22.8.10

Quel grido #1

O caso estava mal parado. O dia de trabalho ia ser muito longo e nem eu já acreditava que ainda fosse possível conseguir. Foi um autêntico bafejo da sorte que me permitiu sair de Lisboa na companhia da T. e da S., apontarmos à abençoada A8 rumo a Óbidos e, aí, apanharmos um autocarro que nos deixou sãos, salvos e a horas no Braço do Bom Sucesso.
Dizer que o programa era aliciante é pouco. Elisabete Matos ia cantar algumas das árias mais exigentes do reportório dramático: Ambizioso spirto... Vieni t’affretta, Suicidio e In questa reggia, para mencionar apenas três. O ambiente estava muito bom. Muitos espectadores cobriam as pernas e a cabeça com as mantinhas que tinham levado de casa; não fazia propriamente frio, mas sentia-se a frescura da noite e a humidade que descia sobre a lagoa. Ainda assim, no intervalo pudemos apreciar um branco da região, bem fresquinho, em simpatiquíssima companhia. O veredicto foi de que ele sabia mesmo a uvas.
No final do concerto tivemos direito a mais alguns brindes: Meine Lippen, sie küssen so heiss, a divertida ária Je suis un peu grise e uma dedicatória a Teresa Berganza, que se ergueu na plateia e recebeu, também ela, um aplauso estrondoso. Ousado, sim, começar um concerto com L’amour est un oiseau rebelle quando na assistência se encontra Berganza, a Carmen.
Escusado será dizer que o concerto foi extraordinário. Na memória ficam a voz gloriosa de Elisabete Matos, as suas belíssimas interpretações e... ah! o grido estratosférico de Turandot.