O Festival ao Largo é um sucesso. Com os espectáculos a começarem quase sempre às dez da noite, pelas nove e meia já é difícil encontrar uma cadeira livre e as ruas à volta do Largo de São Carlos começam a encher-se. Mesmo quando as temperaturas baixam e o vento sopra mais forte, o público mantém-se firme e não arreda pé. Não será um fenómeno, mas antes uma prova de que existe muito boa gente que prefere ouvir música ao vivo a ficar em casa aconchegada. Gente que frequentaria certamente as salas de concerto se pudesse pagar os bilhetes. Velhos, novos, com o cão, com as crianças, todos vão Ao Largo e aderem sem preconceitos aos espectáculos.
Os concertos não têm sido todos excelentes. No entanto, tem havido música para quase todos os gostos e é de louvar que se ponha a prata da casa a tocar e a cantar, dando aos artistas a oportunidade de serem ouvidos por uma quantidade considerável de espectadores. A amplificação das vozes, por vezes, é um problema. Torna-as demasiado audíveis e põe em evidência as suas fraquezas, principalmente quando são acompanhadas ao piano.
Das minhas noites Ao Largo, destaco o concerto com a Orquestra Gulbenkian dirigida por Joana Carneiro (já mencionado aqui e aqui), a Noite Mozart, em que Ana Quintans provou estar no bom caminho (seria bom podermos vê-la no Teatro de São Carlos), e a apresentação dos espectáculos por Jorge Rodrigues, que nos predispõe para a música tal como fazia no Ritornello.
A noite de ontem, dedicada a Germana Tânger, foi memorável. Após a interpretação de "Langsamer Satz", de Anton Webern, pelo Quarteto Vianna da Motta, João Grosso representou o poema "Manucure", de Mário de Sá-Carneiro, como ele nunca tinha sido ouvido e visto antes. Finalmente Germana Tânger subiu ao palco e ali ficou, sentada, encantadora, a contar-nos histórias como se fôssemos íntimos de lá de casa. Aos 90 anos, lindíssimos, comoveu-nos com Sophia e com "Caranguejola", também de Sá-Carneiro:
- Ah, que me metam entre cobertores,(continuar a ler)
E não me façam mais nada...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!
Nutro uma profunda admiração pelo vulto que se constitui Germana Tânger. Uma grande dama da cultura portuguesa.
ResponderEliminarEstive lá. Uma noite de facto memorável. De João Grosso apenas direi que fez história - foi um titã. Depois, quando a Professora Germana Tânger se sentou naquele cadeirão nós ficámos sentados ao seu colo - foi lindo.
ResponderEliminarGostei muto do seu texto. Sabe se o espectáculo foi filmado?
Hugo,
ResponderEliminarFaço minhas as suas palavras.
Soares Teixeira,
Obrigado pelo seu comentário. Penso que todos os espectáculos do Festival Ao Largo são filmados e seria imperdoável não terem filmado este. Por todas as razões.
Que pena não ter ido, Paulo...Deve ter sido muito interessante.
ResponderEliminarGosto da tua "reportagem". Sucinta, límpida e apelativa. Obrigada.
O adjectivo interessante aqui é muito pequenino, Cigarra.
ResponderEliminarEu sou um estúpido...
ResponderEliminarEntendes-me, verdade, Paulo?
Entendo o que queres dizer, Pinguim, mas por vezes não nos é possível fazer tudo o que gostaríamos de fazer. As noites Ao Largo ainda continuam por mais uns dias.
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