15.5.09

Afinal os jardins de Queluz ficaram encerrados ao público durante cerca de dois anos para quê?

Estava prometida a recuperação dos jardins do Palácio de Queluz e eles hoje reabrem ao público. Mas a julgar por este artigo, do qual transcrevo alguns excertos, e pelo que já se vislumbrava, a diferença entre o que estava e o que está não justificará dois anos de encerramento nem a campanha que propagandeava o restauro dos sistemas hidráulicos e de rega concebidos por Manuel da Maia no séc. XVIII.

Uma parte, ainda que diminuta, dos 16 hectares dos jardins foi limpa, alguns lagos e algumas estátuas de pedra e chumbo foram recuperados. Algumas árvores e umas quantas flores foram plantadas, nas áreas mais nobres, e a água corre, embora timidamente e sem pressão nas poucas fontes a que voltou a chegar. A cascata grande foi pintada e regressou à vida, as sebes de buxo foram talhadas nos percursos principais e os plátanos, cujas raízes davam cabo dos azulejos do canal, foram arrancados.

Por fazer está, todavia, muito daquilo que tinha sido prometido. Logo à entrada, percebe-se o falhanço daquela que era a mãe de todas as obras do jardim: a recuperação dos sistemas hidráulicos e de rega concebidos por Manuel da Maia no séc. XVIII. Mesmo nos lagos e fontes dos jardins superiores, contíguos à fachada traseira do palácio, os jogos de água não jogam, não jorram, limitam-se a correr, ou apenas a escorrer. Isto para já não dizer que nas instalações da Escola Portuguesa de Arte Equestre, nos limites da propriedade e depois de um investimento de 750 mil euros, a água morre nas condutas, e os cavalos são lavados a partir da rede da Câmara de Sintra.

Na verdade, grande parte dos caminhos está hoje barrada por redes de plástico verde, enquanto o "matagal", continua a reinar daí para lá. Passando o rio Jamor, e à excepção de um outro lago e respectivos conjuntos escultóricos, nada foi feito e os antigos e frondosos pomares de laranjeiras tornaram-se uma dor de alma morta de sede. Dolorosa é também a visão do celebrado canal dos azulejos, onde o Jamor se travestia em salão de festas aquáticas e coloridas nos verões reais de antigamente. Em vez da prometida recuperação, o que lá está é o que lá estava. Com a diferença de que no lugar dos azulejos caídos ou roubados foi posto reboco de cimento e, seguramente, foram feitos muitos e muito eruditos estudos sobre os mesmos.

(in Público)


11 comentários:

  1. Também andava desconfiada com este tão prometido "restauro", infelizmente é assim que as coisas se fazem por cá. Os jardins, ficam fechados alguns meses para justificar o abate de Árvores de grande porte cuja correcta manutenção pode ser complicada, plantam-se umas florzinhas e promovem-se inaugurações com pompa e circunstância.
    Mas quero lá ir antes de dizer algo mais.

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  2. É triste mas é assim.

    Ainda há pouco tempo lá estive. O jardim formal continuava na mesma e o que se via para lá das redes aparentava manter-se no mesmo estado em que estava há anos. Entretanto terá sido aparado o buxo e lavada a cara à estatuária. Pouco mais. Quanto à tão apregoada recuperação dos sistemas de rega, ficará para mais tarde (?).

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  3. A questão dos plátanos era complicada. As raízes estavam a destruir os azulejos do canal, muitos partiram-se e outros levaram sumiço.

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  4. Até a descrição já dói.

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  5. é por obras assim que gosto tanto deste país dos seus principais responsáveis!
    mas gosto da ironia do jornalista sempre com o dedo na ferida!

    apesar da tristeza, abraços e bom fim-de-semana!

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  6. Que desânimo! Vamos tentar ir lá um dia destes. E, com tempo, à Matinha oposta, que não temos notícia dela há muito tempo.

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  7. Paulo,
    Obrigado, apesar de as minhas semanas não terem um fim igual ao das semanas das outras pessoas.
    Abraços. E bom fim de semana para quem o tem.

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  8. PV,
    Na próxima quarta-feira já lá estarei. Como vou avisado, posso evitar fazer má figura.

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  9. Por estas (e por outros) me arrepio quando "avisam" para obras de recuperação... Assim me ficará o sobressalto pela Estufa Fria. Isto que já sou pouco e cada vez menos, crente!
    Abç

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  10. Depois da minha visita de ontem aos jardins de Queluz, nada tenho a acrescentar.

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