25.10.08

Artur Pizarro - Ravel, volume II


Mais um disco de piano para ter em casa e para oferecer aos amigos. É o segundo volume das obras completas para piano de Maurice Ravel, tocadas por Artur Pizarro e gravadas em Bristol, no Reino Unido (o primeiro volume foi gravado no Teatro de São Luís).

Eis um excerto da crítica de Charlotte Gardner no sítio da BBC:

"There is a popular children's tale about a necklace of raindrops that I think would have appealed to Maurice Ravel. When I imagine the composer, I picture the tiny Frenchman alone, immaculately suited, head full of his beloved fairytales, winding up his collection of mechanical toys. Whilst this is an undeniably whimsical thought, its inspiration comes from his music, the crystalline notes placed inside antique forms with a near-fanatical delicacy and precision, like a necklace of raindrops. Stravinsky once described Ravel as, ''the most perfect of Swiss clockmakers'' and, whilst we can debate the Russian's intended meaning until we’re blue in the face, I doubt he was referring to Ravel’s engineering father or his tenuous connections with the homeland of Toblerone. More likely is that he recognised a master musical technician who married form with beauty to often dazzling effect. Analogies over, the reason why I'm at pains to convey all these images is because they sum up for me how Ravel's music should sound – like magical musical filigree - and my delight at hearing Artur Pizarro achieve just such an effect."

Sonatine - Animé (excerto)


20.10.08

Maria João Pires - Chopin

O mais recente trabalho discográfico de Maria João Pires é um CD duplo (E-player), gravado já em 2008 e dedicado a obras compostas por Chopin nos últimos anos de vida.

Do álbum constam a sonata para piano nº 3 em si menor, op. 58, a sonata para violoncelo e piano em sol menor, op. 65, com Pavel Gomziakov, a Polonaise-Fantaisie em lá bemol maior, op. 61, e uma selecção de nocturnos, valsas e mazurkas.

A ouvir, pois claro: Sonata para violoncelo e piano em sol menor, op. 65 (1845-46) - 3º andamento - Largo



Maria João Pires e Pavel Gomziakov
"Maria João Pires: Nunca sei muito bem dizer o que me sensibiliza num músico, é imperceptível, trata-se de uma afinidade misteriosa que nasce espontaneamente. No caso de Pavel Gomziakov, é porque encontrei nele uma dignidade no estilo, uma certa austeridade no som que convêm perfeitamente a esta música e que me emocionaram de imediato."

(Excerto de uma conversa com Frédéric Sounac, transcrita no folheto que acompanha o CD)

Chopin morreu a 17 de Outubro de 1849 na Place Vendôme, com 39 anos de idade.

Chopin, ca. 1849
(daguerreótipo de L. A. Bisson)

17.10.08

Ayasofya








"(...) Se eu dissesse a um cristão ou a um muçulmano que no universo há mais de 400 mil milhões de galáxias e que cada uma delas contém mais de 400 mil milhões de estrelas, e que Deus, seja ele Alá ou o outro, não poderia ter feito isto, melhor ainda, não teria nenhum motivo para fazê-lo, responder-me-iam indignados que a Deus, seja ele Alá ou o outro, nada é impossível. Excepto, pelos vistos, diria eu, fazer a paz entre o Islão e o Cristianismo, e, de caminho, conciliar a mais desgraçada das espécies animais que se diz terem nascido da sua vontade (e à sua semelhança), a espécie humana, precisamente.
(...)
Já nada adianta dizer que matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino. Para os que matam em nome de Deus, Deus não é só o juiz que os absolverá, é o Pai poderoso que dentro das suas cabeças juntou antes a lenha para o auto-de-fé e agora prepara e ordena colocar a bomba. (...)"

(Excertos de "Deus como problema", em "O Caderno de Saramago")


Basílica de Santa Sofia, ou da "Santa Sabedoria", na Wikipedia.


15.10.08

As folhas mortas recolhem-se à pá

Yves Montand

Les Feuilles Mortes

Oh! je voudrais tant que tu te souviennes
Des jours heureux où nous étions amis.
En ce temps-là la vie était plus belle,
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui.
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle.
Tu vois, je n'ai pas oublié...
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Et le vent du nord les emporte
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié
La chanson que tu me chantais.

C'est une chanson qui nous ressemble.
Toi, tu m'aimais et je t'aimais
Et nous vivions tous deux ensemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Mais la vie sépare ceux qui s'aiment,
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis.

Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Mais mon amour silencieux et fidèle
Sourit toujours et remercie la vie.
Je t'aimais tant, tu étais si jolie.
Comment veux-tu que je t'oublie?
En ce temps-là, la vie était plus belle
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui.
Tu étais ma plus douce amie
Mais je n'ai que faire des regrets
Et la chanson que tu chantais,
Toujours, toujours je l'entendrai!

(Jacques Prévert, Joseph Cosma)


"Folhas Mortas" da Rosa


Yves Montand
(paccaggicco)

Juliette Gréco
(hapansen)

14.10.08

Colecção Berardo em Paris

Uma pequena parte da Colecção Berardo estará exposta no Musée du Luxembourg, em Paris, de 16 de Outubro de 2008 até 22 de Fevereiro de 2009. A exposição, chamada "De Miró à Warhol - La Collection BERARDO à Paris", vai mostrar mais de setenta obras de, entre outros, Picasso, Pollock, Balthus, Magritte, Robert Delaunay, Amadeo, Vieira da Silva e Lourdes Castro.

Leia a notícia no Público e visite o sítio do museu, onde pode ver algumas das obras seleccionadas e pequenos excertos do DVD editado para a exposição.

