1.2.09

"Pollione", de Bellini


Saí da Gulbenkian com a sensação de ter ouvido pouco Bellini. O mesmo Lawrence Foster que tão bem captou o espírito straussiano de "Elektra" deu-nos uma leitura certinha, mas fria, de "Norma".

Do lado dos cantores, concordo que a entrada de Silvana Dussmann foi desastrosa. A coloratura em Ah! Bello a me ritorna saiu tão descontrolada que me encolhi na cadeira, assustado, e temi pelo resto da prestação da senhora. No entanto, o canto de Botha foi tão belo que talvez a tenha ajudado a desemperrar para o II acto e ela aí melhorou, vocal e dramaticamente, apesar de não ter deslumbrado quem é apaixonado pela Norma de Callas ou de Caballé. Mas isso é todo um outro universo.

Johan Botha, que eu tinha por cantor pouco interessante, foi um magnífico Pollione e a sua voz encheu o Grande Auditório sem pedir licença. Foi ele quem proporcionou mais prazer aos nossos ouvidos, nomeadamente no dueto com a Adalgisa de Heidi Brunner.

8 comentários:

  1. Obrigada pela visita, Paulo.

    A Norma, que se conta entre as minhas óperas favoritas, nunca lhe esgotei a magia, costuma pôr-me a soluçar copiosamente. No sábado à noite, nalguns desses momentos, se não fosse Botha... nem uma lágrima me teria assomado aos olhos. Caso dos dois magníficos duetos In mia man alfin tu sei e Qual cor tradisti, qual cor perdesti. Só me apetecia atirar com um pano molhado a Dussmann, que me ia arruinando a noite.

    Ando desconfiada de que chegarei ao fim da vida sem ter visto uma única Norma decente em palco (em 2001 vi uma numa Met com Jane Eaglen à qual eu e o amigo que estava comigo nos referimos sempre como «aquela Norma que nunca vimos...»).

    A minha última esperança tinha sido Edita Gruberova, que não consigo perceber por que levou tantos anos a decidir-se a cantar o papel, deixando-o já para o fim da carreira. Já ouviu a Norma dela? Que tal?

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  2. Obrigado também pela visita, Teresa.

    Penso que Gruberova tinha tudo para só poder ser uma grande Norma. Há uns dez anos, talvez mais, ela cantou a Elvira ("I Puritani") em Lisboa e foi sublime. Podemos imaginar como teria sido se ela tivesse cantado a Norma no auge da sua carreira. Ainda assim, depois de Caballé e Sutherland, deve ter sido a melhor intérprete do papel. A sua Casta diva não me comove, mas repare neste dueto com Pollione, já perto do final. Que lhe posso dizer mais? Já sabe quais são as minhas Normas.

    Botha foi grandioso: deixou-me várias vezes com pele de galinha.

    P.S. Sinto muito o que aconteceu à Messy.

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  3. No trabalho não consigo abrir o Youtube.

    Vi esses Puritani em S. Carlos, ela esteve sublime. Se não me falha a memória, foi em Junho de 1996. Era nessa época que deveria ter cantado a Norma! Voltei a vê-la em Munique, novamente nos Puritani, em 2003, e achei que o declínio já tinha começado. Afinal estava apenas numa noite de baixa forma vocal (até cortou a cabaletta de Son vergin vezzosa), vim a ler críticas de récitas posteriores em que esteve magnífica.

    Casta Diva é uma daquelas árias que salto quase invariavelmente, tanto foi gasta...
    Claro que é belíssima, e dificílima de cantar. Tenho em casa um livro sobre ópera (The Ultimate Art, de David Littlejohn), que adoro, e que dedica a Norma um capítulo inteiro, ilustrando a dificuldade de a cantar justamente com Casta Diva. Não foi a própria Callas que afirmou ser menos duro para a voz cantar três Brunhildes do que uma única Norma?

    Obrigada (por Messy).

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  4. Pois é, caro Paulo, decidi bem em não ir...
    "Feelings"...

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  5. A minha memória já está muito fraca, mas deve ter sido por essa altura. Ainda bem que a viu em boa forma em Lisboa. Assim, sabemos ambos o que está em causa.

    Ainda sobre a "Norma", acredito que qualquer cantora esteja em pânico até ao final da cabaletta: Ah! Bello a me ritorna. Além das dificuldades técnicas inerentes a toda a cena, é a entrada de Norma. É uma prova de fogo aterrorizadora. Acredito que Dussmann estivesse nervosa e que, por isso, lhe tenha corrido muito mal o I acto, tendo em conta o progresso notável no II acto.

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  6. Caro José,
    Há riscos calculados...

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  7. Eu também acredito que a Dussmann estivesse nervosa. Eu estava, e não era eu a cantar!

    O Botha talvez ganhe com as versões de concerto, não?

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  8. O Botha ganha imenso nas versões de concerto. Nesta, pelo menos. Imagine-o como Don Carlo, vestido à época, com calçõezinhos tufados...

    Está a ver como Caballé aparece em público? Grandes túnicas largas? É o que fica bem a Botha e ele deve sabê-lo. Daí o manto que levava vestido.

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