16.11.11

Dedos Abençoados

Os dedos abençoados de Artur Pizarro voltaram a encantar-nos, ontem à noite, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, com um programa composto por duas obras que homenageiam a pintura: "Goyescas" (1911), de Granados, e "Quadros de uma Exposição" (1874), de Mussorgsky. Mussorgsky compôs a sua suite após ter visitado uma exposição de desenhos e aguarelas de Viktor Hartmann.

(do programa de sala [pdf])
Pizarro esteve sublime no modo como interpretou as várias emoções da Promenade que nos vai levando pela exposição, guiando-nos entre os vários quadros, separando-os e ligando-os. Il vecchio castello, o segundo quadro, é um dos momentos mais belos da suite e foi magistralmente tocado, com uma enorme leveza e uma sensibilidade tocante. E as notas vigorosas de A grande porta de Kiev só não ressoam ainda na Avenida de Berna porque se lhe seguiram quatro encores quatro (Rachmaninov e Piazzolla). Bravíssimo, Pizarro!

Granados compôs as suas "Goyescas" há cem anos, inspirado pelas obras de Goya que vira no Prado. A sua suite, ao contrário da de Mussorgsky, refere-se mais a ambientes que a quadros específicos. O título do penúltimo "quadro", El amor y la muerte, lembra este capricho e é um dos meus preferidos.



Só foi pena os tossideiros de serviço terem estado tão atiçados e decididos a darem cabo dos nervos a Pizarro e a quem queria ouvi-lo. Se o público não fosse tão diferente do da noite anterior (ver Garden of Philodemus e Fanáticos da Ópera), até poderíamos pensar que tinha havido um surto de tuberculose em Lisboa de um dia para o outro.

Adenda: Entretanto, um pouco de Piazzolla e Quadros de Uma Exposição, tal como Artur Pizarro os tocou ontem na Gulbenkian :



9 comentários:

  1. Que pena que venhas no Inverno...ouvi esse "Quadros de uma Exposição" pela primeira vez no mais inesperado dos instrumentos - o carrilhão do Tiergarten. Foi tão maravilhoso que ainda estou sem palavras - éramos seis ou sete, chovia ligeiramente e, quando nos esquecíamos de onde estávamos, parecia que tocava uma orquestra inteira, e das melhores.

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  2. Ouvir os "Quadros" tocados em carrilhão deve ser de rebentar por dentro. Imagino.

    (Também hei-de ir aí num Verão, Rita Maria, que Berlim é para todas as estações do ano.)

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  3. Não pude assistir, mas de facto há dois dias (e para surpresa minha) as tosses foram quase inexistentes!
    Será que os tossideiros não perceberam ainda que se usarem um lenço poderão minorar muito o incómodo que provocam aos outros, já que não conseguem evitar essas tosses obcessivas?

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  4. A música antiga tem um público específico, em geral mais respeitador, acho eu.
    Ontem foi do pior. Por momentos temi que Pizarro se passasse e deixasse o palco, como já o vi fazer noutras ocasiões. Com toda a propriedade, diga-se.

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  5. Também reparei com agrado na (quase) ausência de tosses na segunda-feira. Sendo a mesma sala, nem sequer é credível que de um dia para o outro tivessem aumentado tanto os alergenos.
    Mesmo assim foi bom - que bom! Fico contente. E o pianista, todo elegante, não, agora que perdeu imenso peso?

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  6. O Pizarro está muito bonito. Fez-lhe bem a dieta.

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  7. Bosc d'Anjou17.11.11

    Parece-me que é tempo para alguém com autoridade lhe dar um empurrão para voltar a Nova Iorque. Segundo consta, a última vez teria sido em 1992?! Já chega de castigo. E agora temos salas mais bonitas que a 92Y onde ele tocou nessa altura. Estou a vê-lo perfeitamente no novo Alice Tully Hall...

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  8. Também acho, Bosc. Não consegue mexer uns cordelinhos?

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  9. Grande pianista e tens razão, está muito atractivo.

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