27.11.12

Gala de Ópera com Elisabete Matos



Domingo, 9 Dezembro | 19h00
Centro Cultural Vila Flor, Guimarães

A soprano Elisabete Matos associa-se a um espectáculo solidário cuja receita irá reverter a favor da nova Pediatria do Centro Hospitalar de São João.

(Bilheteira online)

A “Gala de Ópera com Elisabete Matos” é um espectáculo solidário com o projecto “Um Lugar pró Joãozinho” que visa erguer a nova Pediatria do Centro Hospitalar de São João com o apoio de donativos privados e que tem como Presidente da Comissão de Honra a Dra. Maria Cavaco Silva. A grande missão deste projecto é construir um Serviço Pediátrico, alicerçado em valores de rigor, compromisso, excelência, integridade, privacidade, partilha e acompanhamento, baluartes de uma Pediatria para o futuro. Ajudando a rasgar novos campos na capacidade do conhecimento para todas as crianças e famílias a quem a condição de estar doente ajudará também a uma consciência da vida e dos seus valores maiores. A soprano Elisabete Matos decidiu associar-se ao projecto e leva um conjunto de jovens solistas portugueses ao concerto que contará com a interpretação da Orquestra Académica da Universidade do Minho sob a batuta do maestro Vítor Matos. A “Gala de Ópera com Elisabete Matos” conta com o apoio da Câmara Municipal de Guimarães.

PROGRAMA
Puccini
Prelúdio Sinfónico (1871), Orquestra Académica da Universidade do Minho
Addio mio dolce amor, "Edgar" (ária de Fidelia), Elisabete Matos
O mio babbino caro, "Gianni Schicchi" (ária de Lauretta), Sofia Pinto
Mi chiamano Mimi, "La Bohème" (ária de Mimi), Dora Rodrigues
Donde lieta usci, "La Bohème" (ária de Mimi), Sofia Pinto
Quando men vo, "La Bohème" (ária de Musetta), Mónica Pais
Interlúdio, "Manon Lescaut" (4ª acto), Orquestra
Se comme voi, piccina io fossi, "Le Villi", Mónica Pais
Recondita armonia, "Tosca" (ária de Cavaradossi), Francisco Reis
Vissi d’arte, "Tosca" (ária de Tosca), Elisabete Matos
Mario, Mario, (até final de dueto), "Tosca" (dueto Tosca e Cavaradossi), Elisabete Matos / Francisco Reis
Tu che di gel sei cinta, "Turandot" (ária de Liù), Dora Rodrigues
In questa reggia, "Turandot" (ária de Turandot), Elisabete Matos
Tu, Tu, Tu, piccolo Iddio, "Madama Butterfly" (ária de Butterfly), Elisabete Matos

Orquestra Académica da Universidade do Minho
Vítor Matos maestro
Elisabete Matos, Dora Rodrigues, Mónica Pais, Sofia Pinto, Francisco Reis solistas

26.11.12

Quel jour de fête!

Magda Olivero, poucos dias antes de comemorar o aniversário nº 100 (©)

Ontem, em Milão, teve lugar a final do Concurso Lírico Magda Olivero. Carlos Cardoso cantou Ah! mes amis... Pour mon âme, de "La Fille du Régiment", e ficou em terceiro lugar. Bravo! Em primeiro e segundo lugares ficaram, respectivamente, Kiandra Howarth e Yeo Ji Won. Ouvejamo-lo!

24.11.12

Prodígios

Já me tinha resignado. Os Filarmónicos estavam em Lisboa e eu não ia ouvê-los; os bilhetes estavam esgotados, parecia, desde sempre. Mas eis que o telefone tocou e, qual prodígio como só a Helena sabe produzir, as coisas arranjaram-se de modo a que alguns dos melhores músicos do Mundo quisessem, na véspera do concerto na Gulbenkian, ir ouvir fados à Mesa de Frades e aí se deixassem encantar pelas melodias, pelas vozes fadistas e pela guitarra portuguesa de Ângelo Freire. Foi bonito ver um violinista, um violetista e um trompista discorrendo sobre as sensações que esta música estranha lhes causava e sobre a técnica de dedilhar seis pares de cordas. "Gosto muito de tocar aqui porque posso fazer experiências; no palco não", disse-lhes Ângelo Freire.



