25.4.11

Die Walküre at the Met - II

Dando o devido desconto à qualidade do som, o Siegmund de Jonas Kaufmann na estreia soou assim:


Quem estiver interessado pode ler a crítica de Anthony Tommasini (The New York Times), que diz, entre outras coisas, isto:
But a problematic staging touch came at the opening of Act II. Here the planks jutted out to evoke the “wild rocky place” that Wagner calls for. Wotan, the bass-baritone Bryn Terfel, came bounding onto the beams, now horizontal, which were alive with images of rocky terrain. Then his rambunctious daughter Brünnhilde, the soprano Deborah Voigt, appeared. As Ms. Voigt started to climb the planks that evoke the hillside, she lost her footing and slid to the floor.
(...)
The problem here was not just that in this crucial dramatic moment, with Ms. Voigt about to sing the first line of her first Brünnhilde, Mr. Lepage saddled her with a precarious stage maneuver. The problem was that for the rest of the scene, whenever Wotan or Brünnhilde walked atop the set, the beams wobbled and creaked. At times Mr. Terfel, a big, strong man, had to extend his arms to balance himself. No imagery is worth having to endure the sounds of creaking gears and looks of nervousness on the faces of singers.
Pergunto: O Senhor Lepage concebeu a máquina (the machine - assim é conhecida a estrutura cénica de quarenta e cinco toneladas e não sei quantos milhões de dólares) para cantores líricos ou para equilibristas do Cirque du Soleil?
Pode ouvir aqui a entrada de Brünnhilde (Deborah Voigt com Bryn Terfel).

"Die Walküre" at the Met
Esta foto foi enviada por um simpático leitor que a fez acompanhar do seguinte texto:
Caro Valkirio,
Ofereço esta foto para o que puder servir... grato pelo prazer de ler o seu blog.
Bosc d'Anjou
Caro Bosc d'Anjou, grato fico eu. Pela foto, que acabou de ter serventia, e por o ter a si como leitor.

ADENDA: O Joaquim já escreveu sobre a estreia dest'A Valquíria e colocou a gravação à nossa disposição. É ir lá.

11 comentários:

  1. Duas reacções ao teu post: gosto - da voz do Kaufmann; não gosto - dos cenaristas que inventam adereços desconfortáveis ou mesmo perigosos para os cantores /actores.
    Ainda me lembro de quando a Elisabete Matos partiu o punho no S. Carlos.

    ResponderEliminar
  2. Também me lembro muito bem. Foi durante uma récita de "Cavalleria Rusticana". O cenário era tão íngreme que os cantores pareciam estar em permanente equilíbrio precário. Eu estava presente na récita em que isso aconteceu. Tenho ideia de que foi um dedo.

    ResponderEliminar
  3. Pode ter sido um dedo, Paulo. Na récita a que assisti ela estava de braço ao peito, pobrezinha, mas não deixou de cantar e andar lá pelo plano inclinado.

    ResponderEliminar
  4. Também não tenho a certeza. De qualquer modo, o que está em causa é aquilo a que os cantores têm de se sujeitar por causa das ideias por vezes escabrosas dos encenadores e dos cenógrafos.

    ResponderEliminar
  5. Aqwui começa o mais belo dueto soprano-tenor de todo canto lírico.
    Por coincidência comprei ontem a Valquíria de 2008 do festival de Aix-en Provence e ouvi oprimeiro acto à bocado. O Sigmund é Robert Gambill; interpretação honesta, aceitabilíssima, herói,mas a voz, que é boa e bem timbrada, embora com algumas palavras mal pronunciadas, canta usando todas as reservas. Mas aqui é Peter Kaufmann e é um deslumbramento. Que maravilha!

    ResponderEliminar
  6. Raul,
    Conheço alguns excertos d'A Valquíria de Aix, também ela com a Sieglinde de Eva-Maria Westbroek. Robert Gambill cantou o I acto no CCB, há uns anos, com Elisabete Matos. Que dueto final esse! E também cantou muito bem o Tristão em episódios na Cuturgest.

