22.6.10

Eugene Onegin

Não será muito comum valer a pena assistir a um espectáculo de ópera por causa de um papel secundário cantado por um baixo. Porém, foi a sensação que me ficou ontem à noite, após o final da terceira récita de "Eugene Onegin" no Teatro de São Carlos. Trata-se de uma das mais belas obras de Tchaikovsky e não vive apenas da ária da carta de Tatiana e da ária de Lensky. No acto III, já perto do final da ópera, temos direito a um dos momentos mais inspirados do compositor: a ária do Príncipe Gremin.




Alexei Tanovitsky

Acontece que Alexei Tanovitsky, nascido em Minsk em 1976, é um baixo profundo à boa moda da escola russa, lembrando-nos também os búlgaros Ghiaurov e Christoff. A elegância do fraseado, a sonoridade, a beleza do timbre, tudo no sítio. Oxalá a nova direcção artística do TNSC não perca o número de telefone de Tanovitsky, lhe decore o nome e o convide para voltar mais vezes. Tanovitsky esteve presente no Festival ao Largo de 2009 (a versão de 2010 está aí à porta) e cantou assim:



Resta dizer que a encenação de Peter Konwitschny, pejadinha de Konzept, desvirtua a obra - nada a que não estejamos habituados - e despoja-a da atmosfera romântica que lhe é essencial. No entanto, esta produção de "Eugene Onegin", em termos musicais (o coro e a orquestra, sob a batuta de Michail Jurowski, estiveram muito bem), deve ser a que menos envergonha quem tem acompanhado a história recente do TNSC.

8 comentários:

  1. Ora ainda bem, Paulo, andava já há uns dias à procura de alguma opinião porque gosto do Eugene Onegin e porque me parecia por vários motivos que a produção não devia ser totalmente má. Já é uma felicidade ter boa direcção, côro. orquestra e solistas. Mas porque raio hão de vir uma almas tristes estragar tudo com uma encenação de nulidades pós-modernas?

    Espero conseguir ver o Onegin um dia. Obrigado pela reportagem...fico contente qque tenha valido a pena.

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  2. Mário, não há motivos para grandes alegrias. O baixo é um cantor de grande qualidade e, por ele, acho que este "Onegin" vale a pena. Mas o próprio Onegin mal se ouvia. Às primeiras notas do Príncipe Gremin vê-se logo quão desajustado está o resto do elenco.

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  3. Anónimo22.6.10

    Paulo,
    Assino por baixo tudo o que disseste.
    Finalmente um Baixo com um timbre nobilíssimo e de elegante fraseado, sendo que é ainda muito novo e...bonito :)
    Quanto à encenação não ser das piores desta temporada de tão má memória,realmente ela não acrescenta nada à imprescendível atmosfera romântica que afecta tão caracteristicamente a época e a cultura Russa oitocentista.
    Sim, também espero ver este belíssimo baixo noutros voos, como sabes, por vezes são fantásticos no reportório Russo, mas muitas das vezes não se passa o mesmo quando abordam reportório Italiano ou mesmo Alemão.

    Glória

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  4. Glória,
    Gostava de o ver cantar o Filipe II, por exemplo, tal como Ghiaurov e Christoff o fizeram. Não necessariamente já, que ele ainda é novo.

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  5. Hmm... Apetece-me tentar a récita de sexta-feira. Que tal a Tatiana e os outros cantores, suportam-se?

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  6. Gi,
    Acho que deves tentar, sim. Mais não digo.

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  7. Paulo, foi um bom serão bem passado ontem à noite, sim senhor :) em particular pelo baixo!

    Gloria, eu cá gostei muito da Tatiana. Muito superior ao que se tem visto por estas paragens nos ultimos tempos.

    A encenação é que realmente era uma porcaria.

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  8. Blogger,
    Não deixa de ser evidente um grande desnível entre os diversos cantores, da vocalidade ao estilo.

    (Não posso dizer que tenha ficado fascinado pela Tatiana.)

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