18.4.09

Audições


Nota: texto concebido e escrito em colaboração valkirio/Garden-of-Philodemus e publicado em estereo.

Ontem de manhã na Antena2 o contra-tenor Manuel Brás da Costa dizia que o maestro Nicholas Kok, que iria dirigir a Agrippina no Teatro de S. Carlos, é um maestro habituado a música contemporânea que teve de se adaptar a uma ópera barroca.

Eu não entendo esta displicência com que nos tratam, permitindo-se andar a fazer experiências parvas deste jaez: já basta o seleccionador nacional de futebol não saber onde põe os jogadores no campo, mas a direcção do S. Carlos não tem ideia de quem vai buscar para tocar/cantar as obras com que nos brinda.

Christoph Dammann pediu a Elisabete Matos que fizesse uma audição* para a maestrina Julia Jones da qual dependeria a confirmação do convite feito por ele próprio à cantora para fazer a Salomé. Pelos vistos, não deve ter pedido audições nem a Kok nem aos cantores** que transformaram ontem a Agrippina num Haendel esquartejado, numA catástrofe, numa coisa que estou com medo de ouvir.

Não será tempo de alguém audicionar o senhor Dammann e subtraí-lo ao teatro?



*Uma Arbeitsprobe, contesta Dammann. A rose by any other name would smell as sweet, disse Shakespeare.
** Mais uma vez o Teatro substituiu a protagonista sem dar cavaco ao público: quem estava prevista era Kristina Wahlin. Não faço ideia se ganhámos se perdemos com a troca.

18 comentários:

  1. Bom texto.

    Eu nem penso em gastar dinheiro no S. Carlos!! Quando li a Crítica do Calado no Expresso da semana passada ri-me às gargalhadas. Hoje, com o Crítico igualmente... o que o S. Carlos merece é que ninguém ponha lá os pés. É que eu realmente não percebo porque é as pessoas continuam a lá ir. A esperança (de que o próximo espectáculo será bom) é a última a morrer, é isso?!? É como os restaurantes que têm mau serviço, mas que continuam cheios pela sua "fama" ou pelo local agradável em que se encontram: enquanto eles não deixarem de ter clientes, não irão mudar.

    A mim é que não me apanham. Ir ao S. Carlos para ouvir barbaridades, não... eu que adoro Handel, nem pensei em comprar bilhetes. Prefiro ouvir em casa.

    Bom fim de semana, Moura Aveirense

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  2. É isso mesmo. Também adoro Handel e deslocar-me ao TNSC para assistir a uma produção que não lhe faça jus, não dá. Não vou arriscar. Também prefiro ouvir o que tenho cá por casa. Mas fico com muita pena...

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  3. Anónimo19.4.09

    É pena esse contra-tenor também não ter feito um esforço...nunca ouvi voz mais feia.

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  4. Anónimo19.4.09

    Quando se fala em Teatro de S. Carlos já há um incómodo geral perante a displicência com que o público português é tratado e a aparente posição de impoluto e inimputável do Sr. Dammann.
    Começa a ter contornos de escândalo.
    O vosso texto está esclarecedor.

