21.1.09

Elektra - Gulbenkian - III

Diz o Crítico, e eu, que não sou crítico e não percebo nada de música, concordo e subscrevo, que a "Elektra" da Gulbenkian foi extraordinária. Muitas pessoas que lá estiveram no dia 15 pensam o mesmo. Daí eu também não entender a crítica de Pedro Boléo a esse concerto (Público, 19 de Janeiro):

"Deborah Polaski foi um exemplo vivo desta contradição. A soprano americana não encontrou saídas para a claustrofobia de Electra, que muito grita e pouco consegue agir. Fraquejou sucessivamente nos agudos, deu notas ao lado, e sobretudo falhou expressivamente, não marcando a diferença em dois momentos fundamentais da ópera, o que não é compreensível para quem cantou Elektra muitas vezes e conhece tão bem a obra: o primeiro, quando sabe finalmente que Orestes está vivo ("Deixa que os teus olhos me vejam"), e depois no belo monólogo perto do final ("Se não ouço? Se não ouço a música? Mas ela vem de dentro de mim!"). Seria perdoada se tivesse agarrado estes dois momentos, mas não o fez."


Estranha ainda o Crítico, e eu também, que Pedro Boléo louve "cantores abomináveis que têm passado no S. Carlos [...] e massacre uma grande senhora como Polaski".

Já as ironias tecidas por Henrique Silveira sobre o casamento civil homossexual parecem-me tão descabidas como as críticas de Boléo.

15 comentários:

  1. Se o mundo do Outro fosse absolutamente igual ao nosso, não era o dele, era o Nosso!
    Bom Dia!

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  2. O Henrique Silveira, quando se afasta da crítica musical, às vezes espalha-se.
    No caso, talvez esteja só a ironizar com esta ideia de o Estado ter de regulamentar tudo.

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  3. Diria que a Gi está a querer ser boazinha. Eu li lá duas coisas:

    1 - uma crítica ao aproveitamento político, por parte de José Sócrates, de um assunto tido como "fracturante" até Outubro passado (lembra-se?).

    2 - uma homofobia desenfreada que mistura no mesmo saco homossexualidade e bestialidade.

    Terei lido mal?

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  4. Não só bestialidade: poligamia, minorias religiosas, e até automóveis. Por a confusão ser tanta é que eu lhe daria o benefício da dúvida, e admitiria que fosse só um espalhanço.

    Quanto a querer ser boazinha - é verdade.

    E quanto ao aproveitamento político: o sr. Sousa deve pensar que os homossexuais já não se lembram do que aconteceu ao projecto do BE nem às outras promessas que ele nos tem feito.

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  5. Em primeiro lugar, acho que Sócrates terá mais a perder que a ganhar em termos eleitorais com esta afirmação, dado a enorme homofobia do nosso país e o poder da Igreja; logo nunca poderá ser apelidada de propaganda eleitoral.
    depois esse senhor que até parece ser um bom critico musical, tece uma série de considerções sobre o facto, que estariam justificadas num mentecapto, apenas...
    E para quem é tão homofóbico, parece preocupar-se demais com os sapatinhos dos músicos...
    Abraço.

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  6. Exactamente, Gi: tudo o que lhe apeteceu e a imaginação lhe ditou.

    Pinguim,
    Também não lhe chamaria propaganda eleitoral, mas parece-me claro que houve uma intenção de aproveitamento político. Sócrates não gosta de ficar mal na fotografia, mesmo que não haja já Kodak que o favoreça.

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  7. Uma voz aqui ao meu lado diz-me que «o homem é um mal amado e que só consegue dizer bem de alguém com um espelho na frente...» Tudo o que ele diz é tão absurdo que nem vale a pena perder tempo a desmontá-lo ponto por ponto, tão frágil se revela a sua lógica insana.

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  8. A ironia, sobretudo se tingida de cores garridas, exige esforço para não ser treslida.

    Como reparou a Gi, há quem, além de condenar o valor postiço, de vulgar passatempo eleitoral, que os nossos políticos atribuem a tema tão privado, também se indigne com o desrespeito que constitui a sugestão de debate sobre o casamento civil homossexual - um direito que deveria estar há muito consignado em lei.

    (Curiosamente o texto de HS serve de teste à intolerância. Como é fácil apelidar de bestial o que nos parece bizarro... Não será dessa mesma estranheza que se forja a cegueira que guia o homófobo?)

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  9. Maria,
    Não sei se terei treslido as ironias de HS, mas elas pareceram-me absurdas. O Crítico sugere que Pedro Boléo "não percebe nada do assunto" e eu permito-me pensar que HS, neste caso, também não percebe do que fala e mistura tudo.

    "Bestialidade" é um termo científico que não uso com sentido pejorativo ou intolerante. Poderia ter utilizado termos como "zoofilia" ou "zoossexualidade", talvez mais elegantes, mas tecnicamente sinónimos. Apenas me parece que HS abusou da sua lógica insana (como escreveu a Cigarra) para troçar dos homossexuais e da sua luta por direitos que, como a Maria diz, há muito deveriam estar consignados em lei. Não li nas entrelinhas do texto de HS qualquer sentimento favorável ao casamento civil entre homossexuais. E também não me parece que HS ficasse contente por ler um texto que se referisse a heterossexuais naqueles termos.

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  10. HS fala de amor e casamento, não de sexo. Por isso é ambíguo o uso do termo «bestialidade»; aqui soou mais a menosprezo que a ciência.

    Não me importo nada que HS seja desfavorável a qualquer casamento civil. O que entendo é que, pela escrita junto ao osso, faz mais pela causa que a lamentação insípida ou a vingança equivocada.

    (A estaca da não-cerimónia, com aqueles rebentinhos de tuteio, afinal não pegou?)

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  11. Não percebes nada de música?! Então quem é que percebe, eu e alguns instrumentistas do agrupamento de baile da esquina, só porque aprendemos a ler notas?! :)

    Em relação às ironias do crítico, nem valem o tempo perdido a lê-las...

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  12. Desculpa, Maria. Há hábitos difíceis de perder.

    De facto, HS nunca menciona sexo e não precisa, pois podemos depreender que ele se lhe refere quando fala de amor e casamento entre humanos e bonecas e bonecos insufláveis. Já se eu me casasse com um automóvel - teria de ser um Dona Elvira - não sei como resolveria esse assunto. Além da zoofilia (fiquemos então por aqui, se não te importas), HS quer trazer à baila uma nova forma de amor que se chamará o quê? Coisofilia?

    Brincadeiras à parte, estou-me nas tintas para o que HS pensa sobre o casamento e se é homófobo ou deixa de ser. Não tenciono contrair matrimónio nos próximos anos. Mas há quem o queira fazer e não possa. Já o modo alvar como ele trata os homossexuais naquele texto, que indica que ele os vê como aberrações, choca-me mais que as posições do clero católico ou dos políticos mais conservadores.

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  13. jardineira,
    Eu gosto de música. Quando aqui teço comentários, eles são apenas a minha opinião. Como não sei ler uma nota de música a seguir a outra e não tenho estudos musicais de espécie alguma, as minhas opiniões são só isso mesmo. Baseiam-se no que sinto e no que penso. Se assim não fosse ainda havias de me ver a fazer crítica musical no Público ou no Expresso, para não dizer no Le Monde de la Musique.

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  14. O que se pretende quando se emprega ironia, esse labirinto subtil de contrastes, é precisamente chocar. Para convencer. Ainda que a alguns já convertidos possa causar mal-estar -- como a certas plantas a rega em excesso.

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  15. E HS quererá convencer quem do quê?

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