19.5.12

Morreu o Cantor




A morte de Dietrich Fischer-Dieskau, há muito temida, aconteceu. Para mim foi o mais completo cantor da segunda metade do século XX, e consequentemente um dos mais importantes da história. Estou, absolutamente, de luto.

A sua voz de um poder imenso e de uma maleabilidade única, o seu preciosíssimo rigor musical e a absoluta entrega dramática e emocional foram postos ao serviço de um repertório absolutamente avassalador – de Monteverdi a Schnittke, com todo o Bach, todo o Mozart, todo o Wagner, todo o Strauss, muitíssimo Verdi e tantos, tantos italianos, no que diz respeito a ópera e a repertório sinfónico de concerto. Quanto ao universo do “lied” e da “mélodie” é verdadeiramente assombrosa a quantidade de obras que interpretou e imediatamente guindou a leituras modelares.

A sua morte é tanto mais inaceitável porque ele era o cantor imortal – a sua voz coexistiu, de facto, com as de Flagstad, Nilsson, Schwarzkopf, Seefried, Ludwig, Stich-Randall, Rysanek, Callas, Tebaldi, Di Stefano, Corelli, Bergonzi, Bastianini, Wunderlich, Domingo, Kraus, Pavarotti… e, no meio destes, conseguiu reinar durante décadas. Que tempos! Que gloriosos tempos!

Dúvidas? Ouça-se Fischer-Dieskau no “Wandrers Nachtlied I” de Schubert – na gravação com Jörg Demus! – e no Monólogo de Amfortas na gravação dirigida por Solti.

Depois, só resta chorar.

Jorge Rodrigues

Wandrers Nachtlied I D 224 by Fischer-Dieskau/demus on Grooveshark