    Maria Helena

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  5. Vamos lá ver se nos entendemos!!!!!!
    Nicholas Kok maestro de música contemporânea??????
    Das duas...três!!!!!!!Ou eu sou (muito)burro ou então não percebo nada do assunto!!!!!!E já lá vão 25 anos de carreira como instrumentista.Se a afirmação desse contra-tenor fosse verdadeira(o que eu duvido muitíssimo!!!),Nicholas Kok seria um génio.Esta é que dá para rir às gargalhadas.Quanto à crítica(?) do Doutor Henrique Silveira sobre a Agrippina,já disse e continuo a dizer que é asquerosa,desonesta musicalmente e mentirosa.É verdade que tem cantores,digamos..."menos bons"(esse contra-tenor por exemplo),mas é um espectáculo honesto em que musicalmente a OSP,sem ser especialista em música barroca, se porta muito bem!Belíssima prestação dos baixos da OSP(contrabaixos e cellos),trompetes e flautas.O trio que acompanha os recitativos(tiorba,cello e cravo)esteve muito bem.E porque não destacou o Doutor Henrique Silveira os excelentes solos de cello feitos por Ajda Zupancic?E os solos do concertino Xuan Du?Eu sei muito bem quais são as razões que levam HS a escrever este tipo de críticas(?).Há quem se ria com a crítica do senhor Calado,mas...eu chorei!Se a direcção não presta,a solução é fechar a empresa!Afirmações deste calibre revelam bem o tipo de crítica construtiva e carácter do seu autor.O que interessa é pôr tudo na rua,poupar dinheiro e não se aproveitar nada.Depois ficamos como o Benfica!!!!
    Tudo isto para dizer que a Agrippina não é uma produção perfeita,tem as sua coisas boas e más,mas é honesta!E eu que participo como instrumentista nesta produção,tenho a consciência tranquila!
    Muito mais haveria para dizer,mas já me alonguei demasiado e não quero que se zangem mais comigo.Peço desculpas antecipadas,se por acaso ofendi alguém.
    PS-Caro Anónimo,tem razão...voz horrível!

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  6. Moura,
    Confesso que não tive vontade de rir quando li a crítica de Jorge Calado no Expresso, nem quando li o texto do Crítico. O assunto é muito sério e causa-me tristeza ver o teatro de São Carlos como está.

    Cigarra,
    Talvez tenhas razão. Têm sido tantas as decepções que apetece desistir.

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  7. Obrigado, Maria Helena.

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  8. Sr. José Mlinsky,

    A longtime champion of contemporary music, he has conducted numerous world and UK premieres (...).


    Fazendo fé no cv apresentado por Nicholas Kok, ele é um músico extraordinariamente versátil e aborda o reportório que vai de Monteverdi a vários compositores contemporâneos, tais como Maxwell Davies, Birtwistle, Holt, Reich, Turnage e Xenakis.
    O myspace do próprio maestro (link acima) enfatiza a sua ligação à música contemporânea.

    Quanto à opinião de Henrique Silveira sobre esta "Agrippina" e sobre o estado do TNSC em geral, devo lembrá-lo de que ele não está sozinho. O que Augusto M. Seabra escreveu no Letra de Forma exprime os sentimentos de uma grande parte do público.

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  9. Caro Paulo,
    Falei hoje com o maestro e foi isso exatamente o que ele me disse ,frisando que o que mais tem dirigido são obras do período barroco que é mais a sua especialidade.Qualquer bom maestro lhe dirá a mesma coisa- muita versatilidade e especialidade num determinado repertório.Por isso não vejo razão para se apupar este maestro que fez excelente trabalho connosco.
    É claro que HS não está sozinho!!!Há sempre um grupo de amigalhaços para apoiar.E já agora pergunto:
    Qual a semelhança entre a crítica(?) de HS e Seabra?
    HS é malcriado,mentiroso e desonesto.Diz sempre que a OSP é de fraca qualidade que nunca ouviu a orquestra em tão baixo nível.Pois fiquem sabendo que essa orquestra é constituída por muitos membros do Divino Sospiro ,do qual ele só diz maravilhas.Então em que é que ficamos?São bons numa orquestra e não prestam noutra?HS não tem categoria!Vocês não se apercebem da quantidade de asneiras e erros de palmatória que ele comete ,tanto nas críticas escritas como no seu programa de rádio.Já escrevi um post sobre este tema-Henrique Silveira "O Coerente".
    Seabra está indignado,tens as suas razões,fundamenta-as bem e é educado fazendo crítica objectiva e construtiva(este cantor é bom, mas este papel não é bom para ele,o barroco não é especialidade da OSP,etc.) e faz (curioso!)uma referência pouco abonatória aos oboés,que por acaso pertencem também ao Divino Sospiro.Eu também não sou a favor desta direcção(as asneiras são mais que muitas)mas não se esqueçam que os nossos políticos são analfabrutos e o orçamento do TNSC é cada vez mais diminuto.Não comparem o TNSC com outros teatros europeus.É mesma coisa que comparar a Académica com o Barcelona.Por falta de vontade política,nós não temos sala para ensaiar,andamos sempre a saltar de um lado para o outro e a pagar balúrdios de aluguer de salas,custos acrescidos com o transporte de instrumentos ,cadeiras ,estantes,partituras do TNSC para essas salas e o seu retorno.E no fosso da orquestra?E as pulgas?Meu Deus!!!!Muitas vezes ficamos com o corpo completamente picado das ditas.O calor tremendo que faz desafinar os instrumentos.E há muito mais!!!!
    Por isto (e HS sabe destas situações) é que eu não posso pactuar com o tipo de crítica tendenciosa de Henrique Siveira.
    Os senhores críticos em vez de baterem em nós,deveriam era apontar as baterias à medíocre direcção do TNSC e para Ministério da Cultura.
    Nunca,mas nunca, vi o actual ministro da Cultura em qualquer espectáculo(concerto ou ópera) no S. Carlos.