Great American Nude, #52, 1963,
de Tom Wesselmann (1931-2004)

9.10.08

WebOpera - "Siegfried" online

Novidade de última hora:
A ópera "Siegfried" vai ser transmitida online, nos sites do Teatro de São Carlos e da RTP. Hoje, 9 de Outubro, às 18h30 (transmissão piloto), e no próximo dia 12, Domingo, às 16h00. Aqui está uma boa notícia para quem mora longe e não pode deslocar-se ao Largo de São Carlos. Também estão previstas as transmissões de "Das Rheingold" e "Die Walküre" pela Internet, podendo o telespectador seguir toda a história contada por Graham Vick (mesmo que os episódios não venham na ordem correcta).

(Clique sobre a imagem para aumentar)

www.saocarlos.pt
www.rtp.pt

8.10.08

Der "Ring" des Graham Vick

Aplaudi a récita de "Siegfried", pelo esforço e pela coragem dos cantores. Eles entregam-se de corpo e alma e dão tudo o que têm (e o que não têm) para que Graham Vick saia daqui em glória, mesmo prejudicando as suas prestações vocais.

Stefan Vinke não será um verdadeiro tenor heróico e, na cena em que forja a espada, como em vários outros momentos, a voz estica para lá do limite das suas capacidades, deixando-nos a duvidar se ele aguentará mais dois actos e mais uma série de récitas. Aguenta mais dois actos, sim, graças a uma entrega total ao papel e à interpretação que Vick pretende dele. Mas na cena da floresta, quando se questiona sobre os pais que nunca viu, como seriam eles (Aber, wie sah meine Mutter wohl aus?), falta a beleza e o lirismo na voz. Noutros momentos cruciais, quando atinge o rochedo de Brünnhilde no III acto (Selige Öde auf sonniger Höh'!) e durante o dueto final, a voz já está cansada de tanta correria. Já lá iremos.

Johann Werner Prein já tinha demonstrado a sua competência como Alberich ("O Ouro do Reno") e como "médico" na produção memorável de "Wozzeck" no CCB. Apresenta-se novamente no papel do nibelungo e em excelente forma.

Uma óptima surpresa foi Colin Judson. Cénica e vocalmente, talvez seja ele o cantor mais convincente desta produção. É um verdadeiro tenor de carácter e a pele do anão Mime assenta-lhe como uma luva.

Samuel Youn parece-me ser o melhor dos três Wotans que pisaram a arena do Teatro de São Carlos. Apesar da muito discutível visão que Vick nos dá sobre a personagem sábia e nobre que é Wotan, fazendo dele um bêbedo andrajoso e repelente (em "Siegfried" ele é um Wanderer, um homem que caminha sem cessar, perturbado, ansioso, desesperado, um deus que já não controla os acontecimentos), Youn cumpre bem o seu papel e consegue emocionar quando se encontra com Erda no início do III acto.

Susan Bullock já tinha impressionado n'"A Valquíria" e acorda bem na cena final de "Siegfried", após alguns percalços técnicos. Algo terá corrido mal no sistema hidráulico(?) na récita de 6 de Outubro. Siegfried devia subir a rampa que não abriu convenientemente, o que obrigou a uma curta interrupção e ao encolher de ombros do maestro Letonja, que não percebia o que se estava a passar. Siegfried entrou em cena afogueado, não por ter atravessado as chamas do fogo mágico que não existe, mas por ter tido de correr desde o interior da plataforma/palco até surgir pelo lado do palco/plateia. Lá cantou, quase sem fôlego, Selige Öde auf sonniger Höh'! e acordou Brünnhilde, retirando-a finalmente do saco mortuário. E aqui esvai-se o encanto da cena. Para que não nos esqueçamos que Siegfried é filho dos gémeos Siegmund e Sieglinde (n'"A Valquíria" de São Carlos interpretados por um cantor negro e por uma cantora loura), Stefan Vinke mantém-se durante várias horas em cena com metade do corpo pintada de preto. No final, a cor começa a desbotar e a pobre Brünnhilde, apesar dos cuidados, fica mascarrada. Supostamente eles estão apaixonados e abraçam-se e beijam-se com fervor, mas o que o público pressente é o medo que os cantores têm do ridículo.

Uma nota sobra a orquestra. Que não é wagneriana, já o sabemos. Que tem deslizes e dificilmente transmite as cores e as texturas da partitura, não nos surpreende. Contudo, esteve bem em alguns momentos, principalmente no III acto, cujo magnífico prelúdio foi alegremente prejudicado por mais uma ideia peregrina do encenador. O público é literalmente distraído por figurantes, interpretando velhos que saem do palco pelas frisas, incomodando quem lá está sentado e perturbando a audição. Talvez tenha sido o melhor momento da orquestra, assim desperdiçado devido à despudorada falta de respeito de Vick pelo compositor. Não se limitando a deturpar as características das personagens e dos ambientes exigidos pelo libreto de Richard Wagner, o encenador acrescenta sons e figurantes desnecessários que inibem a fruição musical. A gaiola metálica que representa a gruta de Mime no I acto é mais um objecto ruidoso e irritante. O "Anel" de Lisboa é, cada vez mais, o "Anel" de Graham Vick.

Muito bem esteve o solista que toca a trompa de Siegfried no II acto.


Siegfried aprende a linguagem dos pássaros (daqui)


6.10.08

3.10.08

Grande Auditório

Com a abertura da nova temporada, o Grande Auditório de Jorge Rodrigues está de volta na coluna à direita, ou no sítio da Fundação Calouste Gulbenkian. Para estarmos em dia com as propostas da semana.