31.3.08

Pesquisa


Resultado: chama-se erva-gorda e há quem a trate por Arctotheca calendula. Vem da África do Sul, tem características invasoras na Califórnia e na Austrália, mas não consegue vencer os chorões que abundam no Cabo da Roca.

30.3.08

Uva-dos-passarinhos

A Phytolacca americana mostra as suas flores e alguns cachos já apresentam bagas verdes que parecem miniaturas de maçãs. Quando estiverem maduras poderão ser saboreadas pelos pássaros, mas contêm substâncias tóxicas para os mamíferos. Não convém, portanto, prová-las. O sistema digestivo dos pássaros permite-lhes expelir intactas as sementes onde se encontram essas substâncias. Esta uva-dos-passarinhos está no jardim do Museu de Arte Antiga, mas as bagas maduras não são de lá. Devem ter sido comidas em Agosto do ano passado.
(O Dias com árvores fala das Phytolaccaceae.)





28.3.08

A florir

agora, no jardim do Museu de Arte Antiga.



Abundância (Ageratina adenophora)

27.3.08

A Traviata de Lisboa


aqui se falou da Traviata de Lisboa e hoje é dia de voltar a falar dela. Aconteceu há exactamente cinquenta anos, no Teatro de São Carlos. No dia 27 de Março de 1958 alguém teve a feliz ideia de gravar o som da récita de Maria Callas e Alfredo Kraus, que veio a ser uma das grandes referências para esta ópera. Infelizmente não se chegou a filmar a récita completa e o que existe, que eu saiba, são apenas estes excertos. É o que há.
Está a ser preparada uma exposição que vai assinalar a vinda de Callas a Lisboa, a inaugurar em finais de Junho na Central Tejo (Museu da Electricidade). Os cenários da Traviata de São Carlos estarão presentes na exposição, assim como fotografias e peças que ainda serão seleccionadas na Associazione Culturale Maria Callas, em Veneza. Do espólio constam vestidos, jóias e documentos.





(kraustrujillo)

26.3.08

"Erva-dos-rapazes"


Chamo-lhe eu assim. É uma Orchis italica, a que os alemães chamam italienisches Knabenkraut, compondo a palavra a partir de Kraut (erva) e de Knaben (rapazes). De facto, o nome Orchis (testículos, em grego) deriva da comparação de algumas raízes tuberosas de orquídeas com os testículos humanos.

Mas quando olho para a inflorescência desta orquídea, vejo coros de rapazinhos entoando hinos e saudando a Primavera nas suas brincadeiras.



(KingsGroupPlace)

"A Ceremony of Carols" é um conjunto de cânticos compostos por Benjamin Britten a partir de pequenos poemas medievais, em Março de 1942, durante a viagem de regresso dos Estados Unidos para a Inglaterra. Apesar da temática natalícia deste cântico, a atmosfera musical antevê a Primavera britânica.
Balulalow

O my deare hert, young Jesu sweit,
Prepare thy creddil in my spreit,
And I sall rock thee to my hert,
And never mair from thee depart.

But I sall praise thee evermoir
With sanges sweit unto thy gloir;
The knees of my hert sall I bow,
And sing that richt Balulalow


(RyanGolddRedux)

25.3.08

20.3.08

Paixão Segundo São João


(OedipusColoneus)

Es ist vollbracht!
O Trost vor die gekränkten Seelen!
Die Trauernacht läßt
nun die letzte Stunde zählen.

Der Held aus Juda siegt mit Macht
Und schließt den Kampf.
Es ist vollbracht!

It is finished!
O comfort for the ailing soul!
The night of sorrow
now measures out its last hour.
The hero out of Judah conquers with might
and concludes the battle.
It is finished!


Andreas Scholl, Collegium Vocale Gent, Philippe Herreweghe.

19.3.08

Primavera

O equinócio está aí à porta mas traz-nos uma Primavera que começa tristonha(*). O poema de Hermann Hesse musicado por Richard Strauss (1864-1949) prevê-a bem mais luminosa que este céu de chumbo que se ergue agora sobre Lisboa.

(*Ou talvez não... A chuva parece ter mudado o rumo para nos oferecer uma Páscoa soalheira.)

Frühling é normalmente apresentada como a primeira das quatro últimas canções ("Vier letzte Lieder") de Strauss, o testamento de uma vida que começa com esta "Primavera", continua por "Setembro", "Adormece" e termina "Ao Pôr-do-Sol". São quatro canções compostas em 1948 e estreadas em Londres em 1950, já depois da morte do compositor, por Kirsten Flagstad e Furtwängler.

Aqui, ouvimos a voz de Kiri Te Kanawa com a Orquestra Sinfónica de Londres e Andrew Davis.



Frühling

In dämmrigen Grüften
Träumte ich lang
von deinen Bäumen und blauen Lüften,
von deinem Duft und Vogelgesang.

Nun liegst du erschlossen
in Gleiss und Zier,
von Licht übergossen
wie ein Wunder vor mir.

Du kennst mich wieder,
Du lockst mich zart,
es zittert durch all meine Glieder
deine selige Gegenwart!


