6.4.11

NOTAS DE LONDRES - II (por Jorge Rodrigues)

A Virgem dos Rochedos, detalhe (The National Gallery)

NOTAS DE LONDRES (SEGUNDA, E MAIS IRADA)

Uma ida a Londres, por melhor teatro que se vá ver, não se cinge nunca à representação escolhida.
Eu explico: costumo ficar sempre num hotel muito perto de Trafalgar Square, e uma das coisas que adoro - mas adoro!!! - em Londres é a possibilidade de poder admirar sempre que me der na real gana obras-primas absolutas da pintura. Assim, por exemplo, no sábado passado tinha marcado um encontro com um amigo às dez e meia da manhã, mas acordei mais cedo. Tendo acabado de tomar o pequeno-almoço, e constatando que tinha ainda quarenta e cinco minutos livres, zarpei para a National Gallery, ali em Trafalgar. E – e é aqui que eu quero chegar – na National Gallery entra, quando e se lhe apetecer, desde que respeite os horários de abertura e fecho, qualquer cidadão, de qualquer nacionalidade, completamente de graça. Se não levarmos mochilas e sacos, entra-se por ali dentro como pelos armazéns do Chiado. É igual, não há burocracia de espécie alguma! E tens, assim, oportunidade de ver Rembrandt, Van Dyck, Piero della Francesca, Renoir, Van Gogh, todos eles. Quando te apetecer, os que te apetecerem.
E eu assim faço em Londres – desde que tenha pelo menos vinte minutos livres, e estando ali ao pé, sabendo onde estão os quadros (a planta arranja-se em qualquer guia de viagem, na net, etc.), é só escolher: ou vais ver o Velasquez, ou se estiveres numa mais relaxado o Rubens, numa mais mística o Fra Angelico maravilhoso que lá está. É para onde estiveres virado. Ou então para ver apenas A Virgem dos Rochedos de da Vinci - estando em Trafalgar demoras cinco minutos a chegar ao quadro. Depois… estás a vê-lo pelo menos dez. Restauraram-no, e o azul do vestido da Virgem está de gritos!
É isto que deve ser um Museu – um local onde qualquer cidadão possa mergulhar, sempre que lhe apetecer, e sempre gratuitamente, nas mais sublimes obras plásticas que a Humanidade nos tem deixado.
E não é preciso ter o acervo da National Gallery – que bom seria poder irromper assim, sem bilhetes, sem identificações, sem estar à espera na caixa, etc., etc., pelo Museu Nacional de Arte Antiga para ver um Dürer um dia, uns painéis de São Vicente noutro, o que raio me apetecesse num terceiro.

Jorge Rodrigues

7 comentários:

  1. A nossa Cultura está a nos luz do que deve ser uma verdadeira Cultura.

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  2. Já foi ventilada a hipótese de reduzir as entradas gratuitas nos nossos museus a um Domingo por mês. Estamos, portanto, a falar de uma miragem.

    (Jorge, eu ainda sou do tempo em que A Virgem dos Rochedos tinha uma enorme camada de tempo em cima. Agora parece estar magnífica, como dizes.)

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  3. Anónimo7.4.11

    É isto que gosto na arte
    e gostava tanto, em Londres
    como beber água, numa fonte do caminho.
    Obrigada, Jorge e Paulo.
    Abç da bettips

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  4. Anónimo7.4.11

    Um exemplo que não acontece em muitos lugares,como por ex. em Itália, França, além de sermos revistados, paga-se e bem...
    Por aqui, como diz o Paulo, anda a ser ventilada a
    "(des)gratuitidade" dos museus aos Domingos, passando à esmola de um só Domingo por mês, cada vez mais um Portugal dos pequenininhos...

    Jorge, obrigada pelos teus,sempre refrescantes e culturais,posts.

    Bem Hajas!
    Glória

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  5. Anónimo7.4.11

    Também vim aqui respirar um pouco. O teu amigo Jorge Rodrigues ( e o amigo do meu amigo é meu amigo também...) continua uma lufada de ar fresco... (hoje estou numa de frases feitas mas sem bafio).

    Beijos e obrigada por este bom momento, Paulo.

    Guida Mirotes

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  6. Museus de graça é uma coisa linda (já agora, a entrada no British Museum também é gratuita) mas é preciso que alguém pague: normalmente o Estado, ou seja os nossos impostos. É como concertos gratuitos, ou como as SCUT: se os utilizadores não pagam, pagamos todos.
    Não teria nada contra, havendo dinheiro. Talvez houvesse, se não andássemos a pagar patetices.

    Dito isto, pagando ou não, como eu gosto destas cidades europeias (ai se os ingleses me lessem!) cheias de arte e cultura...

    (Bem hajam, Jorge e Paulo, pelo post)

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  7. Fully agree :) Também sinto isso em Washington DC, onde todos os museus Smithsonian (nomeadamente, a National Gallery of Art, my personal favourite!) são deliciosamente gratuitos.

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