O Festival de Bayreuth abriu ontem, envolto numa triste polémica por conta de um assunto muito delicado. Não me refiro ao caso do vestido de Angela Merkel, mas sim à saída do cantor Yevgeny Nikitin do elenco de O Navio Fantasma a poucos dias da estreia.
Nikitin é - era? - um baixo-barítono muito solicitado pelos grandes teatros da Europa e dos Estados Unidos e tudo indicava que continuaria a sê-lo - veremos -, não fosse o caso de se ter descoberto que tem tatuados no peito vários símbolos rúnicos comummente associados à ideologia nazi. A suástica já não está lá, foi substituída por uma estrela com um emblema, porém o caldo já estava entornado. A imprensa alemã mostrou as imagens e as manas Wagner, que actualmente dirigem o Festival, reagiram, conversaram com Nikitin e tê-lo-ão convencido a retirar-se da produção (quem ganhou com isto foi Samuel Youn - o Wanderer do "Siegfried" de Graham Vick no Teatro de São Carlos -, que saltou rapidamente para o papel de Holandês em substituição de Nikitin).
Nikitin tem-se desfeito em explicações contraditórias e pouco convincentes, insistindo no facto de ter decorado a pele nos seus tempos de juventude, quando fazia parte de um grupo de música rock, e de se ter arrependido. No entanto, alguns símbolos foram tatuados recentemente.
Bref. As manas Wagner, por quem não nutro especial simpatia (parecem apostadas em destruir o Festival criado pelo bisavô, apresentando cada ano produções mais horríveis que as anteriores), viram-se metidas numa grande alhada e são agora criticadas e acusadas de querer mostrar uma atitude politicamente correcta ou branquear a imagem de Bayreuth. Mas se não tivessem cão, o que andaria por aí agora de ai Jesus que Bayreuth continua nas mãos dos nazis?
A abertura foi assim, com Christian Thielemann a dirigir a orquestra,
e o Joaquim deixa-nos ouvir mais alguns excertos do Holandês que ontem estreou.
Samuel Youn e Adrianne Pieczonka como Holandês e Senta |
Com um culto destes entre o esquisito e o burlesco, como é que eu hei-de gostar de Wagner "em paz" ? não me deixam...
ResponderEliminarÓ Mário! O homem, além de Wagner, canta todos os Russos e ainda Mozart, Verdi, etc. Vai deixar de gostar das "Bodas" porque ele canta o Figaro ou de "Don Carlo" porque ele canta o Filipe II?
EliminarReferia-me mais às irmás e ao perigoso clima de Bayreuth que ao senhor dos tatoos.
EliminarParece que não se safam sem escandaleira, começando pelas ASPASencenaçõesASPAS :(
Neste caso, o escândalo não começou com elas. Veio-lhes parar às mãos via Bild-Zeitung. O que se diria delas se fingissem que estavam distraídas e deixassem tudo igual?
EliminarSó tinha lido (no Intermezzo que a tatuagem tinha sido um erro de juventude e destruída com outra tatuagem quando ele se arrependeu; desconhecia a história de haver outras do género e recentes.
ResponderEliminarA seta no meio do peito a apontar para cima ainda não aparecia no vídeo. E o motivo que ele tem no lado esquerdo também é associado ao culto neo-nazi.
EliminarArtigo de Zachary Woolfe em The New Yok Times.
ResponderEliminarNos últimos anos Bayreuth tem sido alvo de grandes discussões e polémicas (algumas também nós comentámos, aqui e noutros blogues), sobretudo devido às opções dos encenadores, maioritariamente de gosto muito discutível. Nos cantores, contudo, as coisas têm-se mantido com nível elevado.
ResponderEliminarEste ano o "ruído" começou meses, primeiro com alguns cancelamentos de cantores anunciados e, nestes últimos dias, com esta questão das tatuagens do baixo-barítono russo.
Mas concordo consigo, Paulo, se a coisa passasse e fosse exposta, muita tinta faria também correr! O tema é ainda muito sensível, moremente em Bayreuth.
E não esqueçamos o trabalho que teve Wieland Wagner depois da reabertura do Festival, a tentar afastar, dentro do possível, a carga que as ligações a Hitler lá tinham deixado.
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