Hoje, como sempre a 7 de Dezembro, é dia de inauguração da nova temporada do Teatro alla Scala e a ópera escolhida para o efeito foi "La Traviata", nem menos. Diana Damrau e Piotr Beczala serão Violetta e Alfredo. Mara Zampieri também lá estará, como Annina. O maestro será Daniele Gatti e a encenação é de Dmitri Tcherniakov. Comemora-se ainda o bicentenário de Verdi e celebra-se Santo Ambrósio. Que ele nos valha.
A transmissão, em diferido, começa pelas 19h49!
(Adenda: Fica disponível, para quem não viu, durante vinte e oito dias.)
No dia de hoje, há duzentos anos, nascia Giuseppe Fortunino Francesco Verdi. Parabéns ao Mestre.
Elisabete Matos em concerto com a Orquestra Nacional do Porto, sob a direcção de Marc Tardue, no dia 13 de Janeiro de 2001 (Coliseu do Porto): Ritorna vincitor.
E com a mesma orquestra, também no Coliseu do Porto, a 26 de Outubro de 2002. Desta vez, a direcção coube a Giuliano Carella: Pace, pace, mio Dio.
Se não gostam de música, por que é que encenam Ópera?
Esta é a questão que me tem ocupado os dias. E ainda: se encontrarem por aí um tal de Günter Krämer, dêem-lhe uns açoites por mim. Posso estar a chover um bocadinho no molhado, que o tema dos encenadores já devia ter dado o que tinha a dar, contudo o que aquele senhor fez não se faz. Mesmo dando de barato que as actualizações são um dado adquirido e que é cada vez mais difícil fugir delas, até na ainda há pouco tempo conservadora Ópera de Viena, se se roubar a "Nabucco" o carácter histórico-bíblico, deixa de haver "Nabucco". Pior ainda quando se corta a repetição das cabaletas de Abigaille e de Nabucco. Se o que se vê não faz sentido, também a música e os cantores saem prejudicados pela vontade ditatorial do tal senhor. Quando estamos preparados para que Elisabete Matos repita o seu resplendente Salgo già del trono aurato, vem o corte. Não é justo. E isto acontece porquê? Porque, apesar de se tratar de uma reposição, a produção original saiu assim da cabeça do senhor que manda.
Dito isto, o elenco foi como segue:
Jesús López-Cobos | Maestro
Andrzej Dobber | Nabucco
Elisabete Matos | Abigaille
Michele Pertusi | Zaccaria
Dimitrios Flemotomos | Ismaele
Monika Bohinec | Fenena
Simina Ivan | Anna
Janusz Monarcha | Oberpriester des Baal
Jinxu Xiahou | Abdallo
Apesar de nem todos os cantores terem estado à altura do que se espera de um "Nabucco" na Ópera de Viena, houve a orquestra, houve López-Cobos, o excelente Zaccaria de Pertusi e a brilhante estreia de Elisabete Matos na Wiener Staatsoper. No final das récitas lá estavam os admiradores à espera dos autógrafos, expressando o desejo de que Elisabete Matos regresse a Viena, alguns empunhando fotografias impressas a partir de imagens como esta (para a próxima tentarei não me esquecer de cobrar os direitos de autor).
Hoje comemora-se o 199º aniversário de Giuseppe Fortunino Francesco Verdi. Nem de propósito, acabou de vir parar-me às mãos este pedaço de um concerto da Accademia Teatro alla Scala com a participação de Carlos Cardoso.
(Se tiver dificuldades com o visionamento, tente seguir este link.)
A nossa Matos faz hoje aninhos e comemora-os na Coruña porque no próximo Sábado canta a Abigaille ao lado do Nabucco de Leo Nucci. Parabéns, Elisabete. E toi toi tois.
Para quem ainda não viu, já só sobram três récitas (18, 20 e 23 de Outubro). E se não puder mesmo deslocar-se ao Teatro de São Carlos, terá a possibilidade de ouvir a de dia 18 em directo na Antena 2.
É difícil escrever sobre o que se passou ontem à noite no Teatro de São Carlos, tal é o tamanho da emoção. A emoção de ver e ouvir Elisabete Matos deslumbrante desde a sua entrada em cena, no primeiro dueto com Don Carlos, na romanza em que se despede da Condessa de Aremberg (Non pianger, mia compagna), na cena do III acto com Filipe II, Rodrigo e Eboli, abrindo o IV acto com um Tu che le vanità memorável e terminando-o com um (diz quem sabe) Si natural que parece vir de um outro mundo e que fica a pairar na sala e dentro das nossas cabeças. Ainda aqui está. Tanto a nível vocal como interpretativo, Elisabete foi a Rainha Isabel de Valois.
Felizmente os restantes cantores conferem um bom equilíbrio ao elenco.
Enrico Iori é um grande Filipe II, seguro em todas as cenas, e deu-nos um tocante Ella giammai m'amò, em que Irene Lima brilhou no solo de violoncelo.
