10.4.11

Parabéns, Juan Diego!

Juan Diego Flórez e Diana Damrau (© Marty Sohl/Metropolitan Opera)
Renée Fleming, apresentando a récita que estava prestes a começar, deu a notícia: havia trinta e cinco minutos que Juan Diego Flórez era pai. Mal tivera tempo para ver o bebé e logo correra para o Met para, diria eu, em estado de graça, dedicar "Le Comte Ory" ao Leandro. Uma récita memorável, até para quem não coloca Rossini na lista de compositores favoritos.


Com um leque de cantores de primeiríssima água e uma encenação bem-disposta  (de Bartlett Sher) e sem a pretensão de descobrir uma qualquer nova leitura psico-social que ninguém ainda tivesse vislumbrado (o que lá está é muito claro e serve para divertir), a tarde cumpriu a promessa. Acredito que Rossini tenha dado grandes gargalhadas lá no céu dos compositores. Todos os cantores representaram os seus papéis com um verdadeiro sentido de comédia, gestos e olhares maliciosos como o libreto e a música pedem e, do ponto de vista vocal, tecnicamente infalíveis. Notáveis, além de Flórez (quem se lembra do seu concerto no Teatro de São Carlos?), Joyce DiDonato (pajem do conde Ory) e Diana Damrau (condessa Adèle), se bem que os papéis secundários tenham sido igualmente muito bem entregues.
Um dos momentos altos (se não o momento alto) foi o ménage à trois, quase a fechar a ópera. O conde Ory, que entrou no castelo da condessa Adèle disfarçado de peregrina, introduz-se no seu quarto decidido a seduzi-la, acabando na cama com ela e o seu próprio pajem. Um delírio em que os três se entusiasmam livremente uns com os outros e que ontem conseguiu ser muito mais divertido que este pequeno excerto de uma récita anterior.


Pode ler a sinopse da ópera consultando o programa de sala.

8 comentários:

  1. De facto, uma tarde que foi um festival de belcanto, com três dos maiores cantores rossinianos da actualidade, todos em excelente forma vocal e numa encenação para divertir e encantar. Fantástico!

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  2. Achei fantástico que cantassem tão maravilhosamente e conseguissem ao mesmo tempo fazer-nos rir à gargalhada com as suas tropelias.

    O ménage à trois foi, pareceu-me, bem além do estritamente previsto no libretto :-D

    (agora vais ter os visitantes que não estiveram presentes a torcerem-se de curiosidade e inveja)

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  3. FanaticoUm,
    Divertido e encantador, a todos os níveis.

    Gi,
    É verdade. Como conseguem eles ser tecnicamente tão bons cantores e, ao mesmo tempo, tão bons comediantes?

    Também me parece que o trio da cama foi muito mais longe do que Rossini teria suposto. O que diria ele se o pudesse ver?

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  4. J. Ildefonso.11.4.11

    Gosto muito de Rossini, sério, cómico, semi-sério e sempre me pareceu que valia a pena e que iria passar uma noite muito agradável mas mesmo assim foram superadas as minhas expectativas.
    O Comte Ory é uma ópera altamente subversiva e desconfio que não foram poucos os que mesmo depois de quase 200 anos se sentiram um pouco enervados com este final:-)))
    Caro bloger muito obrigado pela companhia e cigarros.

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  5. O supracitado trio afigura-se, musicalmente, como um momento absolutamente magnífico, cumprindo o seu propósito de forma integral.

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  6. Paulo,

    foi um fartote! eu creio que se Rossini fosse vivo iria pensar: "finalmente alguém me compreende!" porque se há coisa que o anafado e divertido compositor gostava, era de fruta! hehe :)

    foi muito engraçado. os realizadores de filmes cómicos da actualidade tÊm muito a aprender com os classicos!

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  7. J. Ildefonso.11.4.11

    Sim Hugo concordo plenamente. Tem qualquer coisa do 4º acto das Bodas de Figaro:-))

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  8. J. Ildefonso,
    Decidi ir pelos cantores e ainda bem que fui. A música não me fascina por aí além mas tornou-se, de repente, brilhante graças a eles.
    A encenação do trio final é muito ousada e os cantores executaram-na muito bem. Acredito que alguém tenha sentido um certo desconforto, sim.

    Hugo,
    Musicalmente, penso que os momentos mais interessantes são a cena da condessa, no I acto, e o trio final.

    Blogger,
    Rossini era um verdadeiro gastrónomo. Devia gostar de fruta, mas o seu prato preferido talvez fosse o tornedó.

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