Primavera

Em túmulos crepusculares
Sonhei longamente
Com as tuas árvores, os teus céus azuis
O teu perfume e o teu canto

Agora aqui estás
Envolta em brilho e glória
Banhada em luz,
Como um milagre diante de mim

Reconheces-me
E atrais-me docemente;
E os membros tremem-me
Com a tua presença bem-aventurada.
(Tradução de Rui Vieira Nery)


(belgradegeneve)
Lucia Popp com a Orquestra Sinfónica de Chicago e Georg Solti, em 1977

18.3.08

Por que se queima um piano?

Noticiava hoje o site do Público que o pianista japonês Yosuke Yamashita voltou a tocar, durante dez minutos, num piano em chamas. Já em 1973 foi filmada uma performance do pianista, intitulada precisamente "Piano em Chamas", agora recriada à beira-mar. O filme anterior pode ser visto no site do realizador Kiyoshi Awazu (clicar no primeiro ícone do lado esquerdo).


17.3.08

Sacher-Torte

(foto daqui)

Afinal o bolo não se atrasou. Em Viena até está bom tempo, mas devido à visita inesperada de uma estrela catalã àquela cidade, a minha Sacher-Torte teve um destino diferente. Para o ano que vem, em vez de encomendar na Áustria, vou num instantinho à Suíça.

15.3.08

Um ano







(Bacholoji)
Tocata
Ritornello

La Musica:
Dal mio Permesso amato à voi ne vegno,
incliti Eroi, sangue gentil di regi,
di cui narra la Fama eccelsi pregi,
nè giunge al ver perch'è tropp'alto il segno.

Io la Musica son, ch'à i dolci accenti
sò far tranquillo ogni turbato core,
et hor di nobil ira, et hor d'amore
posso infiammar le più gelate menti.

(Io sù cetera d'or cantando soglio
mortal orecchio lusingar talhora
e in questa guisa a l' armonia sonora
de la lira del ciel più l'alme invoglio.

Quinci à dirvi d'Orfeo desio mi sprona
d'Orfeo che trasse al suo cantar le fere,
e servo fè l'inferno à sue preghiere,
gloria immortal di Pindo e d'Elicona.

Hor mentre i canti alterno, hor lieti, hor mesti,
non si mova augellin fra queste piante,
nè s'oda in queste rive onda sonante,
et ogni Auretta in suo camin s'arresti.)

Ritornello

L'Orfeo, de Monteverdi, por Jordi Savall e Montserrat Figueras, com Le Concert des Nations e La Capella Reial de Catalunya. Gran Teatre del Liceu.

12.3.08

Ameixoeira-de-jardim

As ameixoeiras-de-jardim são nossas amigas. São escortanhadas, servem de poste para amarrar as bicicletas-a-motor e insistem em dar-nos alegria.



(Não digam nada... Eles não repararam nesta...)

Prunus cerasifera

11.3.08

E o Sol brilhou

aos bocadinhos.




Rosa banksiae

E Amanhã o Sol Voltará a Brilhar

Malcolm Martineau

Magdalena Kozená teve a acompanhá-la o pianista que um cantor pode desejar. Malcolm Martineau está sempre atento, na linha de Geoffrey Parsons e Graham Johnson. O público da Gulbenkian já o conhece muito bem.

Kozená aliou à inteligência da sua interpretação uma voz que pareceu mais quente e cheia que em recitais e concertos anteriores. Foi sedutora nas melodias requintadas de Debussy e mostrou sentido teatral nas canções de Poulenc. A Mahler faltou a alma, ou seja, faltou-me a orquestra, e Kozená não é uma grande mahleriana, apesar de ter emocionado na última das canções de Rückert: "Ich bin der Welt abhanden gekommen" ("Estou perdido para o mundo"). Do reportório alemão, foi melhor o grupo de canções de Strauss, com belas interpretações de "Ruhe, meine Seele" e "Morgen". Depois de um dia de chuva que Londres passou em Lisboa, foi-nos garantido que amanhã o Sol voltará a brilhar, como diz o poema de John Henry Mackay ("Und morgen wird die Sonne wieder scheinen"). E no final da canção, depois de "sobre nós cair o silêncio da felicidade", ficaram no ar os acordes saboreados por Malcolm Martineau.

10.3.08

Magdalena Kozená na Gulbenkian

Magdalena Kozená estará logo à noite na Gulbenkian.
No Grande Auditório de 7 de Março, Jorge Rodrigues fala de Kozená e dá-nos a ouvir algumas das suas gravações.






Segunda, 10 Mar 2008, 19:00 - Grande Auditório

MAGDALENA KOZENÁ (meio-soprano)
MALCOLM MARTINEAU (piano)

Claude Debussy
Chansons de Bilitis
Trois Ballades de François Villon


Gustav Mahler
Rückert Lieder

Richard Strauss
Die heiligen drei Könige, op.56 nº 6
Muttertändelei, op.43 nº 2
Wiegenlied, op.41 nº 1
Ruhe, meine Seele, op.27 nº 1
Morgen, op.27 nº 4

Francis Poulenc
Fiançailles pour rire

Quatre Chansons pour enfants:
- Le petit garçon trop bien portant
- Nous voulons une petite soeur

Les chemins de l’amour

8.3.08

Amor e Vida de Uma Mulher

Robert Schumann (1810-1856) criou o ciclo de oito canções "Frauenliebe und Leben" em 1840, a partir de poemas de Adelbert von Chamisso (poeta e botânico que viveu entre 1781 e 1838, descobriu e descreveu numerosas espécies, tais como a papoila-da-Califórnia [Eschscholzia californica], e foi curador do jardim botânico de Berlim).

