20.12.10

Don Carlo na Gulbenkian

Fui para a Gulbenkian cheio de vontade de gostar e gostei. Bem sei que sou suspeito, que "Don Carlo" é a minha ópera preferida de Verdi; longa como convém, ao menos sai-se de barriguinha cheia. Mais ainda se a esplêndida orquestra do Met é dirigida por um jovem enérgico como Yannick Nézet-Séguin, de quem eu nunca antes tinha ouvido falar.
Yannick Nézet-Séguin
Agora, os técnicos de som responsáveis pelas transmissões em directo do Met deviam rever a questão das vozes. Se a voz desinteressante e incaracterística de Poplavskaya é pequena e a de Keenlyside talvez também não seja muito grande, já as de Alagna e de Smirnova são enormes e surgiram com um volume quase assustador por cima da orquestra. Dito isto, vamos ao que interessa, que já passou mais de uma semana.
Simon Keenlyside
O mais gratificante foi rever Roberto Alagna (Carlo) num dos papéis da sua vida e notar que recuperou a forma. Sem a frescura de há catorze anos, esteve glorioso nas cenas com Keenlyside (Rodrigo) mas não só. Disse o crítico a propósito da estreia: whenever he was joined by the baritone Simon Keenlyside, who sang Rodrigo, the Marquis of Posa and Carlo’s devoted friend, Mr. Alagna opened up in every way.
Keenlyside convenceu mais pelas suas excelentes capacidades cénicas que vocalmente. Esteve muito bem no primeiro dueto com Carlos e, no IV acto, excedeu-se na cena da morte.
Não encontro expressividade nem voz em Marina Poplavskaya (Elisabetta) que justifiquem o seu sucesso em Londres e Nova Iorque. No tempo em que vivemos, o da ditadura do visual, talvez a principal razão seja a sua figura ficar bem no ecrã. Eu prefiro uma cantora que tenha voz para o papel.
A personagem da Princesa de Eboli foi interpretada por Anna Smirnova, dona de uma voz impressionante mas pouco flexível e por vezes fora de tom e descontrolada, como no terceto com Carlos e Rodrigo - Trema per te.
O duelo dos baixos Ferruccio Furlanetto (Filipe II) e Eric Halfvarson (Grande Inquisidor) é um dos momentos-chave de "Don Carlo". Acontece imediatamente a seguir a Ella giammai m'amò, a grande ária do rei de Espanha. Não terá sido inesquecível, mas ambos cumpriram os respectivos papéis muito dignamente, embora de ambos já transpareça um certo cansaço vocal. Em 2008, em Londres, foi assim:


Termino com uma chamada de atenção para as opiniões da Io, da Gi, do Joaquim, do Blogger, do Dissoluto, do Plácido e do José. Umas mais parecidas com a minha, outras mais diferentes do que aqui se disse.