29.11.11

Sonatas de Freitas Branco

Branco's Laudable But Overlooked Sonatas


A propósito deste novo disco com a gravação das sonatas para violino e piano de Luís de Freitas Branco, diz Bob McQuiston no sítio da NPR music:
Francophile romantics, and fans of violin sonatas, will discover a pleasant surprise in this new album of music by Luis de Freitas Branco, a Portuguese composer, teacher, musicologist and critic.
(...)
An intriguing bipolar theme that soars skywards, only to fall back to earth, dominates the final allegro [da Sonata Nº 2]. This is an inventive sonata form movement with a peremptory coda ending a work, which arguably ranks with the best chamber music of the period.
Podemos ouvir aqui um excerto da gravação: Allegro da Sonata Nº 2, por Carlos Damas e Anna Tomasik.
E o Allegro con fuoco da Sonata Nº 1:

23.11.11

Montserrat Figueras ha mort


Ouvi pela primeira vez Montserrat Figueras na biblioteca da Academia das Ciências, já lá hão-de ir perto de vinte anos. Eram as Jornadas de Música Antiga da Gulbenkian e Jordi Savall apresentava um programa de "Madrigais Guerreiros e Amorosos", de Monteverdi, onde sobressaiu este Lamento della Ninfa.


Voltei a ouvir a sua voz peculiar noutras ocasiões, das quais recordo especialmente um concerto no refeitório do Mosteiro dos Jerónimos em que a sua voz descia das alturas, não se percebia bem de onde.
Montserrat Figueras partiu hoje.

22.11.11

A Perspectiva das Coisas

Felizmente há Gulbenkian!



É graças ao seu prestígio e às boas relações que mantém com os museus mais importantes do Mundo que podemos ver em Lisboa esta imperdível exposição: A Natureza-Morta na Europa (Séculos XIX-XX [1840-1955]). Só até 8 de Janeiro. Até um não-apaixonado do género se rende à qualidade das obras apresentadas.
Vá admirar a arte de alguns dos pintores mais representativos dos dois últimos séculos, vinda de museus como o MoMA e o Metropolitan Museum of Art, de Nova Iorque, o Petit Palais e o Musée d'Orsay, de Paris, ou o Museo Thyssen-Bornemisza, de Madrid, de onde nos chega este Vaso Azul com Flores de Vlaminck:


E não se esqueça de procurar as Flores numa Jarra de Cristal, uma preciosidade de Manet que vem da National Gallery of Art de Washington.

21.11.11

Reformulemos

Quem diz que a Antena 2 é um canal generalista, segundo o Público, é Miguel Relvas. Diz ainda o ministro que as rádios públicas vão ser reformuladas. Veremos como.

18.11.11

17.11.11

In bocca al lupo

Um pequeno excerto do dueto de amor de "Tristan und Isolde", no dia em que Elisabete Matos canta Abigaille, de "Nabucco", no Met. Muitos toi toi tois daqui para Nova Iorque.

16.11.11

Dedos Abençoados

Os dedos abençoados de Artur Pizarro voltaram a encantar-nos, ontem à noite, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, com um programa composto por duas obras que homenageiam a pintura: "Goyescas" (1911), de Granados, e "Quadros de uma Exposição" (1874), de Mussorgsky. Mussorgsky compôs a sua suite após ter visitado uma exposição de desenhos e aguarelas de Viktor Hartmann.

(do programa de sala [pdf])
Pizarro esteve sublime no modo como interpretou as várias emoções da Promenade que nos vai levando pela exposição, guiando-nos entre os vários quadros, separando-os e ligando-os. Il vecchio castello, o segundo quadro, é um dos momentos mais belos da suite e foi magistralmente tocado, com uma enorme leveza e uma sensibilidade tocante. E as notas vigorosas de A grande porta de Kiev só não ressoam ainda na Avenida de Berna porque se lhe seguiram quatro encores quatro (Rachmaninov e Piazzolla). Bravíssimo, Pizarro!

Granados compôs as suas "Goyescas" há cem anos, inspirado pelas obras de Goya que vira no Prado. A sua suite, ao contrário da de Mussorgsky, refere-se mais a ambientes que a quadros específicos. O título do penúltimo "quadro", El amor y la muerte, lembra este capricho e é um dos meus preferidos.



