Ter a oportunidade de ouvir uma das
melhores intérpretes (no activo) de Elektra, em Lisboa, foi um privilégio. Houve cantoras como
Birgit Nilsson e
Gwyneth Jones que cantaram o papel até bastante tarde nas suas carreiras e Deborah Polaski parece ir por esse caminho, embora não seja o milagre vocal que as outras foram. No momento em que Elektra entra no palco vemos uma mulher alta, de porte magnífico, que domina a personagem de trás para a frente. O seu grito "Orest", no momento em que reconhece o irmão, não lancinou; por vezes até podíamos querer sentir mais vigor, mais fogo, mais electricidade; e, no final, a voz começou a ressentir-se do esforço. No entanto, ela deu-nos uma interpretação grandiosa. Já muitos cantores antes dela deslumbraram mais pelo poder interpretativo que pelo portento e pela pujança vocal. Para Deborah Polaski, uma garrafa de água é um objecto de cena que ela usa sem pejo, bebendo ou parando ao som da música.
Polaski já anda
a cantar pelos palcos do Mundo há uma boa série de anos. Já foi muitas vezes Isolde, Brünnhilde e Elektra. Recentemente cantou estes papéis em Berlim, Hamburgo e Nova Iorque. Já em Fevereiro será novamente Elektra em Munique e, em Maio, em Berlim (veja-se a
agenda da cantora). E na próxima época estará em Madrid, segundo palavras da própria, numa produção de "Jenufa" de Janáček. Isto para dizer que ouvimos uma Senhora Cantora, que se aguenta por mais de uma hora e meia no palco sem dar parte de fraca, que sabe quais já são os seus limites vocais e, por essa razão, não os ultrapassa.
Mas a "Elektra" vive também de Klytämnestra, de Orest e de
Chrysotemis. Se os papéis dos irmãos de Elektra estiveram bem entregues, foi a Klytämnestra de Rosalind Plowright quem mais surpreendeu. Noutros tempos ela foi uma grande
soprano verdiana, agora aparece-nos em registo de mezzo-soprano e "sem medo do teatro que a personagem exige", como
escreveu Pedro Boléo no
Público de 19 de Janeiro.
A orquestra, dirigida por Lawrence Foster, brilhou numa partitura dificílima, como infelizmente não é hábito ouvir para os lados do Chiado.