O barítono Dimitri Platanias também impressionou como Rodrigo. A voz é muito bonita e ele fraseia muito bem.
Enkelejda Shkosa foi igualmente uma boa escolha para o papel de Princesa Eboli.
A Ayk Martirossian não faltou a autoridade do Grande Inquisidor. Esteve bem no duelo com o rei.
Porém, quem dá o nome à ópera é Carlos de Áustria e Portugal. Giancarlo Monsalve entrou bem mas no II acto começou a ter graves problemas nos agudos. Antes do início do III acto o público foi informado da indisposição do tenor, que ainda assim continuaria em cena até ao final da récita. Foi penoso. O público sofreu com ele cada nota. E foi-o também, certamente, para os restantes cantores, o que nos traz de volta Elisabete Matos. O IV e último acto é deles. É o sublime dueto de despedida, que estava agora naturalmente comprometido. Salvou-o a arte e a classe de Elisabete. Como terá ela conseguido cantar um Tu che le vanità de antologia quando, sabemo-lo, estava em pânico (ela e nós), temendo pelo que viria a seguir?
Dito isto, podemos acrescentar que ontem se assistiu no Teatro de São Carlos a uma récita à antiga, inesquecível, com direito a pateada e tudo. Depois dos muitos aplausos ao coro, aos solistas (também a Giancarlo Monsalve, que pediu desculpas ao público - votos de uma rápida recuperação), à orquestra, ao maestro Martin André, eis que sobe ao palco a equipa do encenador Stephen Langridge, logo brindada com um expectável coro de buuus. Não percebi se ele próprio sabe por que razão actualizou a acção para a década de 1950. Se calhar foi apenas porque sim. Diz Langridge, em entrevista a Jorge Rodrigues publicada no programa de sala: "A história não é irrelevante, mas esta ópera não é sobre história [...] A sua conexão com a realidade é ténue. Consiste apenas nos nomes e numa mescla de mitos que sobre esses nomes se construíram e de que Verdi se serviu para estudar a Humanidade. É por isso que a acção não foi situada no século XVI, pois não é realmente importante." E mais à frente: "Eu quis actualizar. Não quis, porém, fazer com isto uma sátira a um tempo específico. De outro modo, não conservaria o auto-da-fé." E ainda, à pergunta Acha que esta ópera não pode ser compreendida se a acção for passada no século XVI?: "Não, não há problema algum com isso. [...] usámos um método analítico e lógico trabalhando neste Don Carlo. Mas também trabalhamos com o instinto, e avançamos na direcção indicada e desejada pelos sentimentos. Por muito tempo, enquanto trabalhávamos, pensámos que iríamos colocar a acção em 1568. Relativamente tarde, quisemos alterar; foi uma questão de instinto, que agarrámos." Ficámos esclarecidos.
Os restantes papéis estiveram a cargo de Mário Redondo (Monge), Joana Seara (Tebaldo e Uma Voz), Marco Alves dos Santos (Arauto Real) e Bruno Almeida (Conde de Lerma).
(Nota: As fotos foram tiradas durante a fase de ensaios.)
Informa-nos o Raul que morreu o grande barítono americano Cornell MacNeil. Tinha 88 anos. Ouçamo-lo como Amonasro, na célebre "Aida" de Karajan, onde confronta Renata Tebaldi no famoso dueto do Terceiro Acto, o momento clímax da ópera.
Mais logo, pelas 20h30, Natalie Dessay estará no Théâtre de l'Archevêché, em Aix-en-Provence, como Violetta Valéry. "La Traviata" será transmitida em directo pelo canal ARTE e também pelo ARTE live WEB. Não podendo estar lá, é o que se arranja.
Mais logo o Met vem novamente à Avenida de Berna. Canta-se "Il Trovatore".
D'amor sull'ali rosee
Vanne, sospir dolente:
Del prigioniero misero
Conforta l'egra mente...
Com'aura di speranza
Aleggia in quella stanza:
Lo desta alle memorie,
Ai sogni dell'amor!
Ma deh! non dirgli, improvvido,
Le pene del mio cor!
Fui para a Gulbenkian cheio de vontade de gostar e gostei. Bem sei que sou suspeito, que "Don Carlo" é a minha ópera preferida de Verdi; longa como convém, ao menos sai-se de barriguinha cheia. Mais ainda se a esplêndida orquestra do Met é dirigida por um jovem enérgico como Yannick Nézet-Séguin, de quem eu nunca antes tinha ouvido falar.
Yannick Nézet-Séguin
Agora, os técnicos de som responsáveis pelas transmissões em directo do Met deviam rever a questão das vozes. Se a voz desinteressante e incaracterística de Poplavskaya é pequena e a de Keenlyside talvez também não seja muito grande, já as de Alagna e de Smirnova são enormes e surgiram com um volume quase assustador por cima da orquestra. Dito isto, vamos ao que interessa, que já passou mais de uma semana.
