6.1.11

Separar Águas

A Helena conta-nos uma história muito interessante e comovente a propósito de uma visita ao campo de concentração de Buchenwald.
Sobrevivente: "Ah, Wagner! Sabe, no campo de concentração havia altifalantes para os soldados darem as ordens aos prisioneiros. Uma vez, esqueceram-se de desligar o altifalante, e de repente ecoou por todo o campo a abertura do Navio Fantasma". Ah, que música genial!
Quando se aperceberam do que se estava a passar, correram a desligar o altifalante. Já foram tarde: eu estava feliz, porque tinha conseguido ouvir toda a abertura, tão inesperada naquele lugar. Na altura eu era muito novo, mas já me tinha começado a interessar por ópera, já apreciava Wagner.
(...)
Ide lá ler tudo.


Entretanto, o encenador da Tetralogia do bicentenário de Wagner em Bayreuth (2013) pode vir a ser Wim Wenders.

8 comentários:

  1. Que belo título arranjaste!
    É isso mesmo. Imagino como terias gostado de ouvir a determinação com que aquele judeu dizia "e que me interessa a ideologia de Wagner?"

    Contei a história ao meu filho de 14 anos. Quando tinha 14 anos, aquele homem estava em Auschwitz. A gente conhece os factos, mas continua a ser inacreditável.

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  2. Obrigado pelo post, Helena. Pode ser que Barenboim o leia e lhe sirva de ajuda.

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  3. O que se passa com o Barenboim?

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  4. Nada, espero.
    [Ajuda na sua (dele) luta]

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  5. Se interessa para aqui uma opinião contrária:
    Quando foi do D. Pasquale, estava a falar com uma senhora que já tinha ido ao Godunov. Eu tinha ido ao Ouro do Reno e perguntei-lhe se não tinha ido a esse, que fora uma estreia inesquecível. Só então é que a senhora, de opinião diferente deste sobrevivente, explicou era judia e fujiu da Alemanha durante a guerra. Dizia que não conseguia suportar a ideologia germânica. Nem falou em Wagner. Em contra-partida, descreveu uma peça de Schönberg que passaram há dias como "lindíssima".
    O Barenboim lá tenta convencê-los do contrário, mas um trauma é um trauma...

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  6. Conheço um judeu que conseguiu escapar ao Holocausto e dedicou a sua vida a promover a paz entre os povos. Comentou comigo uma vez que este tipo de atitudes só aprofunda os fossos entre as pessoas.
    Mesmo entre os que passaram por esse horror há pessoas capazes de olhar para a frente, e de tentar evitar os erros do passado.

    E depois há o Reich-Ranicki, um rapazinho polaco residente em Berlim, que adorava a cultura alemã e foi reenviado para a Polónia, que escapou por milagre ao gueto de Varsóvia e sobreviveu porque um lavrador polaco permanentemente bêbedo não gostava do Hitler e resolveu meter-lhe um grãozinho de areia na solução final, salvando alguns judeus. Esse homem regressou à Alemanha e é um dos maiores críticos da literatura deste país.

    Não tem de ser sempre ódio e recusa. Há entre os sobreviventes muitos que conseguiram ultrapassar o trauma, e separar as águas. Mas é claro que não me passa pela cabeça obrigar algum dos traumatizados a ouvir Wagner. Só gostaria que eles não fizessem pressão para banir Wagner das agendas culturais.

    Esta discussão lembra-me uma outra, um pouco semelhante: como usar as aquisições científicas feitas à custa das vítimas dos nazis?

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  7. Pensando bem...
    "ultrapassar o trauma": que grande disparate.
    "Trauma" é uma palavra ridícula para falar do que muitas dessas pessoas carregam consigo. Perante o horror do Holocausto, mais vale mesmo ficar calada, em vez de andar aqui com opiniões de sofá. E se for preciso esperar cem anos até que Wagner possa ser tocado em Israel, pois que se espere cem anos.
    Talvez só mesmo alguém como o André Weiss, esse que aos 15 anos estava a ser transportado de Auschwitz para Buchenwald, tenha o direito de falar sobre isto e dizer que é possível separar as águas.
    Eu não.

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  8. Histórias (belas) da música!

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