8.3.08

Amor e Vida de Uma Mulher

Robert Schumann (1810-1856) criou o ciclo de oito canções "Frauenliebe und Leben" em 1840, a partir de poemas de Adelbert von Chamisso (poeta e botânico que viveu entre 1781 e 1838, descobriu e descreveu numerosas espécies, tais como a papoila-da-Califórnia [Eschscholzia californica], e foi curador do jardim botânico de Berlim).

Os poemas constituem um monólogo em que uma mulher nos conta a sua vida, desde as delícias do momento em que se apaixonou até ao desgosto da viuvez. Esta apologia romântica da virtude feminina poderá ser estranha nos nossos dias e dista anos-luz do que nos dizia Barbara na canção "Dis, quand reviendras-tu?":
(...)
J'irai me réchauffer à un autre soleil,
Je ne suis pas de celles qui meurent de chagrin,
Je n'ai pas la vertu des femmes de marins.
(...)

Mas a música de Schumann transporta-nos para outros tempos. Eis a primeira canção do ciclo, interpretada por Brigitte Fassbaender e Irwin Gage:


Seit ich ihn gesehen

Seit ich ihn gesehen,
Glaub ich blind zu sein;
Wo ich hin nur blicke,
Seh ich ihn allein;
Wie im wachen Traume
Schwebt sein Bild mir vor,
Taucht aus tiefstem Dunkel,
Heller nur empor.

Sonst ist licht- und farblos
Alles um mich her,
Nach der Schwestern Spiele
Nicht begehr ich mehr,
Möchte lieber weinen
Still im Kämmerlein;
Seit ich ihn gesehen,
Glaub ich blind zu sein.

Desde que o vi

Desde que o vi,
Penso que ceguei.
Para onde olho,
Só o vejo a ele.
Como num transe,
Surge-me a sua imagem,
Emergindo da escuridão,
Mais brilhante que nunca.

Tudo é escuro e sem cor
À minha volta.
Os jogos das minhas irmãs
Já não me interessam;
Prefiro chorar
Em silêncio no meu quarto.
Desde que o vi,
Penso que ceguei.