Simon Keenlyside
O mais gratificante foi rever Roberto Alagna (Carlo) num dos papéis da sua vida e notar que recuperou a forma. Sem a frescura de há catorze anos, esteve glorioso nas cenas com Keenlyside (Rodrigo) mas não só. Disse o crítico a propósito da estreia: whenever he was joined by the baritone Simon Keenlyside, who sang Rodrigo, the Marquis of Posa and Carlo’s devoted friend, Mr. Alagna opened up in every way.
Keenlyside convenceu mais pelas suas excelentes capacidades cénicas que vocalmente. Esteve muito bem no primeiro dueto com Carlos e, no IV acto, excedeu-se na cena da morte.
Não encontro expressividade nem voz em Marina Poplavskaya (Elisabetta) que justifiquem o seu sucesso em Londres e Nova Iorque. No tempo em que vivemos, o da ditadura do visual, talvez a principal razão seja a sua figura ficar bem no ecrã. Eu prefiro uma cantora que tenha voz para o papel.
A personagem da Princesa de Eboli foi interpretada por Anna Smirnova, dona de uma voz impressionante mas pouco flexível e por vezes fora de tom e descontrolada, como no terceto com Carlos e Rodrigo - Trema per te.
O duelo dos baixos Ferruccio Furlanetto (Filipe II) e Eric Halfvarson (Grande Inquisidor) é um dos momentos-chave de "Don Carlo". Acontece imediatamente a seguir a Ella giammai m'amò, a grande ária do rei de Espanha. Não terá sido inesquecível, mas ambos cumpriram os respectivos papéis muito dignamente, embora de ambos já transpareça um certo cansaço vocal. Em 2008, em Londres, foi assim:
Termino com uma chamada de atenção para as opiniões da Io, da Gi, do Joaquim, do Blogger, do Dissoluto, do Plácido e do José. Umas mais parecidas com a minha, outras mais diferentes do que aqui se disse.
Infante Don Carlos (1564) por Alonso Sánchez Coello
Kunsthistorisches Museum (Viena)
O tema Don Carlos já aqui respondeu várias vezes à chamada e hoje resolveu reaparecer.
Verdi compôs a ópera "Don Carlos" originalmente com cinco actos e libreto em Francês, a partir do poema de Schiller, mas ainda durante os ensaios para a estreia em Paris (1867) viu-se obrigado a fazer cortes na partitura. Actualmente, com dois intervalos, uma récita ainda é coisa para durar umas magníficas quatro horas e meia bem contadas.
Monumento a Schiller em Viena
Um dos trechos sacrificados foi Qui me rendra ce mort?, que Filipe II cantaria depois da morte de Rodrigo. Essa melodia foi mais tarde reciclada pelo compositor, que a adaptou ao Lacrimosa do seu Requiem.
Ao longo de quase duas décadas sucederam-se alterações à partitura de "Don Carlos". Para Itália Verdi apresentou uma versão em quatro actos, já em Italiano, nascendo assim "Don Carlo", e ainda uma outra com cinco actos. Por esta e por outras razões - não existe uma versão definitiva -, há quem considere "Don Carlo" uma ópera com muitas imperfeições.
Em 1996 Paris e Londres puderam assistir ao "Don Carlos" mais próximo daquilo que Verdi inicialmente idealizou: um "Don Carlos" quase wagneriano. Nessa produção de Luc Bondy, apresentada no Théâtre du Châtelet e depois em Covent Garden, foram utilizados vários fragmentos entretanto encontrados em arquivos. Um exemplo é Qui me rendra ce mort?, que José van Dam interpretou como se ouve e vê aí em cima.
Roberto Alagna, que se estreou no papel de Don Carlos nessa produção memorável, repetindo-o em Londres, não voltou a cantá-lo até à passada segunda-feira, em Nova Iorque, desta vez em Italiano (crítica em The New York Times). No próximo dia 11 de Dezembro ele estará simultaneamente no Met e na Avenida de Berna e os bilhetes estão quase esgotados.
Simon Keenlyside interpretou em Londres (2009) a personagem de Rodrigo, Marquês de Posa, na nova produção de Nicholas Hytner que agora está em Nova Iorque. Também ele virá à Gulbenkian.
Pode ler o argumento da ópera, resumido por Margarida Lisboa, no sítio da Antena 2.
A última vez que se viu "Don Carlo" em Lisboa parece ter sido em 1977. Do elenco faziam parte Mara Zampieri (Tu che le vanità, no Coliseu dos Recreios, com o característico acompanhamento), Cesare Siepi, Viorica Cortez e Elsa Saque. Já era tempo de se pensar nele a sério outra vez.
ADENDA:Um cheirinho do dueto (FB) de Don Carlo e Rodrigo (Alagna e Keenyside) no Met e um outro do dueto de Carlo com Elisabetta:
O coro do Gran Teatre del Liceu saiu à Rambla em protesto contra as restrições orçamentais: corte de 5% nos salários e redução em 10% do número de trabalhadores do teatro.