10.12.07

Cantatas e sonatas de Handel, ou seja, música para entreter

Retrato de Handel à época da composição das primeiras cantatas italianas
Pastel de Luzie Schneider, cerca de 1710

Pastorella, i bei lumi (ouvir)

(LoRau)

“Música e entretenimento cortês no início do séc. XVIII” é o título do texto de João Silva, incluido no programa de sala do concerto de Andreas Scholl na Gulbenkian, no passado dia 8 de Dezembro. O título não podia definir melhor aquilo que se ouviu: quatro cantatas, com duas sonatas em trio pelo meio.

Imaginemos o salão de um palácio barroco, perucas e leques a abanar, condes e condessas, marqueses e princesas, todos muito entretidos em conversas e jogos. Ao longe, um violino, uma flauta e um cravo, só para entreter, literalmente.

O que se exigia a um compositor não era muito: música de fundo. Por vezes, bastava reciclar umas melodias já utilizadas em outras obras e nem era necessário especificar os instrumentos na partitura. A música seria executada pelos instrumentistas disponíveis no momento (violinos ou flautas, tanto fazia).

Apesar de as sonatas do programa terem sido tocadas em teatros, não perderam o carácter de música de entretenimento, sabendo nós que o público ia ao teatro para comer e conversar, escutando com mais atenção uma ou outra ária pelo castrato preferido. No séc. XXI, em concerto, não me parece que essas sonatas despertem um grande interesse para além da curiosidade histórica.

As cantatas que Scholl interpretou no Grande Auditório da Gulbenkian (e hoje na Casa da Música) enquadram-se, também, nesta atmosfera palaciana e não são representativas do melhor que já ouvimos pela voz deste contratenor. A primeira ária da cantata “Nel dolce tempo”, Pastorella, i bei lumi, permitiu-nos apreciar o seu belo timbre, mas foi na quarta cantata do programa, “Mi palpita il cor”, que ela mais nos seduziu. A ária Ho tanti affanni in petto foi repetida no único encore, talvez o melhor momento do concerto.

Foi bom ver Andreas novamente, mas já vi o Scholl brilhar mais.

[Scholl em entrevista ao Público: (...)uma espécie de «easy listening» do período barroco(...)]

6 comentários:

  1. Afortunado tú, que con mayor o menor brillo lo has podido escuchar en directo ¡y varias veces! Espero que hayas disfrutado de su bella voz (y gracias por la traducción).

    ResponderEliminar
  2. Gostei da "foto" de Haendel enquanto jovem. Gostei muito do vídeo da "Pastorella" e da sua adequação à música. E, pronto, da próxima talvez, quiçá, melhor?...
    Bjs.

    ResponderEliminar
  3. foi um Scholl contindo... concordo, mas elegante. Esperava um pouco mais da "Mi palpita il cor", mas o conjunto foi mt bom

    ResponderEliminar
  4. Casa da Música vs. Gulbenkian... no meu canto ;)

    Foi engraçado termo-nos encontrado no intervalo :)

    Uma boa noite, Moura Aveirense

    ResponderEliminar
  5. Marian, mesmo não tendo sido Scholl no seu melhor, valeu a pena.

    Cigarra, do vídeo não gosto muito, confesso, apesar dos rios e das flores de que fala a ária. O que terá Scholl reservado para nós?

    Jmnk, este repertório é contido por natureza. Estamos no culminar da suavidade barroca, nada de excessos na demonstração dos sentimentos. Excessos, só no fausto decorativo.

    Moura, foi um prazer. E já li a sua opinião.

    ResponderEliminar
  6. Concordo com os seus comentários, Paulo, o easy listening não me motiva certamente a ir a uma sala de concerto; a voz do Scholl sim, mas fiquei um bocadinho decepcionada.

    ResponderEliminar