Os poemas constituem um monólogo em que uma mulher nos conta a sua vida, desde as delícias do momento em que se apaixonou até ao desgosto da viuvez. Esta apologia romântica da virtude feminina poderá ser estranha nos nossos dias e dista anos-luz do que nos dizia Barbara na canção "Dis, quand reviendras-tu?":
(...)
J'irai me réchauffer à un autre soleil,
Je ne suis pas de celles qui meurent de chagrin,
Je n'ai pas la vertu des femmes de marins.
(...)

Mas a música de Schumann transporta-nos para outros tempos. Eis a primeira canção do ciclo, interpretada por Brigitte Fassbaender e Irwin Gage:


Seit ich ihn gesehen

Seit ich ihn gesehen,
Glaub ich blind zu sein;
Wo ich hin nur blicke,
Seh ich ihn allein;
Wie im wachen Traume
Schwebt sein Bild mir vor,
Taucht aus tiefstem Dunkel,
Heller nur empor.

Sonst ist licht- und farblos
Alles um mich her,
Nach der Schwestern Spiele
Nicht begehr ich mehr,
Möchte lieber weinen
Still im Kämmerlein;
Seit ich ihn gesehen,
Glaub ich blind zu sein.

Desde que o vi

Desde que o vi,
Penso que ceguei.
Para onde olho,
Só o vejo a ele.
Como num transe,
Surge-me a sua imagem,
Emergindo da escuridão,
Mais brilhante que nunca.

Tudo é escuro e sem cor
À minha volta.
Os jogos das minhas irmãs
Já não me interessam;
Prefiro chorar
Em silêncio no meu quarto.
Desde que o vi,
Penso que ceguei.


6.3.08

Alta tensão na Batalha

Entramos no Claustro Real do Mosteiro da Batalha e deparamo-nos com postes de alta tensão, ligados por uma mangueira que transporta água num circuito fechado a partir da fonte que se encontra junto do refeitório. Supostamente o motor bombeia a água de modo a que bolhas de ar passeiem pelo claustro, dentro do tubo, mas o efeito perde-se porque algo está a funcionar mal. Logo me pergunto se não há obras urgentes a levar a cabo no monumento, que possam ser subsidiadas pela EDP e proporcionar-lhe uma melhor publicidade que aquelas estruturas metálicas, que só nos trazem à memória o impacto que a produção e a distribuição de energia eléctrica causam na paisagem.

Mas a EDP é que sabe e resolveu patrocinar sete criações artísticas a instalar nas sete maravilhas de Portugal, entre 30 de Novembro de 2007 e 5 de Agosto de 2008. Na Batalha poderemos admirar a obra de Susana Anágua até 22 de Abril. As outras seis maravilhas receberão intervenções de Ângela Ferreira, Fernanda Fragateiro, Joana Vasconcelos, João Tabarra, Miguel Palma e Pedro Cabrita Reis. Desejo-lhes melhor sorte.



"A Cinética do Silêncio", 2007
Aço, mangueira cristal, água e bomba Hidráulica

O Claustro Real é analisado como espaço de geometria fechada que propõe uma relação limitada com o exterior. O silêncio e o movimento caracterizam a vivência do espaço.
A instalação é composta por estruturas metálicas e um circuito fechado de tubagens transparentes onde a água, interrompido por bolhas de ar, circula desde a nascente e volta à sua origem. A água é retirada da fonte que se situa na extremidade do claustro através de uma bomba/motor de água que bombeia toda a tubagem.
O circuito é suspenso por quatro estruturas metálicas, que pelo seu desenho lembram os postes de alta tensão que povoam a nossa paisagem natural e sustentam os cabos de circulação da energia eléctrica.

O bell’alma innamorata

No dia 3 de Março soube-se que Giuseppe di Stefano tinha morrido. Foi o companheiro de Callas em tantos palcos, e em tantas "Lucias" a ira dos mortais os separou. Que os deuses os juntem agora no céu da música.

Di Stefano como Edgardo di Ravenswood


EDGARDO:

Tu che a Dio spiegasti l’ali,
O bell’alma innamorata,
Ti rivolgi a me placata...
Teco ascenda il tuo fedel.
Ah se l’ira dei mortali
Fece a noi sì cruda guerra,
Se divisi fummo in terra,
Ne congiunga il Nume in ciel.
(trae rapidamente un pugnale
e se lo immerge nel cuore)
Io ti seguo...

Da ópera "Lucia di Lammermoor", de Donizetti, gravada ao vivo em Berlim, em 1955, com Callas e Karajan.