Se não gostam de música, por que é que encenam Ópera?
Esta é a questão que me tem ocupado os dias. E ainda: se encontrarem por aí um tal de Günter Krämer, dêem-lhe uns açoites por mim. Posso estar a chover um bocadinho no molhado, que o tema dos encenadores já devia ter dado o que tinha a dar, contudo o que aquele senhor fez não se faz. Mesmo dando de barato que as actualizações são um dado adquirido e que é cada vez mais difícil fugir delas, até na ainda há pouco tempo conservadora Ópera de Viena, se se roubar a "Nabucco" o carácter histórico-bíblico, deixa de haver "Nabucco". Pior ainda quando se corta a repetição das cabaletas de Abigaille e de Nabucco. Se o que se vê não faz sentido, também a música e os cantores saem prejudicados pela vontade ditatorial do tal senhor. Quando estamos preparados para que Elisabete Matos repita o seu resplendente Salgo già del trono aurato, vem o corte. Não é justo. E isto acontece porquê? Porque, apesar de se tratar de uma reposição, a produção original saiu assim da cabeça do senhor que manda.
Dito isto, o elenco foi como segue:
Jesús López-Cobos | Maestro
Andrzej Dobber | Nabucco
Elisabete Matos | Abigaille
Michele Pertusi | Zaccaria
Dimitrios Flemotomos | Ismaele
Monika Bohinec | Fenena
Simina Ivan | Anna
Janusz Monarcha | Oberpriester des Baal
Jinxu Xiahou | Abdallo
Apesar de nem todos os cantores terem estado à altura do que se espera de um "Nabucco" na Ópera de Viena, houve a orquestra, houve López-Cobos, o excelente Zaccaria de Pertusi e a brilhante estreia de Elisabete Matos na Wiener Staatsoper. No final das récitas lá estavam os admiradores à espera dos autógrafos, expressando o desejo de que Elisabete Matos regresse a Viena, alguns empunhando fotografias impressas a partir de imagens como esta (para a próxima tentarei não me esquecer de cobrar os direitos de autor).
"Nabucco" na Ópera de Viena (Bildergalerie) |
:( desgostosa moda, porque lhe cedem até as elites? estão todos contaminados pelo relativismo e o gosto "pós-moderno"? tragédia, que eu pensava rapidamente passageira.
ResponderEliminarÉ uma praga aparentemente sem remédio.
EliminarNada fica para sempre. Acredito que a seguir a esta praga virá outra...
Eliminar;-)
Como será ela?
EliminarCaro Paulo, possuo o registo em suporte DVD que documenta a encenação ora reposta.
ResponderEliminarNa minha óptica, a "transposição" operada por Günter Krämer não se constitui tenebrosa a um nível, liminarmente, repulsivo, pese embora suscite compreensíveis reservas.
Discordo, Hugo.
EliminarCompreendo-o perfeitamente, caro Paulo.
EliminarA repulsividade a que aludi no meu comentário manifesta-se de modo parcial, conquanto não redunde insubstancial por esse facto.