26.1.13

Temporada


Informa o Público que foi anunciada ontem uma temporada de Ópera no Teatro de São Carlos, a acontecer entre 10 de Abril e 11 de Maio. Comemora-se o bicentenário de Verdi com a sua trilogia - "Il trovatore", "La Traviata" e "Rigoletto" -, mas diz que não há dinheiro para mais e Wagner fica de fora. Para já, foram adiantados os nomes de três cantores: Agostina Smimmero, Giovanni Furlanetto e Joana Seara.

Grace Bumbry na Ópera de Viena

Em Viena pode-se ir à Ópera todas as noites por três ou quatro euros. Oitenta minutos antes do início das récitas começa a venda dos lugares de pé, situados ao fundo da plateia, no balcão e na galeria. Porém, não se assuste o leitor: os Stehplätze estão munidos de suportes à altura dos cotovelos, pelo que o problema maior poderá não ser virem a doer-lhe as cruzes, mas, sim, começar a sentir as pernas derreadas. Alguns clientes habituais da Staatsoper é o que fazem, assim como turistas acidentais que debandam à primeira oportunidade, após terem recheado as máquinas fotográficas com as suas caras à frente das vistas do interior da Ópera de Viena.
Foi assim que me surgiu a oportunidade rara de ver A Dama de Espadas de Tchaikovsky. Rara porque a ópera não é frequentemente apresentada, e raríssima porque a Condessa era Grace Bumbry. Marina Poplavskaya já fora substituída (por motivo de doença) por Hasmik Papian no papel de Lisa e Neil Shicoff também foi substituído na récita de 19 de Janeiro por Marian Talaba. Tratava-se da reposição da encenação que se vê lá em baixo, de Vera Nemirova, mas agora com a estreia do nosso conhecido maestro Marko Letonja na Ópera de Viena.

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A presença e a voz de Grace Bumbry valeram a noite. Não há como negar que as suas entradas em cena ofuscavam todos à sua volta e faziam-nos esquecer que a produção não era bonita e tinha pouco interesse. Foi ela quem recebeu os maiores aplausos da noite. Muitos dos que lá estavam, quando forem velhinhos, poderão dizer que ainda ouviram Grace Bumbry ao vivo.



"Pique Dame" (em Bildergalerie há mais.)

25.1.13

Nabucco em Viena

Se não gostam de música, por que é que encenam Ópera?
Esta é a questão que me tem ocupado os dias. E ainda: se encontrarem por aí um tal de Günter Krämer, dêem-lhe uns açoites por mim. Posso estar a chover um bocadinho no molhado, que o tema dos encenadores já devia ter dado o que tinha a dar, contudo o que aquele senhor fez não se faz. Mesmo dando de barato que as actualizações são um dado adquirido e que é cada vez mais difícil fugir delas, até na ainda há pouco tempo conservadora Ópera de Viena, se se roubar a "Nabucco" o carácter histórico-bíblico, deixa de haver "Nabucco". Pior ainda quando se corta a repetição das cabaletas de Abigaille e de Nabucco. Se o que se vê não faz sentido, também a música e os cantores saem prejudicados pela vontade ditatorial do tal senhor. Quando estamos preparados para que Elisabete Matos repita o seu resplendente Salgo già del trono aurato, vem o corte. Não é justo. E isto acontece porquê? Porque, apesar de se tratar de uma reposição, a produção original saiu assim da cabeça do senhor que manda.

Dito isto, o elenco foi como segue:

Jesús López-Cobos | Maestro
Andrzej Dobber | Nabucco
Elisabete Matos | Abigaille
Michele Pertusi | Zaccaria
Dimitrios Flemotomos | Ismaele
Monika Bohinec | Fenena
Simina Ivan | Anna
Janusz Monarcha | Oberpriester des Baal
Jinxu Xiahou | Abdallo

Apesar de nem todos os cantores terem estado à altura do que se espera de um "Nabucco" na Ópera de Viena, houve a orquestra, houve López-Cobos, o excelente Zaccaria de Pertusi e a brilhante estreia de Elisabete Matos na Wiener Staatsoper. No final das récitas lá estavam os admiradores à espera dos autógrafos, expressando o desejo de que Elisabete Matos regresse a Viena, alguns empunhando fotografias impressas a partir de imagens como esta (para a próxima tentarei não me esquecer de cobrar os direitos de autor).

"Nabucco" na Ópera de Viena (Bildergalerie)

Jardim Botânico de Coimbra

"Consequência do temporal que assolou o País, o Jardim Botânico de Coimbra encontra-se encerrado ao público por razões de segurança! É uma pequena tragédia, sobretudo porque há árvores centenárias que caíram... A Terra Líquida esteve, há muito pouco tempo, a filmar este lindíssimo local. Existe a vontade comum de constituir uma parceria entre a Direcção do Botânico e a TLFilmes para produzir uma série de televisão - e este pequeno filme serve, basicamente, para apresentar o projecto a possíveis patrocinadores."

Ricardo Espírito Santo

17.1.13

O Ouro da Casa



Felizmente há comemorações! A Orquestra Sinfónica Portuguesa celebra os seus vinte anos de vida e vai apresentar-se em cinco concertos ao longo do mês de Fevereiro, a começar logo no dia 2 com um programa dedicado aos três compositores deste ano: Verdi (200 anos), Wagner (200 anos) e Britten (100 anos). Elisabete Matos é a convidada da noite. No Sábado seguinte, dia 9, calha a Artur Pizarro o Concerto nº 2 de Brahms. Ficam estes dois destaques, mas o resto da programação promete.

