12.6.11

Carmen em São Carlos

Noite de estreia em São Carlos, à antiga, com a sala tão esgotada que até deu gosto ver. Era a "Carmen", por supuesto. Abanicos vermelhos, oferecidos pelo Teatro à entrada, refrescavam os espectadores mais acalorados e ajudavam a recriar o ambiente das festas sevilhanas.
Quando as luzes se apagaram, a voz que pediu ao público que desligasse os telemóveis informou também que a récita seria dedicada à memória do violoncelista Kenneth Frazer, recentemente falecido na sequência de um acidente de viação.
"Carmen" é uma ópera que eu dispenso, mas que possui uma profusão de melodias irresistíveis, daquelas que põem o público a dar à perninha e a abanar a cabeça. Foi assim logo no prelúdio do I acto.
Esta "Carmen" pode não ser extraordinária, mas é um espectáculo muito recomendável e não envergonha ninguém. O elenco é de nível internacional: Rinat Shaham tem feito uma carreira notável neste e noutros papéis para mezzo-soprano; Andrew Richards ganhou fama como Don José mas também como Parsifal; Adriana Damato foi a Micaëla de Jonas Kaufmann no Scala. Yannis Yannissis, que interpretou recentemente o Gianni Schicchi em Lisboa, voltou agora como Escamillo. Nem todos os cantores me deixaram entusiasmadíssimo, mas alguns tiveram momentos muito bons, assim como outros mais irregulares. Os cantores portugueses desempenharam bem os restantes papéis.

RTP:

(Nota: o vestido de Carmen na estreia, embora curto, não era este.)


A encenação de Stephen Medcalf, transpondo a acção para a época da Guerra Civil Espanhola, não choca. Estranhei a cena dos contrabandistas, no III acto, passar-se na pista de aterragem de um aeroporto, mas nada de grave.
Julia Jones, a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos estiveram à altura do acontecimento. A temporada acaba com casa cheia, o Teatro quer fazer as pazes com o seu público e a programação para 2011/12, segundo o passarinho, será finalmente apresentada na terça-feira. Ficai atentos.

SIC: