Noite de estreia em São Carlos, à antiga, com a sala tão esgotada que até deu gosto ver. Era a "Carmen", por supuesto. Abanicos vermelhos, oferecidos pelo Teatro à entrada, refrescavam os espectadores mais acalorados e ajudavam a recriar o ambiente das festas sevilhanas.
Quando as luzes se apagaram, a voz que pediu ao público que desligasse os telemóveis informou também que a récita seria dedicada à memória do violoncelista Kenneth Frazer, recentemente falecido na sequência de um acidente de viação.
"Carmen" é uma ópera que eu dispenso, mas que possui uma profusão de melodias irresistíveis, daquelas que põem o público a dar à perninha e a abanar a cabeça. Foi assim logo no prelúdio do I acto.
Esta "Carmen" pode não ser extraordinária, mas é um espectáculo muito recomendável e não envergonha ninguém. O elenco é de nível internacional: Rinat Shaham tem feito uma carreira notável neste e noutros papéis para mezzo-soprano; Andrew Richards ganhou fama como Don José mas também como Parsifal; Adriana Damato foi a Micaëla de Jonas Kaufmann no Scala. Yannis Yannissis, que interpretou recentemente o Gianni Schicchi em Lisboa, voltou agora como Escamillo. Nem todos os cantores me deixaram entusiasmadíssimo, mas alguns tiveram momentos muito bons, assim como outros mais irregulares. Os cantores portugueses desempenharam bem os restantes papéis.
RTP:
(Nota: o vestido de Carmen na estreia, embora curto, não era este.)
A encenação de Stephen Medcalf, transpondo a acção para a época da Guerra Civil Espanhola, não choca. Estranhei a cena dos contrabandistas, no III acto, passar-se na pista de aterragem de um aeroporto, mas nada de grave.
Julia Jones, a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos estiveram à altura do acontecimento. A temporada acaba com casa cheia, o Teatro quer fazer as pazes com o seu público e a programação para 2011/12, segundo o passarinho, será finalmente apresentada na terça-feira. Ficai atentos.
SIC:
No próximo Sábado lá estarei.
ResponderEliminaro passarinho também lhe disse se era aberta ao público??
ResponderEliminarPasso por lá no próximo sábado. Ainda bem que é bom material!
Lá estarei também, infelizmente só posso ir na última récita... obrigada pelos comentários, foram encorajadores, e ainda bem que a récita foi boa!
ResponderEliminarFiquei curiosa por mais pormenores. A ir, será um bocado à sorte, visto que todos os espectáculos estão praticamente esgotados.
ResponderEliminarParece que vamos todos marcar presença no sabado! :) fico contente por ler uma boa critica. ja sentia saudades de ir a opera! compreendo-te perfeitamente quando dizes que dispensas a carmen, mas quando se ouve, realmente nao se consegue passar indiferente. é impossivel. a musica é tao quente e sensual!
ResponderEliminarAmanhã lá estarei, ainda bem que é bom. Está a ver eu sou daqueles que gosta da Carmen :-) ... Sorry. De resto gesto bonito a homenagem ao Frazer.
ResponderEliminarTambém nunca me sinto capaz de dispensar a Carmen. Malogradamente, no que se reporta a esta em particular, contentar-me-ei com a transmissão radiofónica.
ResponderEliminarFiquei, igualmente, agradado por tomar conhecimento do bom nível da récita de estreia.
A quem vai, votos de boa récita.
ResponderEliminarGi,
Tenta. Vai à sorte.
Plácido,
O passarinho não me deu essa informação, mas talvez seja.
Optei por não ir, assumundo a minha "snobeira". O que por lá vi, na era maldita, foi horrendo. Está difícil demoverem-me... Aguardo, reticente, pela próxima temporada, rezando por que o nível da latrina seja ultrapassado. Só a boa educação que este espaço e colegas encerram me faz conter o chorrilho de palavrões e pesado vernáculo que o TNSC pós Pinamonti evocam na minha pessoa.
ResponderEliminarTerei feito mal, mas não me apeteceu ir assistir a mais mediania...
É um direito que te assiste, Dissoluto. No entanto, penso que sopram por lá ventos de mudança.
ResponderEliminarA ver...
Se for, será na outra terça. Quando é a transmissão radiofónica?
ResponderEliminarDe resto, a Carmen também não é das minhas óperas preferidas. Por isso não sei se terei paciência para ir de propósito a Lisboa durante a semana, ainda mais á sorte.
A Antena 2 transmite em directo no próximo dia 16.
ResponderEliminarBrahms e Wagner eram grandes admiradores da Carmen. E não me parece que fossem fáceis de contentar.
ResponderEliminarPopular pode ser sinónimo de qualidade.
Eu não disse o contrário, Xico. A "Carmen" tem momentos contagiantes. Contudo, apesar da sua popularidade, não me deixa em êxtase.
ResponderEliminarJá se torna possível, ainda que subrepticiamente, aceder à nova temporada do São Carlos:
ResponderEliminarhttp://www.saocarlos.pt/gca/?id=1068
Paulo.
ResponderEliminarCuriosamente a Carmen se bem que tivesse sido das primeiras óperas que conheçi também não me encantou e poucas vezes lá voltei.
Só agora com o dvd da Opera Comique percebi o quanto é genial e eficiente a dramaturgia e encantadora a música. Estou convertido!
Hugo,
ResponderEliminarObrigado pelo link.
J. Ildefonso,
Ainda não atingi o ponto de conversão, embora, como disse atrás, também fique momentaneamente contagiado.
Se alguém só viu na vida, duas ou três óperas, decerto uma será "Carmen"...
ResponderEliminarA Carmen é um milagre de melodia, muito especial, um caso único. O último acto, nomeadamente o dueto final é o momento mais "ópera" da ópera. Há intérpretes fabulosas, sendo Victoria de Los Angeles aquela de que mais gosto.
ResponderEliminarEu fui e gostei. Dos cantores preferi as senhoras aos senhores ... Gostei da encenação e a transposição para uma época relativamente mais recente também me pareceu bem pensada. A direcção de Orquestra muito bem a Orquestra em si não esteve mal acho eu. Na sessão de quinta fiquei com dúvidas quanto ao concertino mas enfim. Globalmente gostei. Falta talvez um pouco de intensidade dramática a este obra ... talvez por isso Valkirio não lhe encha as medidas ... eu pelo menos acho o libretto pouco profundo sendo que há personagens a que falta um pouco de densidade, penso. Mas gosto da obra e gostei desta interpretação. Se tivesse que recomendar uma obra para quem nunca tivesse visto ópera ao vivo esta estaria na lista seguramente.
ResponderEliminarObrigado pela sua opinião, Fernando. Globalmente concordo consigo.
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