    ResponderEliminar
  7. Anónimo27.4.11

    Paulo,
    estou inteiramente de acordo com a Gi.
    Estes mecanismos/cenários que obrigam a actos circenses e muitas vezes perigosos...já não há paciência, é aquilo a que eu chamo de "Ditadura do Encenador" a ditadura do visual, que não acrescenta, demasiadas vezes, densidade dramática e resvala para leituras capciosas ou demasiadamente "light", ah, creio que para a juventude conseguir "ler", "entender" e aderir...a tal insustentável leveza da ditadura do visual.
    Lembro-me bem da Matos, creio que partiu um dedo, e do seu heroímo em continuar!
    Lembro-me bem dela e do Gambill, pois também por lá estava ;) Bravíssima!
    Quanto ao Kaufmann, bem, direi FANTÁSTICO!

    Glória

    ResponderEliminar
  8. Glória,
    Penso que, neste caso, tudo gira à volta de uma máquina infernal, ainda por cima barulhenta. A música parece servir apenas de pano de fundo para que o Senhor Lepage mostre as suas habilidades. Gostava muito de poder ver a transmissão na Gulbenkian, quiçá mudaria de ideias, embora, pelo que tenho lido e recordando o que vi n'O Ouro do reno, duvide.

    ResponderEliminar
  9. Bosc d'Anjou2.5.11

    Achei interessante que vários comentadores abordassem esta encenação com a perpsectiva mais ou menos implícita de os cantores serem vítimas do encenador. E talvez com um subentendido que são os cantores que são importantes e que os encenadores são dispensáveis. Dá-me a impressão que esta perspectiva reflecte uma cultura de apreciação da ópera como espectáculo auditivo, ouvido essencialmente através da rádio e dos discos. Para o ouvinte de ópera, pouco importa o que se passa no palco. Quanto mais transparente melhor. Mas a ópera é (e sobretudo para Wagner, que falava de Gesamtkunstwerk) um espectáculo total. Parece-me que se deve valorisar e incentivar o trabalho dos encenadores, aceitando que eles ponham certos desafios aos cantores (e a outros, público incluido), com o objectivo de realizar essa totalidade do espectáculo e de ultrapassar o que já se fez. Independentemente do imperativo comercial para as grandes salas de ópera de irem renovando a sua oferta (a representação Valquíria a que assisti no Met era a 524ª!) os encenadores também são artistas com legítimas aspirações de realização...


    Claro que é horrível quando os cantores se aleijam - mas isso pode acontecer mesmo nas encenações menos criativas. Dado o nível de ambição do Lepage, estou disposto a perdoar-lhe muita coisa. Não sei se os cantores têm dado entrevistas sobre o assunto. A representação a que assisti decorreu sem incidentes; pareceu-me que o elenco estava razoávelmente confortável com a célebre "máquina" do Lepage, com a excepção talvez da Stéphanie Blythe e das Valquírias menores. Achei que a máquina, que serve de pano de fundo para projecções de video, gera momentos de grande beleza visual. Aqui e ali houve a meu ver algumas opções de mau gosto (o trono eléctrico de Fricka e a cavalgada das V.), por exemplo. Também é pena que a máquina faça de vez em quando algum barulho - mas isso não é culpa do Lepage: simplesmente os americanos não sabem fazer mecânica de precisão, imagino que se fosse em Bayreuth o resultado teria sido outro. Contudo isto são pormenores num espectáculo que é intensamente arrebatador. Para além do visual, achei que a encenação do Lepage retrata muito bem a dimensão trágica da relação pai/filhos, sobretudo nos confrontos finais de Wotan com Siegmund e Brünnhilde. Sai-se de lá emocionalmente exausto... e a pedir por mais, pois as cinco horas da representação passaram depressa!

    Leitores do Valquírio, não percam a oportunidade de ver a transmissão da V. na Gulbenkian. Estou convencido que vão ficar cúmplices do Lepage e que vão querer ver o resto em 2012!

    ResponderEliminar
  10. Concordo com Bosc d'Anjou: a ópera é um espectáculo total, e é aliás por isso que gosto tanto de ópera.
    No entanto, a música é fundamental - senão, seria teatro. E o libretto também - senão, seria concerto.
    Por isso a encenação deve estar de acordo com a música e o libretto, apoiá-los, revelá-los, mas nunca afastar-nos, distrair-nos deles, ou mesmo ir contra eles.
    E não, não estou a falar de naturalismo, que a maior parte das vezes não me agrada por aí além.

    ResponderEliminar
  11. Totalmente de acordo, Gi.

    ResponderEliminar