Respondendo a vários pedidos, aqui deixo as minhas impressões sobre o concerto de ontem à noite, no Teatro Nacional de São Carlos. O programa está aqui e foi com ele que se inaugurou a nova temporada. Como a estrela era Vesselina Kasarova, foi ela quem salvou a noite, quase impondo ritmo e energia a uma orquestra amorfa, dirigida por um maestro jovem e com pouca experiência. Com Kasarova no palco, a orquestra seguia-a e parecia ganhar algum brilho.
Momentos altos foram as duas árias de Handel e Mozart que cantou na primeira parte: Scherza infida, de "Ariodante" e Parto, ma tu ben mio, de "La clemenza di Tito" (esta já prometia, a fazer fé no vídeo mais abaixo). Na segunda parte, Kasarova cantou outra ária de Handel, Sta nell'Ircana pietrosa tana, de "Alcina", e uma de Rossini, Pensa alla patria, de "L'italiana in Algeri" (uma ária demonstrativa característica do compositor, que permitiu à cantora exibir, com muito bom gosto, as suas qualidades técnicas e interpretativas. Brava!)
Mas quem é que se lembra de pôr Sara Braga Simões a cantar uma ária desinteressante e longa de Sousa Carvalho, a parecer interminável, logo a seguir ao Ariodante de Kasarova, que já se previa ser um dos grandes momentos da noite? Há aqui erros de programação gravíssimos. As duas cantoras portuguesas que integraram este elenco esforçaram-se imenso e podem ser razoáveis a nível interno, mas ficaram sempre a perder por não estarem ao nível da cantora búlgara. Parecia até uma maldade sádica de quem fez o alinhamento do concerto. Mesmo José Fardilha, que é um cantor experiente e tem carreira internacional, teve dificuldades em acompanhar Kasarova num dueto extra-programa de "O Barbeiro de Sevilha". É muito bonito querer dar oportunidades aos cantores portugueses de cantarem com os convidados de honra, mas não se pode expô-los com as suas fraquezas quando a comparação com o excelente lhes será implacável.
Momentos altos foram as duas árias de Handel e Mozart que cantou na primeira parte: Scherza infida, de "Ariodante" e Parto, ma tu ben mio, de "La clemenza di Tito" (esta já prometia, a fazer fé no vídeo mais abaixo). Na segunda parte, Kasarova cantou outra ária de Handel, Sta nell'Ircana pietrosa tana, de "Alcina", e uma de Rossini, Pensa alla patria, de "L'italiana in Algeri" (uma ária demonstrativa característica do compositor, que permitiu à cantora exibir, com muito bom gosto, as suas qualidades técnicas e interpretativas. Brava!)
Mas quem é que se lembra de pôr Sara Braga Simões a cantar uma ária desinteressante e longa de Sousa Carvalho, a parecer interminável, logo a seguir ao Ariodante de Kasarova, que já se previa ser um dos grandes momentos da noite? Há aqui erros de programação gravíssimos. As duas cantoras portuguesas que integraram este elenco esforçaram-se imenso e podem ser razoáveis a nível interno, mas ficaram sempre a perder por não estarem ao nível da cantora búlgara. Parecia até uma maldade sádica de quem fez o alinhamento do concerto. Mesmo José Fardilha, que é um cantor experiente e tem carreira internacional, teve dificuldades em acompanhar Kasarova num dueto extra-programa de "O Barbeiro de Sevilha". É muito bonito querer dar oportunidades aos cantores portugueses de cantarem com os convidados de honra, mas não se pode expô-los com as suas fraquezas quando a comparação com o excelente lhes será implacável.
Boa noite,
ResponderEliminarObrigada pelos comentários. O meu concerto também foi agradável, mas também se verificaram alguns erros na sequência do concerto: colocar a Serenata de Donhanny para o final do concerto (interessante, mas não muito fácil e com 5 andamentos... depois de quase 2 horas de concerto) foi muito cansativo.
