29.3.10

The horror! The horror!*

Não vem agora ao caso o como e o porquê, o facto é que me vi na contingência de furar a greve a que me tinha proposto e ontem à tarde fui assistir à récita de "Níobe, Rainha de Tebas" com o meu amigo Miguel.

Como prevíamos, ao intervalo saímos, fomos lanchar Sachertorte no Kaffeehaus e não pusemos mais os pés no TNSC. É que aquilo não é mau; aquilo consegue ser para lá de deprimente. Aquilo não tem ponta por onde se lhe pegue. Talvez se contassem umas oitenta pessoas na sala, várias por convite, outras com bilhete de última hora, que assim como assim é muito mais barato e, para quem quiser, dá para arriscar. Os camarotes estavam às moscas e umas três ou quatro frisas estavam semi-ocupadas. Também lá vi uns dez alemães, não sei se convidados de Dammann ou meros turistas que já que estavam em Lisboa compraram o bilhete. Não cheguei a perguntar-lhes.

Vamos então ao que interessa:

O preâmbulo "Hybris" dura uma meia hora e parece interminável. Foi encomendado a uma senhora romena de origem alemã que parece que já recebeu vários prémios. A versão cénica conta com seis cantores solistas em palco e um coro reduzido no fosso sem orquestra. O coro fazia barulhos com as mãos e com os pés e de vez em quando também com a boca. Acredito que todos tenham feito um excelente trabalho, eu é que não nasci para ouvir aquela guincharia.

Finalmente aquilo acabou e entrou a orquestra. Começa a abertura barroca e o espectador descansa um bocado a cabeça, mas por pouco tempo. Nem a música é extraordinária, nem a orquestra a toca admiravelmente. Os cenários são miseráveis: uma sala do palácio real pintada de cinzento-escuro, as arestas dos vãos dos janelões com um ar muito escalavrado, assim como mais umas falhas na tinta aqui e acolá. Mas tudo isso não teria grande importância. O pior é que a obra nos pareceu muito fraca, para sermos simpáticos com Agostino Steffani. Estava lá tão bem enterrada e esquecida numa biblioteca qualquer, ninguém dava pela sua falta, e apareceram umas almas iluminadas a acharem que era o máximo apresentá-la ao povo outra vez. Do ponto de vista dramático não tem interesse nenhum, não se passa nada (talvez mais tarde, quando os filhos de Níobe morrerem e ela se transformar em rocha, mas isso já não vimos), e a encenação também não ajuda. Um ou outro momento musical até parecia ser relativamente bonito, sem mais, mas era preciso abstrairmo-nos dos cantores e imaginarmos outras vozes lá por trás.

A rainha é interpretada por uma fraquinha Alexandra Coku, que já tem feito outras coisas por cá.
O rei é um sopranista polaco, Jacek Laszczkowski, dono de uma voz desagradável, fraca, que só ganha alguma força nas notas mais agudas, acabando estas por parecer deslocadas. Dos restantes cantores não me apetece falar.
Enfim, não havia meio de chegar o intervalo, pelo que estávamos já a ponderar a hipótese de sair a qualquer instante.


*O título foi descaradamente roubado a um amigo. Espero que ele não leve a mal.