Só foi pena os tossideiros de serviço terem estado tão atiçados e decididos a darem cabo dos nervos a Pizarro e a quem queria ouvi-lo. Se o público não fosse tão diferente do da noite anterior (ver Garden of Philodemus e Fanáticos da Ópera), até poderíamos pensar que tinha havido um surto de tuberculose em Lisboa de um dia para o outro.

Adenda: Entretanto, um pouco de Piazzolla e Quadros de Uma Exposição, tal como Artur Pizarro os tocou ontem na Gulbenkian :



14.11.11

Parabéns, Raquel Camarinha

Visitando o sítio da nova WEB Rádio - Antena 2 Ópera (via Outras Escritas), deparei com mais uma excelente notícia que já tem um mês: Raquel Camarinha, vencedora do Concurso de Canto Luísa Todi com Carlos Cardoso, recebeu em Outubro o primeiro prémio no Concurso e Festival de Ópera Armel 2011, na Hungria.

Raquel Camarinha e Wassyl Slipak

Ei-la, na final, cantando Aux langueurs d'Apollon, Daphné se refusa, da ópera "Platée", de Rameau:

13.11.11

Sozinho no Outono


Der Einsame im Herbst (Parte II de "Das Lied von der Erde")

Herbstnebel wallen bläulich überm See;
vom Reif bezogen stehen alle Gräser;
man meint', ein Künstler habe Staub vom Jade
über die feinen Blüten ausgestreut.

Der süße Duft der Blumen ist verflogen;
ein kalter Wind beugt ihre Stengel nieder.
Bald werden die verwelkten, goldnen Blätter
der Lotosblüten auf dem Wasser zieh'n.

Mein Herz ist müde.
Meine kleine Lampe erlosch mit Knistern;
es gemahnt mich an den Schlaf.
Ich komm zu dir, traute Ruhestätte!
Ja, gib mir Ruh, ich hab Erquickung not!

Ich weine viel in meinen Einsamkeiten.
Der Herbst in meinem Herzen währt zu lange.
Sonne der Liebe, willst du nie mehr scheinen,
um meine bittern Tränen mild aufzutrocknen?
 
A névoa azulada de Outono flutua sobre o lago;
cobrindo de geada cada lâmina de relva;
dir-se-ia que um artista espalhou pó de jade
sobre as delicadas florações.

O doce perfume das flores desvaneceu-se;
um vento frio curva as suas hastes.
Em breve, as murchas folhas douradas
das flores de lótus, partirão nas águas.

O meu coração está cansado.
A minha pequena lâmpada extinguiu-se com um estalo;
convencendo-me a dormir.
Venho até ti, caro lugar de repouso!
Sim, dá-me descanso, necessito de conforto!

Choro muito na minha solidão.
O Outono prolonga-se demasiado no meu coração.
Sol do amor, não voltarás tu a brilhar,
e as minhas lágrimas amargas ternamente secar?

(Tradução de Ofélia Ribeiro, num programa de sala da Gulbenkian)

12.11.11

A semana na Gulbenkian

Algumas propostas da Gulbenkian para a próxima semana:
Grigory Sokolov, no Domingo.
Philippe Jaroussky, na segunda-feira.
Artur Pizarro, na terça-feira.
Joana Carneiro, quinta e sexta-feira.

Uma das obras que Pizarro vai tocar é "Goyescas", de Enrique Granados.


E Jaroussky cantará Vedrò con mio diletto, o que fará as delícias da Io.

11.11.11

Un peu grise


A palavra a Glória Saraiva:


O Povo diz:
"Verão de São Martinho são três dias e mais um bocadinho",
relembrando o milagre que aconteceu depois de São Martinho ter socorrido um mendigo enregelado, cortando com a espada a sua capa em duas metades; o sol então terá brilhado como se o Verão tivesse retornado.
Diz ainda o Povo:
"Pelo São Martinho, castanhas assadas, pão e vinho".
Assim se assam castanhas, bebe-se jeropiga ou água-pé, e que melhor, num Magusto, do que a música para nossas tristezas espantar?
Aqui vos deixo a magnífica Elisabete, na interpretação da arietta da opereta "La Périchole", de Offenbach, que foi propositadamente embebedada:
Ah quel dîner je viens de faire

Ah! quel dîner je viens de faire!
Et quel vin extraordinaire!
J'en ai tant bu, mais tant tant tant,
Que je crois bien que maintenant
Je suis un peu grise. Mais chut!
Faut pas qu'on le dise! Chut!