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  10. Anónimo20.4.09

    Tem toda a razão o Sr. José M.,cuja identidade desconheço.
    Também lá estou (na OSP)e posso dizer que é mesmo assim.
    Já agora deixem-me lançar esta pergunta a todos os bloguistas de serviço:porque razão nunca vos vemos nalguns bons concertos que a OSP tem realizado ao longo destes anos???
    «Sinfonia Fantástica» com J Jones...por exemplo...como diria um caro e competente colega...

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  11. Ò Senhor Por Exemplo,
    Estás quase lá!!!!
    Ainda bem que apareceu alguém para me ajudar.
    Aconselho a lerem a crítica do Manuel Pedro Ferreira no Público de hoje,acerca da Agrippina ou então passem pelo blog do Mlinsky(por exemplo...!) que eu transcrevi todo o texto.

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  12. Senhor(a) por exemplo20.4.09

    Sr.Mlinsky,estou quase lá...ok!então aqui vai mais uma.
    Para a nossa voz ter credibilidade temos de reconhecer que as temporadas do Teatro estão,no mínimo, «fracotas»...sendo o S.Carlos o único Teatro de Ópera em Portugal(desgraçadamente)este deverá ser uma referência e não um laboratório de experiências mais ou menos falhadas.Posto isto,o S.Carlos é o lugar mais cobiçado por todos estes pavões:todos por lá querem passar;deixar a sua «marca»,ou talvez uma nódoa que nem a benzina lhe vale.
    Como dizia o Eça...leiam-no porque esta vaidade parola,esta miséria de espírito já vem de longe e também passa por ali.

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  13. Um Maestro habituado a dirigir música moderna é que vai dirigir a Agrippina?!? Confesso que me dá vontade de rir novamente, desculpe lá Paulo ;) Até que tenho pena de não ter assistido a esse espectáculo, para ver isso! ;) (Bem, se Villazon pode cantar Handel, pelos vistos tudo é permitido... Handel, perdoa-nos! ;))

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  14. Caros Sr. José Mlinsky e anónimo,

    Quero deixar claro que não há, da parte dos autores deste texto, uma intenção de ataque aos músicos da Orquestra Sinfónica Portuguesa. O que nos preocupa é algo muito mais sério e prende-se com a degradação generalizada da qualidade das produções apresentadas pelo TNSC, facto que o anónimo (Senhor[a] por exemplo) veio entretanto corroborar.

    Sabemos muito bem que a orquestra e o coro trabalham actualmente em péssimas condições. Há poucas semanas cheguei ao largo de São Carlos e, quando ouvi um coro, pensei tratar-se de música gravada. Não era. Era o coro que estava a ensaiar na sala de entrada do Teatro Nacional de São Carlos.

