31.7.13

Do Anel de Bayreuth

Terminou há poucas horas a apresentação do primeiro ciclo do novo Anel de Bayreuth, o esperado Anel do Bicentenário, com aplausos estrondosos para o maestro Kirill Petrenko e a Orquestra do Festival e uma pateada monumental (mas monumental mesmo: durou longos minutos) para a equipa do engendrador Frank Castorf.
Sabe-se que o sonho húmido de Castorf, habituado a cortar e alterar os textos dos autores clássicos que encena na Volksbühne, em Berlim, era fazer o mesmo à obra de Richard Wagner, heresia que nem as tontas que o contrataram, as meias-irmãs Katharina Wagner e Eva Wagner-Pasquier (bisnetas do compositor), permitiram.

Fiquemos com uma pequena ideia do que foi este Anel: a cena final de "Siegfried", em que Brünnhilde é acordada pelo seu herói, canta loas ao Sol e à Luz, ambos descobrem o amor, e tudo isto se passa enquanto tomam um copo numa esplanada em Alexanderplatz. Talvez a ideia de Castorf fosse chocar o público (olha a novidade!), já que, resumindo as críticas que li e ouvi num debate após a transmissão de hoje (via Bayerischer Rundfunk), não conta uma história nova e limita-se a mostrar imagens disparatadas para entreter visualmente o espectador, descurando o trabalho com os cantores e a essência da obra, exactamente o oposto do que fazia Patrice Chéreau há quase quarenta anos.

Catherine Foster e Lance Ryan como Brünnhilde e Siegfried (© Bayreuther Festspiele/Enrico Nawrath)

O Intermezzo tem mais imagens: "Das Rheingold", "Die Walküre", "Siegfried", "Götterdämmerung".


29.7.13

O Lago dos Cisnes

Filipa de Castro (Odette) e Carlos Pinillos (Príncipe Siegfried)

Ontem, O Lago dos Cisnes fechou, e em grande, a edição deste ano do Festival Ao Largo. Naturalmente, a "casa" estava cheia. Mulheres que são cisnes e que têm asas em vez de braços, deslizando sobre as águas ao som da maravilhosa música de Tchaikovsky, e uma história romântica como só ela são os ingredientes que fazem do Lago o expoente máximo do bailado clássico.

A Companhia Nacional de Bailado deu-nos uma versão muito bela da história de Odette e Siegfried, incarnados por Filipa de Castro e Carlos Pinillas, ambos em estado de graça e empatia perfeita. Filipa de Castro teve momentos sublimes, a nível técnico e interpretativo, tanto como Princesa Odette como no papel da pérfida Odile. No final, os aplausos foram verdadeiramente estrondosos e, na minha opinião, muito bem merecidos. Não apenas para os solistas principais mas para toda a CNB, que nos apresentou um espectáculo de grande qualidade. Nota alta também para os figurinos de José António Tenente.

Dominic Whitbrook

Fotos de Bruno Simão / TNSC

16.7.13

Nos Bosques Profundamente Silenciosos das Montanhas Trácias

Alice Medeiros e João Villas-Boas

A partir de Monteverdi, Virgílio e Ovídio, Miguel Loureiro criou um espectáculo muito simples e muito belo dedicado ao mito de Orfeu, num pequeno espaço junto ao mercado da Ribeira, em que o intimismo e a proximidade dos actores jogam a favor da eficácia. Com parcos meios, a cenografia resume-se a uma parede onde se abrem cinco óculos, nos quais surgem os rostos dos cinco actores (Inês Nogueira, Alice Medeiros, Gonçalo Ferreira de Almeida, João Villas-Boas e Miguel Loureiro) que dão voz e expressão ao texto.

Inês Nogueira

Luísa Brandão e Luís Castanheira cantam alguns trechos da favola in musica "Orfeo", de Monteverdi, acompanhados à espineta por João Aleixo.

Luís Castanheira, João Aleixo e Inês Nogueira

Nos bosques profundamente silenciosos das montanhas trácias,
Orfeu, ao tanger a sua lira melodiosa, arrastava as árvores,
Conduzia os animais selvagens da floresta.

Para ver e ouvir até 31 de Julho, na Rua da Ribeira Nova, 44. Com cuidado. Com prazer.


Informações (FB)
Reservas: 968 510 914 / 962 566 961

4.7.13

Claro que não, Dra. Canavilhas

Com o país a descambar e o governo preso por linhas de alinhavar, Jorge Barreto Xavier tenta segurar algumas pontas. Interpelado por Gabriela Canavilhas, que lhe terá perguntado se não seria melhor dar ao teatro "a dignidade de passar por este período de portas fechadas", respondeu peremptório, segundo o Público, "Não, não é melhor fechar o Teatro de São Carlos." 

Ainda segundo o Público, a nomeação do novo director artístico será resolvida "em breve", muito provavelmente até ao final de Julho. Estaremos cá para ver.

O artigo fala também, entre outros assuntos, do projecto para esta lindíssima Casa das Artes, no Porto, do arquitecto Souto de Moura, que se encontra fechada há anos à espera que alguém decida o que fazer com ela.

© Paulo Pimenta (Público)