20.1.09

Elektra - Gulbenkian - II

Ter a oportunidade de ouvir uma das melhores intérpretes (no activo) de Elektra, em Lisboa, foi um privilégio. Houve cantoras como Birgit Nilsson e Gwyneth Jones que cantaram o papel até bastante tarde nas suas carreiras e Deborah Polaski parece ir por esse caminho, embora não seja o milagre vocal que as outras foram. No momento em que Elektra entra no palco vemos uma mulher alta, de porte magnífico, que domina a personagem de trás para a frente. O seu grito "Orest", no momento em que reconhece o irmão, não lancinou; por vezes até podíamos querer sentir mais vigor, mais fogo, mais electricidade; e, no final, a voz começou a ressentir-se do esforço. No entanto, ela deu-nos uma interpretação grandiosa. Já muitos cantores antes dela deslumbraram mais pelo poder interpretativo que pelo portento e pela pujança vocal. Para Deborah Polaski, uma garrafa de água é um objecto de cena que ela usa sem pejo, bebendo ou parando ao som da música.

Deborah Polaski como Elektra (Paris)
foto de Anton Cupak

Polaski já anda a cantar pelos palcos do Mundo há uma boa série de anos. Já foi muitas vezes Isolde, Brünnhilde e Elektra. Recentemente cantou estes papéis em Berlim, Hamburgo e Nova Iorque. Já em Fevereiro será novamente Elektra em Munique e, em Maio, em Berlim (veja-se a agenda da cantora). E na próxima época estará em Madrid, segundo palavras da própria, numa produção de "Jenufa" de Janáček. Isto para dizer que ouvimos uma Senhora Cantora, que se aguenta por mais de uma hora e meia no palco sem dar parte de fraca, que sabe quais já são os seus limites vocais e, por essa razão, não os ultrapassa.

Mas a "Elektra" vive também de Klytämnestra, de Orest e de Chrysotemis. Se os papéis dos irmãos de Elektra estiveram bem entregues, foi a Klytämnestra de Rosalind Plowright quem mais surpreendeu. Noutros tempos ela foi uma grande soprano verdiana, agora aparece-nos em registo de mezzo-soprano e "sem medo do teatro que a personagem exige", como escreveu Pedro Boléo no Público de 19 de Janeiro.

A orquestra, dirigida por Lawrence Foster, brilhou numa partitura dificílima, como infelizmente não é hábito ouvir para os lados do Chiado.


9 comentários:

  1. Enfim, um espectáculo verdadeiramente magistral, penso eu que deve ter sido.
    Abraço.

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  2. Fico muito contente por ter valido a pena, e cruzo os dedos na esperança de que a Norma esteja à mesma altura.
    (Ah, não posso cruzar os dedos e teclar ao mesmo tempo!)

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  3. A Norma é mais baixinha... ehehheheh

    (se escreveres com os dedos cruzados, pelo menos todos temos uma certeza: estás a fugir à norma!!!)

    ahahahah - Estou cada vez mais pateta! Até parece mal, num templo de erudição como este!!!
    (digo-o com todo o respeito, para que conste!)

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  4. Gi,
    Também o espero, por si, já que não devo assistir à "Norma". Mas como diz o Ezequiel, ela deve ser mais baixinha. A Polaski é impressionantemente alta. Dou-lhe pelo ombro.

    Ezequiel,
    Os templos já foram profanados e este vai-se dando às musas.

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  5. LOL, Ezequiel e Paulo, estarei atenta à altura da Dussmann :-)

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  6. Mais um que perdi. Isto de não viver exactamente em Lisboa tem os seus revezes...

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  7. Cigarra, pois tem...

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  8. Há uma versão moderna desta ópera, baseada na peça Mourning becomes Electra, de Eugene O'Neill, com música de M. David Levy e libretto de W. Henry Butler. Estreou em 1967 no Met, com a direcção de Zubin Mehta, mas a versão recente da Lyric Opera de Chicago tem sido a preferida. Curiosamente em todas as apresentações (teatro, filme ou ópera) é o papel de Klytämnestra (aqui Christine) e não o de Elektra (aqui Lavinia) que é mais aplaudido, muitas vezes premiado.

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  9. Tenho conhecimento da existência dessa versão de "Mourning becomes Electra" mas nunca a ouvi. Bem gostaria...

    Na "Elektra" de Strauss o papel de Klytämnestra também é muito importante e, por isso, é dado sempre a grandes cantoras. Penso em Brigitte Fassbaender ou Astrid Varnay, por exemplo. Imaginemos o que teria sido o duelo entre Gwyneth Jones e Christa Ludwig no São Carlos dos anos 1990 se a produção não tivesse sido cancelada. Se calhar, foi por receio que a electricidade gerada pegasse fogo ao teatro.

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