25.9.10

Così così

Confesso: a versão de "Così Fan Tutte" apresentada na Gulbenkian aborreceu-me. Achei-a assim-assim.
Detalhando um bocadinho:
  • Fui recordando a excelência de Karl Böhm, ou Gardiner, há quase vinte anos no Teatro de São Carlos. Isto das bitolas é tramado.
  • A Orquestra Barroca de Freiburg é excelente mas faltou Mozart onde não precisávamos de Bach. Ainda dei comigo a pensar se Mozart não teria adormecido profundamente em várias ocasiões caso tivesse vindo a Lisboa.
  • René Jacobs dirigiu sempre muito baixinho, sem espessura, sem volume, plano, liso.
  • Houve alguns momentos bonitinhos da parte dos cantores mas nenhum deles foi notável. Também pensei que podiam estar com medo de cantar alto e destoar daquela sonoridade sedenta de uma boa dose de cafeína revigorante.
  • Gostei da solução cénica. Apesar de se tratar de uma versão de concerto, os cantores actuaram como se estivessem numa versão encenada. Mas não é isso que torna memorável um concerto. A um concerto vai-se ouvir.
Ouça-se a abertura de "Così Fan Tutte" dirigida por Gardiner, registada no Théâtre du Châtelet, na mesma produção que passou por Lisboa no milénio passado.

13 comentários:

  1. Não seria das necessidades do espectador? (brinco, nem sequer percebo da coisa, como sabes...)

    Claro que um maestro vigoroso (como o nescafé, que demora a alcançar a espessura e cremosidade certa) não se compara à nespresso de trazer por casa ;)

    Beijo

    P.S. - A catarina já nasceu!

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  2. O Maestro não dirigiu com as dinâmicas certas - concordo. Mas os tempi estavam certíssimos! :-P

    Não estamos de acordo quanto à 'semi-encenação'. Essa é que acho que foi mesmo così così. Como se diz em italiano, non doveva fare così, doveva fare cosà. Gostei foi da empregada, que é uma actriz à Mozart, na minha opinião.

    Dê um pulinho pelo meu blog. O FanaticoUm é que adorou o maestro.

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  3. Que tristeza, Paulo. Eu vi Così... no S. Carlos vai fazer agora quatro anos, vinha directamente da Índia, exausta, e nem assim adormeci, mesmo sem o Gardiner a dirigir.
    Adormecer ao som de Mozart devia ser uma impossibilidade técnica, não devia?

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  4. Ophiuchus,
    Que boa notícia. Parabéns.

    Plácido,
    Já irei ler as vossas opiniões.

    Gi,
    Também assisti a uma dessas récitas e não adormeci. Nem imaginarias de onde se eu não te contasse. Não brinco, é verdade-verdadinha, como parece que disse o nosso primeiro. Quando cheguei para ocupar o meu lugar num camarote pindérico, daqueles mesmo junto ao palco, ele estava cheio de holofotes. De modo que fui (eu e mais uns quantos espectadores) trasladado para o camarote real! Mas deve ser só por isso que me lembro dessa Così. De resto, também não foi inolvidável.

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  5. Caro Paulo,
    De facto ficámos com impressões diferentes deste espectáculo. Pessoalmente, como escrevi no blogue, impressionou-me muito o excelente trabalho do maestro que conseguiu, na minha modesta opinião, a harmonia perfeita entre os intérpretes (instrumentistas e cantores) - essencial nesta ópera, com a sonoridade própria de uma orquestra barroca. Também achei muito feliz a semi-encenação, mas neste ponto parece que estou ainda mais isolado.
    Aprecio muito as suas críticas e aprendo sempre com elas.
    Espero que, ao longo da temporada, continuemos a ter possibilidade de disfrutar de concertos como este, mesmo così così (deliciosa a expressão)!

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  6. Caro FanaticoUm,
    Quanto à semi-encenação não está isolado, pelo menos na parte que me toca. Eu gostei. Apenas não acho que ela substitua o que me faltou, que foi uma boa dose de vigor. Nunca tinha ouvido uma orquestra barroca (e boa) tocar tão sem vida, tão harmoniosinho. Até as orquestras que têm acompanhado Cecilia Bartoli (a quem acusam de ter voz pequena) tinham um som cheio. Enfim, esta é a minha opinião, porque muitas vezes dei comigo a chegar-me à frente tentando ouvir os instrumentos (e os cantores também).

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  7. Caro Paulo,
    Eu estava colocado perto da orquestra e, talvez por isso, não notei a falta de vigor que refere. Da última vez que a Cecilia Bartoli cantou na Gulbenkian, num ínesquecível concerto para mim, em 11 de Fevereiro de 2006, a orquestra era esta.

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  8. Ajude-me lá, FanaticoUm. Esse foi o concerto da Opera Proibita? Se bem nos lembramos, era a própria Bartoli que dirigia a orquestra, pedindo-lhe explicitamente mais energia, mais força. Eu estava sentado na mesma zona do Grande Auditório e dessa vez ouvi cada notinha. Daí eu achar que quem me fez sono foi René Jacobs.

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  9. Certíssimo, foi esse mesmo (fui confirmar). E, apesar de tudo o que se diz da Bartoli (voz pequena, caretas excessivas, etc.), nesse concerto transbordou simpatia, emoção, beleza vocal e intensidade dramática. Recordo-me também (agora que o refere) de se ter dirigido à orquestra, ora a agradecer, ora a incentivá-la. E ouviu-se cada notinha, como muito bem relembra.

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  10. Esse, para mim, foi também um concerto memorável. E reafirmo a minha opinião: a Orquestra Barroca de Freiburg é muito boa (e bem mandada: fez o que a Bartoli quis e, agora, o que decidiu o Jacobs).

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  11. Deixem-me discordar de não se ouvir bem: eu estive no poleiro. Tenho descoberto que de lá não preciso de olhar para cima para as legendas; não leva cabeça; tenho muito melhor óptica; dada a qualidade do espaço, ouço perfeitamente - e pago metade.
    Tirando uma ou outra vez em que o tenor não se fez ouvir bem, o barítono que empapava as palavras e a péssima dicção da Despina, ouvi a 99%.
    Cumps

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  12. Paulo, eis uma opinião sobre a mesma produção de Così vista ontem em Paris.

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  13. Obrigado, Gi. Viva a liberdade de opinião.

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