Ainda em Janeiro, no dia 26, há Chostakovitch e Rachmaninov. Deste, Os Sinos, com a participação de Dora Rodrigues, Mário João Alves e Luís Rodrigues.

Para o calendário da programação do Teatro de São Carlos (para já é o que há), siga o link.

13.1.13

O Concerto

© Hardmusica

É difícil contar em poucas palavras as emoções que sentimos ontem no Teatro de São Carlos. Casa cheia para celebrar os vinte e cinco anos de carreira de Elisabete Matos e ouvir um programa raro. Raríssimo, em qualquer parte do Mundo, como disse a Maestra Enza Ferrari após o concerto, ainda com os olhos húmidos e a voz embargada.
Elisabete Matos escolheu um programa extenso e exigente, composto por cenas e algumas árias de quatro óperas de grande peso na sua carreira, em vez da mais fácil sucessão de árias célebres de óperas diversas. Para isso convidou alguns amigos, ao lado de quem tem pisado muitos palcos, como Aquiles Machado e Juan Pons, o enorme barítono menorquino que recentemente se despediu dos palcos no Liceu de Barcelona. De cá, não podiam faltar Carlos Guilherme e Elvira Ferreira, com quem Elisabete se estreou. E a reacção do público foi muito sentida quando eles entraram no palco, primeiro Carlos Guilherme, em "Macbeth", depois Elvira Ferreira, como Liù em "Turandot". Oportunidade rara também para eles. Se não estou enganado, Elvira Ferreira não cantava no Teatro de São Carlos desde a última "Turandot" que lá houve, quando a sua Liù deixou o Teatro em lágrimas. (Actualização: Elvira Ferreira cantou a Liù em 2004 e a Berta, d'O Barbeiro de Sevilha, em 2006.)

O concerto começou com "Le Cid", ópera que Elisabete cantou com Plácido Domingo em Sevilha e em Washington. Ouvimo-la, a abrir o festival de emoções fortes, com Dora Rodrigues, no dueto de Chimène com a Infanta, depois na ária Pleurez! pleurez mes yeux e no dueto com Rodrigue. Aquiles Machado encerrou a primeira secção com Ô souverain, ô juge, ô père.
Seguiram-se cenas de "Macbeth". Elisabete Matos estreou-se na Ópera do Reno, em Estrasburgo, com o papel de Lady Macbeth. Além da sua ária La luce langue e do Brindisi, ouvimos também os solos de Carlos Guilherme e de Juan Pons.

Na segunda parte veio Puccini e a esperada "La Fanciulla del West", a ópera da estreia de Elisabete no Met: Laggiù nel Soledad e a cena do II acto com Aquiles Machado (Dick Johnson) e a participação de Sofia Pinto como Wowkle.
A fechar o programa operático, naturalmente, "Turandot". Sónia Alcobaça entrou com Signore ascolta, depois Elisabete Matos surgiu ao fundo do palco, por trás do coro, e daí lançou In questa reggia e a subsequente cena dos enigmas para o Calaf de Aquiles Machado. Aqui tivemos também a presença de Francisco Reis como Imperador Altoum e a participação do Coro Juvenil de Lisboa (mil vezes perdão ao Coro Juvenil de Lisboa, a quem, por lapso, eu tinha chamado Infantil - um coro de grande qualidade, note-se), dirigido por Nuno Lopes. Como sói dizer-se, a casa veio abaixo. Elvira Ferreira cantou a morte da sua Liù e Aquiles Machado fechou com Nessun dorma.

Criando um ambiente inesperadamente mais intimista, Elisabete Matos reapareceu com Sofia Pinto, Enza Ferrari, a Maestra, e o Coro Juvenil de Lisboa, para encerrar a noite com uma comovente homenagem ao pai: Papa, can you hear me?

O ambiente estava ao rubro. Raramente se vê um entusiasmo do calibre do de ontem à noite no Teatro de São Carlos. Pela parte do público e pela parte da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do Coro do Teatro Nacional de São Carlos, totalmente galvanizados por Elisabete Matos e com a direcção seguríssima de Miquel Ortega, que já tinha vindo a Lisboa a convite seu, aquando do também inesquecível Concerto de Ano Novo de 2012. A Gala de ontem ficará também seguramente na memória de todos os que lá estiveram. Um privilégio, poderá dizer-se, já que, mais uma vez, as câmaras de televisão não se dignaram aparecer para que o concerto pudesse ser visto em todo o país. Um privilégio também para os cantores portugueses convidados, os menos jovens e os que estão a dar os primeiros passos. Como disse Elvira Ferreira, a responsabilidade de cantar num concerto como o de ontem era enorme, porque não é todos os dias que uma cantora como Elisabete Matos comemora vinte e cinco anos de carreira.


© Behance

8.1.13

Elisabete Matos - 25 anos de carreira

Foi com um enorme prazer que este que vos escreve aceitou o convite para participar na preparação do livro comemorativo dos vinte e cinco anos de carreira de Elisabete Matos. Estão agora os caríssimos leitores convidados a assistir à apresentação do dito na próxima sexta-feira, dia 11, pelas 7 da tarde, no Teatro Nacional de São Carlos. As honras caberão ao compositor e violetista Alexandre Delgado.


No dia seguinte, 12 de Janeiro, temos concerto.

2.1.13

Elisabete Matos - Gala 25 anos de carreira

                                   Eis o programa:


                                   (Bilheteira do Teatro Nacional de São Carlos)