Para que não haja confusões, já que a costa turca fica logo ali ao lado; e porque desde que Páris amou a bela Helena de Esparta que gregos e troianos não se podem ver.
Anne Sofie von Otter: Oh del mio dolce ardor, de "Paride ed Elena", de Gluck
(margotlorena)Oh, del mio dolce ardor bramato oggetto,
L'aura che tu respiri, alfin respiro.
Ovunque il guardo io giro,
Le tue vaghe sembianze
Amore in me dipinge:
Il mio pensier si finge
Le più liete speranze;
E nel desio che così m'empie il petto
Cerco te, chiamo te, spero e sospiro.
Helena estava mesmo a pensar que os seus dias eram todos iguais quando o barco aportou. Páris subiu pelas ruas estreitas até ao palácio. Sabia que no interior daqueles muros vivia a mais bela de todas as mulheres. Afrodite tinha-lho prometido e as deusas não mentem.
Páris não era um homem que se deitasse fora. As sandálias de simples tirinhas de couro mostravam um par de pés bem desenhados, alvos como marfim, sobre os quais pousavam duas pernas delicadamente esculpidas. Os seus braços seguravam a lira com a mesma firmeza com que pegava no arco e os seus dedos eram tão atenciosos para com as cordas que tangia como para com o fio que puxava quando disparava uma flecha certeira. E aqueles caracoizinhos loiros? Não, eram irresistíveis. Helena tinha de partir e mandar o aborrecido Menelaus ver se chovia. Não havia de vir mal ao Mundo se mais um marido fosse abandonado e trocado por outro. Enfim, talvez uma guerrita que durasse uns dez anos, ou coisa assim.
Foi só o tempo de pôr umas túnicas na trouxa, mais umas fitas para o cabelo, e, quando a noite ia a meio e os homens dormiam embalados pelo retzina, partiram ambos, levados pela brisa do Egeu.
Páris não era um homem que se deitasse fora. As sandálias de simples tirinhas de couro mostravam um par de pés bem desenhados, alvos como marfim, sobre os quais pousavam duas pernas delicadamente esculpidas. Os seus braços seguravam a lira com a mesma firmeza com que pegava no arco e os seus dedos eram tão atenciosos para com as cordas que tangia como para com o fio que puxava quando disparava uma flecha certeira. E aqueles caracoizinhos loiros? Não, eram irresistíveis. Helena tinha de partir e mandar o aborrecido Menelaus ver se chovia. Não havia de vir mal ao Mundo se mais um marido fosse abandonado e trocado por outro. Enfim, talvez uma guerrita que durasse uns dez anos, ou coisa assim.
Foi só o tempo de pôr umas túnicas na trouxa, mais umas fitas para o cabelo, e, quando a noite ia a meio e os homens dormiam embalados pelo retzina, partiram ambos, levados pela brisa do Egeu.
A descrição de Páris é quase erótica, soft, claro: gostaria de o ter conhecido...
ResponderEliminarMas essa sorte calhou à bela Helena.
ResponderEliminarHola, Paulo! Me alegro que hayas tenido unas bonitas vacaciones y que ya estés de vuelta para publicar tus posts tan interesantes. Eres un poeta...
ResponderEliminarSaludos!
:D
ResponderEliminarÉ claro que foi um homem que contou essa história. É muito mais fácil atirar as culpas da guerra à volubilidade de uma mulher :P
Já reparaste como estes filmes tornam fácil 'ler' música?! Não é a mesma coisa que ler, claro, mas dá uma ideia de como funciona.
Vou-te roubar uma coisa, (código de player) se daqui uns tempos aparecer por aí uma imitação barata não fiques chateado ;)
Ora aqui está uma prosa airosa e eficaz para explicar e enquadrar uma paixão abençoada pelos deuses. Gostei da descrição das sandálias. E a partida, entre o poético e o etílico, passando pelo prático, é bastante cinemática. Estás-me sempre a surpreender...
ResponderEliminarJardineira, o autor não o escreveu aqui, mas podemos subentender que a culpa é de ambos. Num prólogo inexistente, Páris meditava sobre o mau feitio de Menelaus e as consequências que um eventual rapto de Helena poderiam ter. Contudo, Eros, esse maroto, disparou as suas setas sem falhar a pontaria e o coração falou mais alto que a razão.
ResponderEliminarHá muuuitos anos, uma amiga minha estudava música e tocava clarinete. Tinha uma irmã pequenita que olhava para as pautas e "lia" histórias que ela própria inventava.
Depois explicas-me o roubo. Não ficarei nada chateado. Absolutamente.
Cigarra, se quiseres realizar o filme o autor cede-te os direitos. Mas terás de fazer o devido enfoque ao aspecto etílico e às sandálias. Condição suprema: o autor reserva-se o direito de acompanhar as filmagens in loco e de participar na escolha do casting.
ResponderEliminarClassic Musica, obrigado pela visita e pelos comentários. Poeta, jo?
ResponderEliminarEros é um excelente culpado ;) (eu queria escrever 'atribuir as culpas', desculpa as calinadas)
ResponderEliminarO roubo não tem nada de especial, é que ainda não encontrei um 'player' com as características desejadas e queria experimentar o teu.
Concordo com a/o Classic musica, eres un poeta, si!
Paulo acho que és mesmo um poeta!
ResponderEliminarOs cachos e as sandálias eram apenas alguns dos detalhes que tornavam Paris irresistível.
Helena sempre soube de Paris, que atravessaria o mar e a encontraria, o que tornava suportável a espera dos dias todos iguais, e por saber que viria hesitou aceitar maridos velhos, mas a quiseram tanto.
Ninguém como Eros e suas flechas e nada como o amor para dar cores especiais aos dias que haveriam de vir ...
O problema foi o pomo da discórdia, mas a vingança pelo rapto de Helena foi apenas um motivo para a conquista dos tesouros de Tróia, como nas guerras atuais.
Se precisar de ajuda no roteiro peça a Eros, o melhor indicado para ajudá-lo, mas não deixe de lado: Afrodite, Atenas, e Hera.
Os detalhes que tornaram Paris irresistível não precisam ser repetidos, e depois de amar Paris mesmo os dias sem cores foram repletos de cor!
Helena
Paulo, a primeira vez que vi este post o texto ainda não estava cá - gosto muito!
ResponderEliminarSim, se houver filme, acho o casting fundamental. Só duvido da palidez de Páris, já que naquela época se vivia muito ao ar livre.
Gi, parece, de facto, que David idealizou um Páris caseiro, pouco dado a apanhar sol, bem diferente do que nós imaginamos.
ResponderEliminarHelena, tocou num ponto fundamental. Que argumentos se utilizam para fazer uma guerra? Que argumentos se utilizam para condenar as guerras dos outros? Lembrou-me o que li há uns dias no Arrastão.
Muito bonita a versão da Von Otter... mas acho que prefiro a Kozena...
ResponderEliminarClaro que também gosto da versão da Kozená, Moura. Deve lembrar-se, como eu, do concerto no CCB, mas tenho esta paixão pela Von Otter.
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