Foi mais ou menos assim que começou o concerto da Orquestra Filarmónica de Berlim. A obra chama-se Atmosphères e foi composta por Ligeti em 1961 e utilizada mais tarde por Kubrik em 2001: Odisseia no Espaço. Não será a peça mais expectável num concerto de tournée dos Berliner Philharmoniker, e no entanto faz todo o sentido apresentá-la como eles o fizeram. É uma peça atmosférica, como o nome indica, e a sua composição, conforme se lê no programa de sala, é "um exemplo perfeito da noção de Ligeti de uma música estática e auto-contida, que aliás tinha antecedentes na história da música, nomeadamente no Prelúdio do Lohengrin". Atmosphères termina num silêncio que Sir Simon manteve por alguns segundos, até entrarem os primeiros acordes de Lohengrin. A passagem de Ligeti para Wagner foi perfeita e arrebatadora.

Depois de Wagner ouviu-se Jeux, de Debussy, uma obra que não me fascina mas que foi magistralmente interpretada, e a primeira parte acabou em ambiente eufórico com a Suite nº 2 de Daphnis et Chloé, de Ravel. O bailado, composto para os Ballets Russes, foi estreado em Paris em 1912. A partir dele, Ravel compôs duas suites, a segunda das quais corresponde à cena final, culminando numa "voluptuosa celebração dionisíaca do amor físico". Vendo aqueles músicos a tocar esta peça, fiquei a pensar se Ravel não teria em mente uma coreografia para orquestra, tal é o efeito visual oferecido ao público ora pelos arcos dos naipes de cordas, ora pelos sopros, ora pela percussão, com o esfuziante Wieland Welzel nos tímpanos. Rattle e os Filarmónicos no seu melhor.

Na segunda parte regressou a contenção. A Renana é uma obra com características contemplativas e não será das sinfonias mais arrebatadoras do reportório. Depois do contagiante Ravel apetecia mais um Mahler ou um Bruckner que as delicadezas de Schumann. Talvez para a próxima, se a Fundação Gulbenkian nos fizer o jeito. Se não for ela, dificilmente voltaremos a ouver a melhor orquestra do Mundo em Lisboa.


(Fotografias de Michael Trippel em The Official Tour Weblog. Ide ver.)

20.11.12

O Jovem Van Dyck

Auto-retrato, Van Dyck, ca. 1615 (© Gemäldegalerie der Akademie der bildenen Künste, Viena)

Ora bem. Se puder ir a Madrid antes de 3 de Março de 2013, deverá não perder a exposição El joven Van Dyck no Museu do Prado.





18.11.12

Por Amor ao Piano

Um documentário de 2008 sobre Sequeira Costa, com a presença de alguns dos seus pupilos, entre os quais Artur Pizarro. Sem papas na língua, o Mestre fala do panorama musical, o português e não só.


17.11.12

Berliner Philharmoniker

“a música não é um luxo mas sim uma necessidade como o ar que respiramos e a água que bebemos”

Ainda a propósito da visita dos Filarmónicos, a Io informa que o Goethe-Institut organizou um programa com o tema "Berliner Philharmoniker em Lisboa – Conheça o projecto de uma orquestra excepcional". Começa já na segunda-feira. Para os detalhes, o melhor mesmo é ir aqui.

14.11.12

Os Filarmónicos


Faltam menos de dez dias para o concerto da Orquestra Filarmónica de Berlim com Sir Simon Rattle na Gulbenkian. O evento encontra-se esgotado, pois. Do programa constam obras de Ligeti, Wagner e Debussy, Daphnis et Chloé (Suite nº 2) de Ravel e a Renana de Schumann.

Um pequeno excerto da obra de Ravel, pelos Filarmónicos, mas dirigidos aqui por Yannick Nézet-Séguin:



Também no dia 23 de Novembro, mas ao meio-dia, talvez pensando em quem não conseguiu arranjar um lugarzinho para a noite, o Ensemble de Metais da Berliner Filarmoniker vai dar a Volta ao Mundo em 50 Minutos.

Amadeo, 125 anos

Amadeo de Souza-Cardoso com os amigos Domingos Rebelo, Emmérico Nunes, Manuel Bentes e José Pedro Cruz
numa paródia a "Los Borrachos", Paris, 1908

13.11.12

Ah! mes amis, quel jour de fête!

