O mandato da nova maestrina titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa não podia ter começado melhor. Antes de dirigir a peça de abertura do concerto, perante uma sala cheia que deu gosto ver, Joana Carneiro (directora musical da Berkeley Symphony desde 2009 e maestrina convidada da Orquestra Gulbenkian) dirigiu-se ao público, manifestando a honra que sente por ter sido convidada para o cargo e a esperança num "novo ciclo verdadeiramente positivo" (aplausos). Oxalá a sua voz chegue ao sítio certo. Depois falou também com Luís Tinoco, que explicou em breves palavras a história de Before Spring, uma obra estreada em 2010 no CCB, na sua versão original para orquestra de câmara, como abertura à Sagração da Primavera (na coreografia de Olga Roriz). Joana Carneiro pediu ao compositor que adaptasse este tributo à Sagração para a versão sinfónica que se ouviu ontem pela OSP.
A obra de Luís Tinoco pareceu-me muito interessante. Sem mostrar referências óbvias a Stravinsky, sentíamos aqui e ali de onde vinham certos acordes. Perto do final, alguns músicos saíram do palco para se colocarem em diversos pontos da sala, criando um curioso efeito sonoro. Sabendo da apetência de Joana Carneiro pela música contemporânea, era de esperar, como se verificou, um bom resultado.
Passando a Beethoven, ouvimos uma Grande Fantasia Coral com Artur Pizarro na sua melhor forma (o Steinway do São Carlos com um som esplendoroso) e a orquestra, o coro e os solistas totalmente empenhados e a uma só voz. Quanto a Pizarro, resta-nos esperar o seu regresso a Lisboa, já em Março, a iniciar a integral das obras para piano de Rachmaninov no novo Grande Auditório da Gulbenkian.
Na segunda parte do programa ouvimos a Sinfonia nº 6, Pastoral. E Joana Carneiro levou a OSP a transcender-se, produzindo um som limpo e brilhante a que não estávamos habituados. Mais uma vez se prova a qualidade da Sinfónica Portuguesa, desde que tenha um maestro à altura. No final do concerto, o público aplaudiu com um entusiasmo sentido e verdadeiro. Alguém dizia que Joana Carneiro devia ser promovida a maestra, pois maestrina é pouco para ela. Concordo.
Só podemos desejar que tudo lhe corra de feição, já que a orquestra e o coro estiveram a um nível de grande qualidade, respondendo sempre com precisão aos seus gestos claros e seguros, dando prova da empatia que já se gerou entre ela e os corpos artísticos da casa. Ou, pelo menos, assim parece.
Esperemos que sim, Paulo. Bem precisamos de maestros capazes, que dirijam orquestras de forma a agradar à maioria do público. Escrevo isto porque acho que a Gulbenkian, que tantas alegrias nos tem dado, ameaça iniciar um ciclo tenebroso com as leituras de Paul McCreesh que, pelo menos para mim, têm sido horrorosas!!
ResponderEliminarO concerto de ontem foi muito auspicioso, Fanático_Um. A todos os níveis.
EliminarJá no que diz respeito aos concertos da Gulbenkian com Paul McCreesh, não sei o que lhe diga. Muitos, ao olhar para o programa, assustaram-me de tal forma que nem quis ir ouvi-los. E o que tenho lido, por exemplo sobre o concerto recente de Schubert e Mahler, não é muito abonatório a seu favor (seu, dele, de McCreesh, bem entendido).
Boas novas finalmente , Paulo. Da nulidade que antes dirigiu a OSP nem vale voltar a falar, Nesta maré de recessões a todos os níveis que vamos suportando, "ter" Joana Carneiro e Pizarro é uma sorte tão grande que nem parece verdade. Estão de parabéns os três, OSP, Joana Carneiro e Pizarro, e o Paulo por este post :).
ResponderEliminarEu estou de parabéns pelo privilégio de ter estado lá, Mário. Obrigado.
EliminarGostei muito de ter ido ao S. Carlos, desta vez. Não sei como, mas parece que há bons ventos a soprar por ali.
ResponderEliminarOxalá, Gi.
EliminarA ostenção de inequívocos predicados por parte dos corpos artísticos do São Carlos, constitui-se, na minha modesta óptica, vector fulcral de todo um processo de premente regeneração da supracitada entidade.
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