Si ma parole est un peu vague.
Si tout en marchant je zigzague,
Et si mon oeil est égrillard.
Il ne faut s'en étonner, car...
Je suis un peu grise, mais chut!
Faut pas qu'on le dise! Chut!


La Brava Matos, que há poucas semanas cantou em São Carlos Élisabeth de Valois em "Don Carlo", de Verdi, com estrondoso êxito, soma e segue numa carreira cada vez mais internacional e reconhecida.
Pela segunda vez, e após a sua estreia com "La Fanciulla del West" há quase um ano, voltará a pisar as sagradas tábuas do Met de Nova Iorque, já no próximo dia 17 às 7:30 pm. Por cá, estaremos com cinco horas de avanço.

10.11.11

Nocturno

A Lua está cheia e a pedir este Nocturno de António Fragoso, tal como Artur Pizarro o interpretou no CCB há coisa de um ano.

O regresso de Juanita Castro

Tal como prometido, aqui fica a notícia: Miguel Loureiro repõe "Juanita Castro", em data única, com Álvaro Correia, Luz Câmara, Patrícia Andrade, Luísa Brandão e Gonçalo Ferreira de Almeida. É amanhã, 11 de Novembro, na LX Factory.


As Bétulas de Klimt

Foi redescoberta uma pintura de Gustav Klimt que tinha sido adquirida numa exposição em Düsseldorf em 1902 e nunca mais fora mostrada ao público, tendo-se mantido na posse da mesma família até agora. Vai ser leiloada pela Sotheby's.

Margem do lago com bétulas, de Gustav Klimt (1901)
Seeufer mit Birken (Lakeshore with Birches) was executed whilst Klimt was on holiday on the Attersee in the Viennese countryside, where the artist would escape to from the city every summer from 1899. On these rural retreats he would recover from the strain of complex and demanding commissions and would spend his time rowing and rambling amidst the woods by the lakeshore, absorbing the Attersee into his art. This tranquil holiday was particularly needed in 1901 after the storm whipped up in Vienna by his painting Medicine, the sexual symbolism of which shocked the public when it was displayed at the X Secession Exhibition that spring.
(via artdaily.org)

2.11.11

Siegfried - A Máquina


Cena final d'A Valquíria

A máquina voltou a fazer das suas.

(...) At the performance on Tuesday night a malfunction prevented the set from creating the proper configuration for the final scene between the title character and Brünnhilde, when Siegfried awakens her from sleep amid perpetual fire around her and they sing a love duet, the Met said in a statement.
The singers, Jay Hunter Morris and Deborah Voigt, performed the scene in an area at the front of the stage. (...)

1.11.11

What a day, what a day, for an autodafe!




DR. VOLTAIRE.  After the earthquake which destroyed three-quarters of Lisbon, the Holy Inquisition discovered an infallible remedy for preventing such disasters in future.  And the remedy?  To purge the city of its heretics in a splendid auto da fe for the Glory of God and the edification of the general public.

(As he speaks, on the large un­curtained stage, we see the public square in Lisbon.  There is a raised dais for the Grand Inquisitor and his attendant judges.  A gibbet and a whipping post.  Two heretics in tall penitente hoods, kneel before the dais.  The populace is excitedly milling around and singing:)

ONE GROUP.
What a day, what a day,
For an autodafe!
What a sunny summer sky!
What a day, what a day,
For an autodafe!
It's a lovely day for drinking
And for watching people die!
What a perfect day to be a money lender!
Or a tradesman, or a merchant or a vendor!
At a good exciting lynching
People stop their penny pinching
And the tightest fellow turns into a spender!

  SECOND GROUP. 
  What a day, what a day,
  For an autodafe!
  What a lovely day to die!
  Tourist trade, tourist trade,
  Will be coning our way!  
  It’s a bonnie day for business,
  Better raise the prices high!
  For an inquisition day this is a wonder!
  Not a raindrop, not a cloud or sound of thunder!
  So we’ll gaily get polluted
  Watching sinners executed!
  It’s a perfect bit of weather to  get under!
(daqui)

(Voltaire e Lisboa - Candide)