3.2.13

Elisabete Matos nos 20 anos da OSP

Johannes Stert com a OSP
A Orquestra Sinfónica Portuguesa está de parabéns. Ontem mostrou mais uma vez que tem amadurecido muito bem ao longo dos vinte anos de existência e que se encontra em grande forma. A Orquestra e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, quando têm a casa cheia e estão a fazer aquilo de que gostam mesmo e que é a sua razão de ser - Ópera e concertos de qualidade -, puxam pelos galões e mostram o que valem. Principalmente quando têm de acompanhar solistas de grande nível e com quem têm desenvolvido uma relação privilegiada. Nos últimos anos, noites verdadeira- mente gloriosas em São Carlos foram as das récitas de "Tosca" e de "Don Carlo" e as dos concertos que contaram com a presença de Elisabete Matos. É por isso natural que se sinta no Teatro o entusiasmo contagiante quando se sabe que Elisabete Matos vem cá. E é também natural que a Orquestra tenha convidado Elisabete Matos para o primeiro concerto comemorativo dos seus vinte anos.

Elisabete Matos com o Coro do TNSC (fotos © Hardmusica)


Cabe agora mencionar alguns dos momentos que mais me emocionaram no concerto de ontem, que teve a direcção musical de Johannes Stert, e que foram Ernani, Ernani involami (ária e cabaleta de Elvira), Patria oppressa (coro dos escoceses refugiados, de "Macbeth"), Ecco l'orrido campo... Ma dall'arido stelo divulsa (cena e ária de Amelia, de "Un Ballo in Maschera") e todo o final dedicado a Wagner: Schläfst du, Gast e Du bist der Lenz (Sieglinde) e, de "Tannhäuser", Dich, teure Halle e Freudig begrüssen (coro dos convidados).

Da orquestra apetece-me destacar a qualidade da percussão e dos metais, que noutros tempos foram o seu elo mais fraco. Estiveram excelentes no prelúdio do III acto de "Lohengrin".
Foram também impressionantes os gritos do coro, Peter Grimes, Peter Grimes, no final de Who holds himself apart, um reportório ao qual não está habituado - e que poderá fazer pouco sentido num concerto em que a solista canta Verdi e Wagner -, mas que provou estar apto a assumir.

Em resumo, um concerto de alto nível, com a sala esgotada, que só não estava mais cheia porque foi construído um palco para a orquestra que ocupa quase metade da plateia. O caríssimo Senhor Martin André já terá percebido que muitos dos concertos que programa não vendem, porém se os convidados são Elisabete Matos ou Artur Pizarro (já no próximo Sábado), a casa enche e todos os lugares são poucos? Com que justificação se pode impedir o Teatro de vender cerca de 250 lugares por concerto? Qual é a lógica de colocar os cantores no meio da sala, com graves prejuízos para eles e para o público em termos acústicos, como aconteceu na interpretação de Os Sinos de Rachmaninov no dia 26 de Janeiro? Elisabete Matos optou por cantar junto do coro, atrás da orquestra, no sítio onde se supõe que os cantores cantem, que é o palco do Teatro. E esteve magnífica. Só não é justo ter de competir com o volume sonoro de uma orquestra que inunda um teatro inteiro. Ainda assim, como a sua voz tem o tamanho que se sabe, impôs-se e foi um gosto e um privilégio ouvi-la. Tão depressa não a teremos por cá.

No final do ensaio geral, Elisabete Matos deu uma curta entrevista a Jorge Rodrigues para a página dos Músicos da OSP no Facebook. Ei-la:


10 comentários:

  1. Além da plateia, a outra ideia brilhante foi agendar no mesmo dia em que Joyce DiDonato estaria na Gulbenkian. (Agendada há meses e bilhetes todos vendidos).

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    1. No mesmo dia e à mesma hora. Nem havia a hipótese de correr de um concerto para o outro.

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    2. Por um dia, Lisboa até pareceu Berlim ou Nova Iorque.

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    3. Anónimo8.2.13

      Foi extremamente frustrante. Há meses que tinha bilhetes para a Joyce DiDonato (que foi brilhante!!!!) e ao mesmo tempo, impossibilitado de ver a nossa Elisabete...

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  2. Há alturas assim, em que me apetece ir a correr para Lisboa todos os fins-de-semana.
    Era bom que os produtores de espectáculos, chamem-se como se chamarem, pensassem seriamente na acústica e nas melhores condições para o público ouvir os cantores. Já na sexta-feira, na Gulbenkian, a voz de Karita Mattila foi completamente abafada pela orquestra.
    Gosto do vestido azul de Elisabete Matos, boa escolha.

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    1. No São Carlos não foi o caso, apesar do volume desproporcionado do som da Orquestra por estar a tocar no meio da sala.

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  3. J. Ildefonso.6.2.13

    Vi a Joyce Di Donatto. Como tinha assistido ao concerto de aniversário da Elisabete Matos e simultaneamente tinha muita curiosidade em tentar perceber qual era afinal a voz da cantora americana optei pela Gulbenkian....

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  4. J. Ildefonso.7.2.13

    Não percebo que tipo de voz tem. Ela no barroco canta contralto, meio-soprano e soprano. Mas acho que é um soprano sem agudos como a Kozena. É muito musical mas o timbre é bastante anónimo e a voz tem pouca presença. Por muito agradável que seja escutar uma cantora tão disciplinada não fiquei totalmente convencido. O público gostou muito. Especialmente do vestido.

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    1. Anónimo8.2.13

      É uma meio-soprano, com uma grande amplitude vocal. Não percebi o comentário "sem agudos"... Deveria ter assistido `Maria Stuarda do sábado anterior. Aí não teria dúvidas. Não me considero nenhum perito, nem crítico, nem opinador. Mas sei quando gosto. E gosto da Joyce DiDonato. Em relação à nossa Betinha... Foi do melhor que ouvi nos últimos anos... Será que estamos a voltar aos velhos tempos do São Carlos? Já a Thais foi muito boa... Esperemos pela Trilogia de Verdi...

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