6.10.11

O Outono Quente de 2011

Ontem as chamas chegaram ao Jardim Botânico de Lisboa. O Amigos do Botânico dá-nos conta do que se passou. Leia também, mais abaixo, o comunicado de imprensa da Liga dos Amigos do Jardim Botânico.
(© Amigos do Botânico)




COMUNICADO DE IMPRENSA

Lisboa, 6 de Outubro de 2011


WORLD MONUMENTS FUND COLOCA JARDIM BOTÂNICO DE LISBOA NO OBSERVATÓRIO MUNDIAL DOS MONUMENTOS

Jardim Botânico de Lisboa seleccionado para a WORLD MONUMENTS WATCH de 2012. Lista anunciada publicamente em Nova Iorque.


A WORLD MONUMENTS FUND (WMF) é a mais importante organização privada, sem fins lucrativos, dedicada à preservação de lugares da herança cultural de todo o mundo. Através da sua lista bienal World Monuments Watch, a WMF (www.wmf.org) chama atenção internacional para os perigos que ameaçam os lugares com grande significado histórico, artístico e arquitectónico. A presença na lista World Monuments Watch estimula autoridades locais e comunidades a tomarem um papel activo na protecção do seu património cultural e, quando necessário, ajuda também a angariar fundos para a sua salvaguarda. Os monumentos são seleccionados, de entre as várias candidaturas apresentadas, por um painel de peritos mundiais, incluindo representantes da UNESCO e do ICOMOS.
O JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA foi fundado em 1873 e inaugurado em 1878. O jardim, situado em pleno centro da cidade, foi criado para servir o ensino da Botânica da Faculdade de Ciências. Dentro dos 4.2 hectares do jardim existem importantes colecções, principalmente palmeiras, figueiras e cycas, assim como muitas plantas em perigo. A vegetação luxuriante sub-tropical do jardim desempenha ainda um importantíssimo papel na amenização do clima da cidade, no sequestro de CO2, para além de ser um refúgio para fauna.
O JARDIM BOTÂNICO, o maior jardim do séc. XIX em Lisboa, exibe uma grande diversidade de plantas recolhidas em várias partes do mundo. É um notável banco vivo de biodiversidade. O Jardim Botânico está classificado como Monumento Nacional.
O FUTURO DO JARDIM ESTÁ AGORA AMEAÇADO com o Plano de Pormenor do Parque Mayer que propõe mais de 25 mil m2 de nova construção nos logradouros e outras parcelas de terreno em plena zona de protecção do monumento. Este projecto municipal, embora iniciado com o objectivo de reabilitar o jardim e o seu bairro, terá impactos negativos que ultrapassam em muito as imaginadas vantagens a curto prazo: alteração radical da envolvente urbana histórica do jardim, parcelas de terreno ilegalmente impermeabilizadas no passado serão premiadas com a sua legalização, a cerca pombalina do jardim ficará obstruída com duas novas frentes urbanas de 1 a 3 pisos.
Também um insuficiente financiamento, uma crónica falta de funcionários, e uma grave falta manutenção ameaçam há muitas décadas a sobrevivência e integridade do Jardim Botânico de Lisboa – como demonstrado recentemente pelo incêndio de ontem, dia 5 de Outubro.
A LIGA DOS AMIGOS DO BOTÂNICO (LAJB) é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, fundada em 1986 com a objectivo de defender, apoiar e promover o Jardim Botânico de Lisboa e a sua missão. A candidatura do Jardim Botânico para a WMF foi submetida pela LAJB.
Com a ajuda da WMF e a PLATAFORMA EM DEFESA DO JARDIM BOTÂNICO* (formada por 13 ONG) a LIGA DOS AMIGOS DO JARDIM BOTÂNICO continuará a trabalhar na protecção do Jardim. A Plataforma exige a suspensão da actual versão do Plano de Pormenor e a sua substituição por uma solução mais consensual, menos intrusiva para o Jardim e a cidade.
As pontuais alterações realizadas após consulta pública são mínimas e inócuas, não reflectindo a ampla e qualificada participação da sociedade civil. A CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA optou por retirar questões pontuais demitindo-se de fazer uma reflexão mais conceptual e de fundo como era pedido pelas 13 (treze) organizações não governamentais da PLATAFORMA EM DEFESA DO JARDIM BOTÂNICO.
Fazemos votos para que a ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE LISBOA se junte à chamada de atenção da WMF e promova uma genuína revisão do Plano de Pormenor. A versão do Plano aprovado não reflecte as visões e aspirações dos cidadãos. O JARDIM BOTÂNICO e a sua envolvente merecem mais e melhor. Precisamos de um Plano de Pormenor mas não deste.
É uma responsabilidade de todos garantir que o JARDIM BOTÂNICO continue a ser um lugar do saber, da investigação e de recreio para as gerações futuras. A cidade não pode ser feita contra os cidadãos mas COM os cidadãos.

Para mais informações, por favor contactar:
LIGA DOS AMIGOS DO JARDIM BOTÂNICO
TM: 919256973 ou TM. 935587982

*PLATAFORMA EM DEFESA DO JARDIM BOTÂNICO DE LISBOA:
Associação Árvores de Portugal
APAP - Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas
AAP - Associação dos Arqueólogos Portugueses.
Associação Portuguesa de Jardins e Sítios Históricos
Associação Lisboa Verde
Cidadãos pelo Capitólio
Fórum Cidadania Lx
GECoRPA - Grémio do Património
Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades
LAJB - Liga dos Amigos do Jardim Botânico
OPRURB - Ofícios do Património e da Reabilitação Urbana
Quercus - Núcleo de Lisboa
LPN - Liga para a Protecção da Natureza

Sociedade Central de Cervejas

(©)

No dia 6 de Outubro de 1974 todo o país se prontificou a oferecer um dia de trabalho voluntário para a Revolução. Toda a gente aderiu e os artistas, necessariamente, também. Amália Rodrigues foi cantar à Central de Cervejas de Lisboa. Depois de interpretar, entre outras coisas, uma versão do "Grândola, Vila Morena" absolutamente estonteante (aquilo parecia quase a "Casta Diva" da Norma, tal as grandes linhas em legato, o clima sonhador, o carácter lírico) recebeu - obviamente - uma tremenda ovação. Há então uma vozinha que se eleva no meio da multidão... a achar mal a ovação. Era a vozinha de um tal Pedro Jordão, ilustre desconhecido. Mas a Amália quis saber por que é que ele discordava do aplauso e foi falar com ele. Bem, embrenharam-se os dois numa discussão monumental. É material verdadeiramente histórico, que ilustra uma fase política do país, uma fase na vida da Amália, e, infelizmente, tira do pó total do esquecimento um zé-ninguém da música portuguesa.
Eis a discussão:

                       
   
Jorge Rodrigues