3.7.10

Joana Sem Medo

No início tive medo. Logo após Jorge Rodrigues ter apresentado Joana Carneiro, a Orquestra Gulbenkian e as obras que íamos ouvir, levantou-se uma brisa que fazia voar as pautas e quase derrubava as estantes. Mas não. Joana segurou a batuta destemidamente e o seu gesto logo aplacou a tormenta e deu confiança e voz aos músicos.

Nunca antes tinha visto Joana Carneiro dirigindo uma orquestra e o fascínio foi imediato. Por um lado, uma grande sensibilidade aos detalhes mais líricos das partituras de Tchaikovsky. Por outro, um grande sentido dos tempos e da dinâmica. Depois, quanto mais os cabelos da pequena grande Joana esvoaçavam, levados pelo vento, mais ela aparecia aos nossos olhos possuída pelo som, alargando o gesto com autoridade. Ver Joana Carneiro é um regalo. Uma maestrina que não tem medo da partitura nem da orquestra. Existem actualmente outras mulheres que dirigem nas óperas de Viena, Londres, Berlim, Nova Iorque ou Lisboa. Não são muitas. E não sei se alguma delas já esteve em frente das Filarmónicas de Berlim ou de Viena, que até há poucos anos eram compostas exclusivamente por músicos do sexo masculino. Maestrinas, então, nem pensar. Acredito que seja aterrorizante, mais que não seja pela responsabilidade, subir ao púlpito e olhar para essas orquestras. Contudo, duvido que Joana tivesse medo delas.

As duas obras que constam no programa foram gravadas por Joana Carneiro com a Orquestra Gulbenkian em 2009. Pode ouvir curtos excertos aqui ou aqui.

Joana Carneiro em entrevista a José Fialho Gouveia, no programa "Bairro Alto".