2ª feira: Carmina Burana :)
Continuação de bom fim de semana,
Moura Aveirense
Olá Caro Paulo
ResponderEliminarProvavelmente ele pensava que era bom alternar o mais interessante com o menos interessante...
Beijinho
Obrigada, Paulo.
ResponderEliminarFiquei mais consolada, e quanto à Kasarova, espero vê-la um dia noutro espectáculo.
Concordo com os seus comentários com excepção dos relativos ao dueto: achei o dueto final muito bom!!
ResponderEliminarSó foi pena terem posto duas cantoras tão novas com os dois cantores já tão experientes. Com tanta gente neste país a cantar lindamente...
Cumprimentos,
Olá, Paulo
ResponderEliminarEu entendo o que diz. Assistir a um concerto de alguém muito bom ou simplesmente bom, e no meio um aprendiz ou semelhante pode ser no mínimo cheio de altos e baixos, e é inevitável a comparação.
;)
Lucia
Já me tinhas dito a tua opinião sobre o recital da Kasarova, mas não resisto a deixar aqui uma palavra sobre a crítica que fizeste. Isto porque acho que já era tempo de fazeres ouvir a tua sábia opinião sobre estas coisas da música séria/erudita.
ResponderEliminarNão fui ao concerto, mas já tive oportunidade de assistir, há 3 ou 4 anos, a um recital desta mezzo-soprano na Gulbenkian. Gostei muito e posso imaginar o desconforto que deve ter sido o que aqui descreves. Mas o teu grau de exigência é muito elevado. Dou uma margem de benefício de dúvida às vozes lusitanas. Mas, infelizmente para elas e nós, também sei o quão próximo estás da verdade...
Bjs.
Cara Terpsichore, se o programador pôs deliberadamente peças desinteressantes pelo meio, acho que deve rever esse seu jeito de programar.
ResponderEliminarGi, espero também que ela volte mais vezes. Eu sonho com um "Ariodante" completo.
Telma, como o Fardilha é um cantor experiente, conseguiu aguentar-se, embora em esforço, quando Kasarova ainda estava com uma voz fresquíssima.
Cigarra, eu estava contigo nesse recital na Gulbenkian, em que ela deslumbrou. E agora voltou a deslumbrar.
Lúcia, mais valia que ela tivesse sido a única cantora em palco. "Less is more".
Moura, desejo-lhe um bom concerto na 2ª feira.
Caro Paulo. Obrigado pela sua passagem pelo "dispersamente".
ResponderEliminarObrogado pela ajuda. Estava mesmo baralhado. Afinal até tenho no meu jardim uma planta daquela família. Só que muito sinceramente não estava a ver uma árvore. É que deve ter mais de 100 anos. Por sinal até conheço um dos membros da família Perestrelo.
Quanto às Tulipeiras ainda não deu para ver nada de jeito. Só a partir do próximo ano.
Estive encantado a ouvir o Aznavour enquanto escrevia esta nota.
Um abraço
António Nunes
No Público de hoje pode ler-se uma crítica que concorda com o Paulo. É até um pouco mais severa.
ResponderEliminarAntónio,
ResponderEliminarobrigado pelo seu comentário. A minha selecção musical está à sua disposição.
Um abraço.
Maria,
também já li a crítica do Público. Na foto, Kasarova tem até uma expressão de desconsolo. Habituada aos melhores maestros e orquestras, deve ter pensado que estava a cantar numa cidade de província algures... Mas eu não sou crítico e não quis ser demasiado demolidor, embora houvesse razões para isso. Demolidor mesmo é o Crítico:
"Kasarova acabou a cantar ignorando olimpicamente o "maestro" depois de este ter destruído de forma incrível a sua primeira ária de Handel, com um acompanhamento orquestral de miséria que mais parecia um realejo sem corda. Um concerto miserável, apesar de Kasarova, um verdadeiro escândalo."
E ele tem razão. A primeira ária de Handel teve um acompanhamento vergonhoso, apesar da belíssima interpretação de Kasarova.
Eu estive no concerto e concordo inteiramnete contigo:Faço minhas as tuas observações!
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