um papel de tenor especificamente para a voz do seu companheiro, até à última ópera: "Death in Venice". Pears e Britten estão sepultados em Aldeburgh, na costa leste da Inglaterra, onde viveram a partir de 1947.
(...) Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -, Transeunte inútil de ti e de mim, Estrangeiro aqui como em toda a parte, Casual na vida como na alma, Fantasma a errar em salas de recordações, Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem No castelo maldito de ter que viver... (...)
O Diário do Restauro da Charola do Convento de Cristo (DRCCC) dá-nos a conhecer o trabalho que tem sido desenvolvido ao longo dos últimos meses na charola de Tomar, através de imagens e vídeos comentados pelos técnicos responsáveis. As pinturas a seco sobre pedra são das que mais sofreram com o passar dos tempos e restaurá-las é uma tarefa de paciência chinesa. Visite o blogue e, se tiver questões sobre as técnicas utilizadas no restauro, não hesite em colocá-las. A "comunidade" que gere o DRCCC responde.
(Ouça aqui a interpretação de Elisabeth Schwarzkopf)
Antonius zur Predigt Die Kirche find't ledig. Er geht zu den Flüssen und predigt den Fischen! Sie schlag'n mit den Schwänzen, Im Sonnenschein glänzen.
Die Karpfen mit Rogen Sind all' hierher zogen, Hab'n d'Mäuler aufrissen, Sich Zuhör'ns beflissen. Kein Predigt niemalen Den Fischen so g'fallen!
Spitzgoschete Hechte, Die immerzu fechten, Sind eilends herschwommen, Zu hören den Frommen!
Auch jene Phantasten, Die immerzu fasten: Die Stockfisch' ich meine, Zur Predigt erscheinen. Kein Predigt niemalen Den Stockfisch' so g'fallen!
Gut Aale und Hausen, Die vornehme schmausen, Die selbst sich bequemen, Die Predigt vernehmen!
Auch Krebse, Schildkroten, Sonst langsame Boten, Steigen eilig vom Grund, Zu hören diesen Mund. Kein Predigt niemalen den Krebsen so g'fallen.
Fisch' große, Fisch' kleine, Vornehm und gemeine, Erheben die Köpfe Wie verständ'ge Geschöpfe, Auf Gottes Begehren Die Predigt anhören.
Die Predigt geendet, Ein jeder sich wendet, Die Hechte bleiben Diebe, Die Aale viel lieben. Die Predigt hat g'fallen. Sie bleiben wie allen.
Die Krebs' geh'n zurücke, Die Stockfisch' bleib'n dicke, Die Karpfen viel fressen, die Predigt vergessen! Die Predigt hat g'fallen. Sie bleiben wie allen.
António, para o sermão,
Encontra a igreja vazia.
Vai para o rio
E prega aos peixes!
Todos dão à cauda,
Brilhando ao Sol.
As carpas, em cardume,
Vieram todas à uma.
Estão de boca aberta
A escutar com atenção.
Nunca um sermão
Agradou tanto aos peixes!
Os lúcios, de boca em bico,
Sempre a guerrear,
Nadaram velozes
Para ouvir o Santo!
Mesmo criaturas fantásticas,
Sempre de dieta,
Quero dizer, os bacalhaus,
Apareceram ao sermão.
Nunca um sermão
Agradou tanto aos bacalhaus!
Belas enguias e esturjões,
Que vão às festas finas,
Acomodam-se
Para ouvir o sermão.
Também caranguejos e tartarugas,
Lentos, de costume,
Sobem depressa do fundo
Para ouvir esta boca.
Nunca um sermão
Agradou tanto aos caranguejos!
Peixes grandes, peixes pequenos,
Nobres ou vulgares,
Erguem a cabeça
Como seres inteligentes,
Por vontade de Deus,
Para ouvir o sermão.
O sermão terminou,
Cada um vai à sua vida.
Os lúcios continuam ladrões,
As enguias fazem amor.
O sermão agradou,
Continuam como eram!
Os caranguejos recuam,
Os bacalhaus continuam gordos,
As carpas alarvam,
O sermão está esquecido.
O sermão agradou,
Continuam como eram!
Há 143 anos, a 10 de Junho de 1865, assistia-se à estreia mundial de "Tristan und Isolde", com Malvina (Garrigues) Schnorr von Carolsfeld no papel da princesa da Irlanda.
Waltraud Meier, Mild und leise (Liebestod), em Dezembro de 2007, no Teatro alla Scala. Encenação de Patrice Chéreau e direcção musical de Daniel Barenboim.
O Lisbona, alfin ti miro, riedo alfine, o patria, a te! L'aura tua ch'io sento e spiro vita nuova infonde in me! Scordo l'ansie e l'aspra guerra che il destin mi fe' soffrir. Ti riveggo, o sacra terra, or può farmi il ciel morir! Pur languente in suol straniero, senza speme di mercé, era il cor del prigioniero, dolce patria, ognor con te!
Antes da sua morte em 1902, Giuseppe Verdi fundou um lar para cantores e músicos retirados: a Casa Verdi, em Milão. O realizador suíço Daniel Schmid filmou o quotidiano dentro da casa, onde os artistas vivem das recordações das óperas em que participaram. Sara Scuderi e Salvatore Locapo interpretam a cena em que Tosca mata o terrível Scarpia: "Questo è il bacio di Tosca".
Quando surgiu a que cedo desponta, a Aurora de róseos dedos, levantou-se da sua cama o amado filho de Ulisses; vestindo a roupa, pendurou do ombro uma espada afiada, e nos pés resplandecentes calçou as belas sandálias. Ao sair do quarto, assemelhava-se a um deus. Logo ordenou aos arautos de voz penetrante que chamassem para a assembleia os Aqueus de longos cabelos. Aqueles chamaram; e reuniram-se estes com grande rapidez. Quando estavam já reunidos, todos em conjunto, dirigiu-se Telémaco à assembleia, segurando na mão a brônzea lança - mas não ia só: dois galgos o acompanhavam. E admirável era a graciosidade que sobre ele derramara Atena: à sua passagem todos o olharam com espanto. Sentou-se no assento de seu pai; os anciãos cederam-lhe o lugar.
Homero, Odisseia (trad. de Frederico Lourenço, Livros Cotovia)