Os dedos abençoados de Artur Pizarro voltaram a encantar-nos, ontem à noite, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, com um programa composto por duas obras que homenageiam a pintura: "Goyescas" (1911), de Granados, e "Quadros de uma Exposição" (1874), de Mussorgsky. Mussorgsky compôs a sua suite após ter visitado uma exposição de desenhos e aguarelas de Viktor Hartmann.
(do programa de sala [pdf]) |
Pizarro esteve sublime no modo como interpretou as várias emoções da Promenade que nos vai levando pela exposição, guiando-nos entre os vários quadros, separando-os e ligando-os. Il vecchio castello, o segundo quadro, é um dos momentos mais belos da suite e foi magistralmente tocado, com uma enorme leveza e uma sensibilidade tocante. E as notas vigorosas de A grande porta de Kiev só não ressoam ainda na Avenida de Berna porque se lhe seguiram quatro encores quatro (Rachmaninov e Piazzolla). Bravíssimo, Pizarro!
Granados compôs as suas "Goyescas" há cem anos, inspirado pelas obras de Goya que vira no Prado. A sua suite, ao contrário da de Mussorgsky, refere-se mais a ambientes que a quadros específicos. O título do penúltimo "quadro", El amor y la muerte, lembra este capricho e é um dos meus preferidos.
Só foi pena os tossideiros de serviço terem estado tão atiçados e decididos a darem cabo dos nervos a Pizarro e a quem queria ouvi-lo. Se o público não fosse tão diferente do da noite anterior (ver Garden of Philodemus e Fanáticos da Ópera), até poderíamos pensar que tinha havido um surto de tuberculose em Lisboa de um dia para o outro.
Adenda: Entretanto, um pouco de Piazzolla e Quadros de Uma Exposição, tal como Artur Pizarro os tocou ontem na Gulbenkian :