O tema Don Carlos já aqui respondeu várias vezes à chamada e hoje resolveu reaparecer.
Verdi compôs a ópera "Don Carlos" originalmente com cinco actos e libreto em Francês, a partir do poema de Schiller, mas ainda durante os ensaios para a estreia em Paris (1867) viu-se obrigado a fazer cortes na partitura. Actualmente, com dois intervalos, uma récita ainda é coisa para durar umas magníficas quatro horas e meia bem contadas.
Um dos trechos sacrificados foi Qui me rendra ce mort?, que Filipe II cantaria depois da morte de Rodrigo. Essa melodia foi mais tarde reciclada pelo compositor, que a adaptou ao Lacrimosa do seu Requiem.
Ao longo de quase duas décadas sucederam-se alterações à partitura de "Don Carlos". Para Itália Verdi apresentou uma versão em quatro actos, já em Italiano, nascendo assim "Don Carlo", e ainda uma outra com cinco actos. Por esta e por outras razões - não existe uma versão definitiva -, há quem considere "Don Carlo" uma ópera com muitas imperfeições.
Em 1996 Paris e Londres puderam assistir ao "Don Carlos" mais próximo daquilo que Verdi inicialmente idealizou: um "Don Carlos" quase wagneriano. Nessa produção de Luc Bondy, apresentada no Théâtre du Châtelet e depois em Covent Garden, foram utilizados vários fragmentos entretanto encontrados em arquivos. Um exemplo é Qui me rendra ce mort?, que José van Dam interpretou como se ouve e vê aí em cima.
Roberto Alagna, que se estreou no papel de Don Carlos nessa produção memorável, repetindo-o em Londres, não voltou a cantá-lo até à passada segunda-feira, em Nova Iorque, desta vez em Italiano (crítica em The New York Times). No próximo dia 11 de Dezembro ele estará simultaneamente no Met e na Avenida de Berna e os bilhetes estão quase esgotados.
Simon Keenlyside interpretou em Londres (2009) a personagem de Rodrigo, Marquês de Posa, na nova produção de Nicholas Hytner que agora está em Nova Iorque. Também ele virá à Gulbenkian.
Pode ler o argumento da ópera, resumido por Margarida Lisboa, no sítio da Antena 2.
A última vez que se viu "Don Carlo" em Lisboa parece ter sido em 1977. Do elenco faziam parte Mara Zampieri (Tu che le vanità, no Coliseu dos Recreios, com o característico acompanhamento), Cesare Siepi, Viorica Cortez e Elsa Saque. Já era tempo de se pensar nele a sério outra vez.
ADENDA: Um cheirinho do dueto (FB) de Don Carlo e Rodrigo (Alagna e Keenyside) no Met e um outro do dueto de Carlo com Elisabetta: