17.10.08

Ayasofya








"(...) Se eu dissesse a um cristão ou a um muçulmano que no universo há mais de 400 mil milhões de galáxias e que cada uma delas contém mais de 400 mil milhões de estrelas, e que Deus, seja ele Alá ou o outro, não poderia ter feito isto, melhor ainda, não teria nenhum motivo para fazê-lo, responder-me-iam indignados que a Deus, seja ele Alá ou o outro, nada é impossível. Excepto, pelos vistos, diria eu, fazer a paz entre o Islão e o Cristianismo, e, de caminho, conciliar a mais desgraçada das espécies animais que se diz terem nascido da sua vontade (e à sua semelhança), a espécie humana, precisamente.
(...)
Já nada adianta dizer que matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino. Para os que matam em nome de Deus, Deus não é só o juiz que os absolverá, é o Pai poderoso que dentro das suas cabeças juntou antes a lenha para o auto-de-fé e agora prepara e ordena colocar a bomba. (...)"

(Excertos de "Deus como problema", em "O Caderno de Saramago")


Basílica de Santa Sofia, ou da "Santa Sabedoria", na Wikipedia.


7 comentários:

  1. Um texto que faz pensar; imagens belíssimas de uma cidade a descobrir.
    Abraço.

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  2. Plenamente de acordo...
    Um Deus feito à imagem e semelhança do homem

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  3. É engraçado que ainda ontem estava a pensar sobre o significado das diferenças entre as pessoas. Achei tanta piada à coincidência que resolvi vir comentar agora (é proibido ;) )

    Mas parece que neste lugar elas convivem razoavelmente, não?

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  4. "não teria nenhum motivo para fazê-lo" - muito bem visto, não tinha pensado nisso. Se o Deus judaico-cristão- muçulmano queria fazer só uma raça (a humana) num só planeta, não tinha realmente motivo para fazer tantos mundos.

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  5. Se o «Homem foi feito à imagem de Deus», então vamos desconfiar que talvez Deus não seja tão Bom assim...E Saramago vive atormentado com o facto de não conseguir aceitar a ideia de Deus, porque preso à ideia antiga de Deus. Percebe-se, pelo Mal que essa ideia vem fazendo à Humanidade. Só que o problema aqui não é Deus, mas o fanatismo e o seu aproveitamento pelos interesses económicos.

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  6. Obrigado a todos por deixarem aqui as vossas opiniões.

    Cigarra, não sei se José Saramago se atormenta por não conseguir aceitar a ideia de Deus. Ele deve viver muito bem sem Ele. Mas penso que o apoquenta, sim, a necessidade que tanta gente tem de uma ideia de Deus, antiga ou nova, aproveitando-se dela em favor de interesses pouco condizentes com os preceitos apregoados.

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