2.2.10

Vai Fermosa e Bem Segura

Depois de Nápoles (2003) e Sevilha (2008), foi Madrid que pôde ouver Elisabete Matos interpretando Senta. Recordo agora as palavras que Jorge Rodrigues escreveu aqui a propósito da sua Tosca em Lisboa, já que a História insiste na repetição:

(...)
Havia um senão, enorme, em toda esta felicidade – Elisabete Matos continuava a não cantar em São Carlos um papel a sério; isto é, um daqueles papeis maiores que são oferecidos às divas (poucas pessoas há que merecem este tratamento, mas Elisabete Matos merece-o! – porque divas são as deusas que nos transportam emocionalmente para outras esferas). Um daqueles papeis que pela sua complexidade vocal e dramática só podem ser efectivamente defendidos por quem tenha um material vocal excepcionalíssimo e um material emocional que se traduz em representação de arromba. Embora os cantasse regularmente em palcos como os do Scala, do San Carlo de Nápoles, do La Fenice, etc., etc., etc. (...) Estava a repetir-se aquela merdosa atitude que é comum no nosso país – quem sobressai pela qualidade, zás, é logo atacado. E, invariavelmente, por gente miserável. É que quando me deslocava a Espanha e falava, por exemplo, com o Director do Teatro Real, lá vinha ele com a mesma conversa – “Elisabeta es nuestra!”. Obviamente, eu ficava orgulhoso, mas não deixava de pensar no estuporado país que permitia isto – ainda bem, por outro lado, que Elisabete foi para um país onde as coisas se levam a sério.
(...)

Não dispondo de nenhum registo sonoro ou videográfico que nos mostre como a voz de Elisabete Matos encheu o Teatro Real nas recentes récitas de Madrid - bem o desejaria, pois tanto a sua voz como a personagem se apresentam agora com outra maturidade e segurança -, aqui deixo um excerto de uma gravação de "Der Fliegende Holländer" no Teatro di San Carlo (Nápoles, 2003), quando Elisabete cantava o papel pela primeira vez.



E, ainda, um pedacinho do II acto de "Tosca" no Teatro de São Carlos (2008):



Para terminar, veja-se também como Àlex Rigola encenou o coro dos marinheiros deste Navio Fantasma (aquando da estreia da produção, no Gran Teatre del Liceu, Barcelona, 2007).

O Mentiroso

Há quem diga que o cedro-do-Buçaco é duas vezes mentiroso mas ele mente muito mais. Mente com quantos dentes tem na boca. Cedro-de-Goa, outro nome pelo qual também responde, não é mais fiel à verdade que o mais comum entre nós, e o Cupressus lusitanica nem sequer é natural de terras lusas. Veio à boleia do México até aqui e terá apanhado o barco seguinte para Goa, quando mãos verdes ibéricas andavam a espalhar sementes. Consta que em 1630 já criava raízes na mata do Buçaco.

No Real Jardín Botánico de Madrid também há um exemplar.