    Gostaria também de recordar aqui críticas muito positivas à orquestra em récitas passadas, bastando lembrarmo-nos de "Wozzeck", com Eliahu Inbal, ou mesmo de "Tosca", com Lothar Koenigs. Parece-me evidente que a prestação da orquestra melhora significativamente quando tem à frente um maestro que a saiba dirigir.

    Quanto às opiniões de Henrique Silveira, são as dele. Por vezes concordo, muitas vezes também não. E não preciso de nutrir especial simpatia pelo autor do Crítico para o referir.

    Cumprimentos e votos de boas temporadas num futuro que, esperamos, chegue rapidamente, para bem do público, dos artistas que lá trabalham e do prestígio do teatro.

    P.S. Sr. José Mlinsky, a crítica do Público que menciona também não abona em favor da produção em causa.

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  15. Sr. José Mlinsky,
    Na transcrição que fez da crítica do Público, onde se lê "Os intérpretes responderam bem ao que deles aqui se pediu [Velório de Cláudio]. Já o mesmo se passou em Agrippina", deve ler-se (...) Já o mesmo não se passou em Agrippina.

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  16. Cara Moura,
    Está um bocadinho atrasada,não está?
    Já expliquei esse pequeno pormenor!
    O que me diz de Emilio Pomàrico(especialista em música moderna pura) ter dirigido muito bem Beethoven e Wagner(Rheingold) no S. carlos e com muito boas criticas.Engraçado,não é?
    Caro Paulo,
    É claro que não abona,mas mencionei a crítica do Público porque é honesta e imparcial e tem muita razão de ser.Salienta aspectos positivos e negativos,não dando o tom de castátrofe apocalíptica regorgitado em outras críticas e que vos afastam do Teatro.
    Eu sei que não tem nenhuma intenção de ataque aos músicos.O simples facto de publicar os meus comentários é a prova disso.Mas é meu(nosso) dever dar-vos informação correcta do porquê das fracas produções,porque há críticos que vão à ópera com ideias preconcebidas(já sabem quantos ensaios o maestro fez,se é simpático,se agrada aos amigos de certo crítico(s),quais os erros que comete,qual a edição da sua partitura, etc).e o espectáculo ainda não acabou e as críticas já estão a sair quentinhas do forno.E vocês,verdadeiros apaixonados por música,apanham com esta intoxicação"criticária" e ficam doentes.
    Não poderia terminar, sem deixar de agradecer o seu amável texto.
    Saudações Musicais

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  17. Obrigado Paulo pelo reparo.
    Já está emendado!

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  18. Tiago de Carvalho Cardoso21.4.09

    Sr. Jose Mlinsky

    Tenho lido os seus textos e tenho uns comentarios a fazer-lhe.
    Eu fui ver a Agrippina na sexta e fui com a partitura da mesma para verificar atentamente os erros musicais. As cordas, mais concretamente os violinos e as violas, estavam desafinadissimos e super descoordenados, o tal cello barroco mal se ouvia e por um naipe inteiro de violoncelos e outro de contrabaixos a fazerem o continuo altera completamente o conceito barroco de baixo continuo e abafa os outros instrumentos. Os sopros mesmo assim nem estiveram mal bem como os trompetes. Nem vou falar das vozes porque so a Coku se conseguiu safar.
    Agora pergunto-lhe:
    Sera justo pagar um preço elevadissimo por um bilhete para assistir a um espetaculo que nem vale a gasolina que gastei para ir de minha casa ao Sao Carlos?
    E ainda por cima ter que levar com uma encenaçao ao estilo de Manuel de Oliveira? Nao, claro que nao!
    E o mais frustrante e que o sr. Dammann fica-se a rir e a beber champanhe com os amigos pago com o dinheiro dos pobres que todos os meses, na esperança da proxima opera prestar para alguma coisa, dirigem-se ao Sao Carlos.
    Claro que nao estou a culpa-lo nem a qualquer outro musico, estou sim a criticar os dirigentes desta suposta casa de opera que apresenta espectaculos que cada vez mais se vao assemelhando a audiçoes de um conservatorio da provincia.

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