(©)

Há poucos dias teve lugar mais um concerto dos solistas da Academia do Teatro alla Scala, acompanhados pelo pianista Michele D'Elia. Carlos Cardoso cantou a ária de Tonio, Ah! mes amis, quel jour de fête!, de "La Fille du Régiment", tal como acabou de me chegar às mãos. Ei-la:

8.11.12

La Gioconda em Roma

Elisabete Matos, Ekaterina Semenchuk e Aquiles Machado

Roma é eterna. Já correu muita água sob as pontes que atravessam o Tibre desde que o vi nos últimos dias de Outubro, mas as pedras da Roma imperial lá estarão a contar a História de sempre e Santa Teresa continuará em êxtase. As cúpulas erguem-se imponentes, poderosas, cobrindo as pinturas e as talhas mais assombrosas que olhos humanos possam admirar. As cores de Roma, as praças de Roma, as fontes de Roma, os pinheiros de Roma, as esculturas de Michelangelo nas igrejas de Roma, Roma.


Havia quase vinte anos que não se ouvia "La Gioconda" em Roma. A última Gioconda tinha sido Ghena Dimitrova; agora foi a vez de Elisabete Matos, que já antes cantara o papel em Tóquio, aí interpretar a personagem da cantora de Veneza que se suicida para não cair nas mãos do pérfido Barnaba. Ponchielli compôs a música para o libreto de Tobia Gorrio (pseudónimo de Arrigo Boito) baseado numa obra de Victor Hugo. A sinopse pode ser lida aqui.

Madre! Enzo adorato! Ah come t'amo!

Como convém, a acção desenrola-se num crescendo dramático de grande intensidade, com uma descontracção visual pelo meio, característica da Grande Ópera à francesa - a Dança das Horas -, culminando no IV acto com o anúncio do suicídio por Gioconda e, finalmente, a sua morte.

Talvez deva começar por dizer que o espectáculo, no seu todo, foi um sucesso enorme. A encenação de Pier Luigi Pizzi é tradicional, com cenografia e guarda-roupa simples e pouco aparatosos, mas eficazes e evocativos das pontes, das gôndolas e das festas da Veneza do século XVII. A orquestra, dirigida por Roberto Abbado, sobrinho de Claudio, soou sempre muito bem, afinada e certinha. No entanto, uma ópera como "La Gioconda", que anuncia o verismo, parece-me pedir uma leitura menos rígida e um pouco mais de emoção.

Tive a oportunidade de assistir a duas das quatro récitas do elenco principal, que se apresentou muito equilibrado e com cantores de grande nível. Elisabetta Fiorillo, no papel de La Cieca, tem uma voz de contralto profunda e enorme; Ekaterina Semenchuk, mezzo-soprano russa, dispõe de um timbre quente e penetrante e compôs uma belíssima Laura; Roberto Scandiuzzi, um baixo de voz nobre, com vários Filippo II e Boris Godunov no currículo, é um Alvise imponente; o barítono Claudio Sgura foi o vil Barnaba, impressionante tanto vocal como cenicamente; Aquiles Machado pode não ter o tipo de voz ideal para interpretar Enzo Grimaldo, mas vestiu muito bem a personagem e esteve em grande forma; dos papéis secundários, destaque para Enrico Iori - que foi Filippo II no "Don Carlo" de Lisboa - como Zuane.
Terminemos em grande, com a nossa Gioconda, porque é um privilégio ver e ouvir Elisabete Matos num dos papéis maiores do reportório de soprano dramático. A Gioconda exige uma cantora que detenha graves potentes, agudos cintilantes e um registo médio seguro. Em troca, oferece-lhe dificuldades técnicas várias, principalmente no IV acto. E foi aqui que Elisabete Matos conseguiu exceder-se a si própria. Depois de um Suicidio arrepiante, deu-nos mais uma série de momentos brilhantes na cena com Enzo e Laura (imagem no topo) e assim continuou, crescendo até ao encontro final com Barnaba (Ora posso morir).

Volesti il mio corpo, demon maledetto? E il corpo ti do!
(Si trafigge nel cuore col pugnale.)


Numa época em que pairam nuvens negras sobre os teatros (as de lá menos negras que as nossas) e em que o futuro se mostra incerto, e tendo em conta que não haverá dinheiro para grandes produções no Teatro de São Carlos, se me deixassem mandar, esta Gioconda viria a Lisboa, nem que fosse em versão de concerto.