2.2.08

"La Femme Sans Ombre"

"Die Frau ohne Schatten" será das óperas mais difíceis de interpretar, não só pelo intrincado simbolismo da história que conta como, e principalmente, pelas exigências que se colocam à orquestra e aos cantores. Daí serem tão raras as oportunidades de a vermos em cena. A Ópera da Bastilha repôs a encenação de Bob Wilson, de 2002, que não é muito feliz, estilizando os gestos até à exaustão e acabando por retirar à ópera o seu encanto de conto de fadas idealizado por Hofmannsthal e Richard Strauss. Como diz o Le Figaro nesta crítica, se taparmos os ouvidos, não saberemos se estamos a assistir a uma representação da Flauta Mágica ou do Anel do Nibelungo. O que pode ser esteticamente muito belo não serve necessariamente os interesses de um argumento e, neste caso, os sentimentos humanos perdem-se numa movimentação quase maquinal das personagens.

Mas a encenação não destruiu a música e os sons ricos e luxuriantes da composição orquestral de Strauss lá estavam para o deleite do público, mesmo com uma direcção pouco brilhante de Gustav Kuhn. Nos principais papéis masculinos, ao tenor Jon Villars faltou a musicalidade (tal como quando cantou o papel de Calaf na "Turandot" do Teatro de São Carlos, em 2004) e ao baixo Franz Hawlata o fôlego nas linhas mais longas. As senhoras foram bem melhores. A ama da imperatriz, Jane Henschel, cénica e vocalmente gloriosa, foi a melhor cantora da noite. A mulher do tintureiro Barak foi interpretada por Christine Brewer, que acusou algum desgaste, cantando sempre no limite como se a voz fosse quebrar, mas conseguindo contê-la. É a esta mulher que a imperatriz quer comprar a sombra (simbolicamente a fertilidade que a salvará, a ela e ao imperador), decidindo-se finalmente por não o fazer, num acto de humanismo. Eva-Maria Westbroek, a imperatriz, cumpriu bem o seu papel.



(Nota extra-programa: durante alguns minutos o céu esteve azul.)

Outras críticas:

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